Além da guitarra e da pedaleira, Catatau levou uma bateria eletrônica para fazer a base rítmica. A partir da escolha de uma batida reta em loop constante, sem quebras de andamento, Catatau improvisava uma base harmônica na guitarra, dando margem aos contornos melódicos propostos pelo trompete de Guizado. Aí, então, "sustos" de parte a parte, como definiu o trompetista, iam determinando os rumos das composições instantâneas.
A primeira, que na edição serviu para o encerramento do programa, saiu lenta, arrastada, quase fúnebre. Com notas dispersas por uma mão direita hesitante, a guitarra de Catatau a empurrava para viagens psicodélico-progressivas, enquanto o trompete trafegava pelas dissonâncias do jazz. Um tema próprio a desencontros.
Para o segundo número, Guizado pediu um batida mais acelerada. Escolhido um beat que remetia à música caribenha, imediatamente Catatau improvisou um riff que estruturou a primeira parte. Enquanto Guizado decifrava a sequência harmônica, o guitarrista criou uma segunda parte. Antes de começar a tocar pra valer, perguntou se Guizado poderia acompanhá-lo naquela variação. Permissão concedida, o resultado foi esse:
A música que abre o programa foi a terceira e última da sessão - um blues-rock com riff desenhado em uma sequência de acordes maiores. Reprocessado por pedais de efeito, o trompete soa como guitarra solo. É a música em que os dois estão mais soltos e arriscam maiores desvios do curso estabelecido no começo.
No fim, ouvindo as três músicas, nota-se que nenhuma delas remete diretamente ao som que Catatau e Guizado fazem quando acompanhados por suas respectivas bandas, que aliás, têm dois integrantes em comum - o guitarrista Régis Damasceno e o baixista Rian Batista. Catatau tem se apresentado com uma formação instrumental em um projeto paralelo ao Cidadão Instigado, então, não será estranho que Guizado junte-se a ele qualquer hora dessas para uma participação. Porém, a combinação de guitarra, trompete e beats eletrônicos dificilmente se repetirá.