quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Catatau e Guizado, breve crônica de um encontro

Nada de ensaio, nem mesmo um telefonema para alguma combinação prévia. Fernando Catatau e Guilherme Mendonça a.k.a Guizado chegaram sem nenhum número preparado para o encontro proposto pelo Pelas Tabelas em uma tarde quente de abril no Zé Presidente. As três músicas resultantes do encontro, vistas parcialmente na edição do programa, nasceram do improviso. Aqui, recordo parte das cenas que presenciamos, ainda que sons e imagens falem por si.

Além da guitarra e da pedaleira, Catatau levou uma bateria eletrônica para fazer a base rítmica. A partir da escolha de uma batida reta em loop constante, sem quebras de andamento, Catatau improvisava uma base harmônica na guitarra, dando margem aos contornos melódicos propostos pelo trompete de Guizado. Aí, então, "sustos" de parte a parte, como definiu o trompetista, iam determinando os rumos das composições instantâneas.

A primeira, que na edição serviu para o encerramento do programa, saiu lenta, arrastada, quase fúnebre. Com notas dispersas por uma mão direita hesitante, a guitarra de Catatau a empurrava para viagens psicodélico-progressivas, enquanto o trompete trafegava pelas dissonâncias do jazz. Um tema próprio a desencontros.

Para o segundo número, Guizado pediu um batida mais acelerada. Escolhido um beat que remetia à música caribenha, imediatamente Catatau improvisou um riff que estruturou a primeira parte. Enquanto Guizado decifrava a sequência harmônica, o guitarrista criou uma segunda parte. Antes de começar a tocar pra valer, perguntou se Guizado poderia acompanhá-lo naquela variação. Permissão concedida, o resultado foi esse:



A música que abre o programa foi a terceira e última da sessão - um blues-rock com riff desenhado em uma sequência de acordes maiores. Reprocessado por pedais de efeito, o trompete soa como guitarra solo. É a música em que os dois estão mais soltos e arriscam maiores desvios do curso estabelecido no começo.

No fim, ouvindo as três músicas, nota-se que nenhuma delas remete diretamente ao som que Catatau e Guizado fazem quando acompanhados por suas respectivas bandas, que aliás, têm dois integrantes em comum - o guitarrista Régis Damasceno e o baixista Rian Batista. Catatau tem se apresentado com uma formação instrumental em um projeto paralelo ao Cidadão Instigado, então, não será estranho que Guizado junte-se a ele qualquer hora dessas para uma participação. Porém, a combinação de guitarra, trompete e beats eletrônicos dificilmente se repetirá.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Moraes X Jornalista - Novos Baianos ainda causam polêmica

Havia desistido da Trip por total falta de interesse em suas pautas, mas comprei a edição atualmente nas bancas por causa da capa com os Novos Baianos. Ao folhear a matéria, de cara me senti enganado. Uma reunião da banda sem a participação de Moraes Moreira e Pepeu Gomes pode ter lá seu valor histórico, mas o uso do nome Novos Baianos para divulgá-la constitui uma fraude. De antemão eu sabia que a assinatura de Pedro Alexandre Sanches era a garantia de que algum veneno seria destilado naquelas páginas e me pus a lê-las. Ao final da leitura, confirmei minha expectativa: texto descartável e irrelevante. Mas eis que a reportagem ganhou inesperada sobrevida na internet devido a uma carta-resposta assinada pelo próprio Moraes.

Você pode acompanhar a polêmica aqui. Motivado pelo conjunto da obra, com direito a tréplica do injustiçado jornalista, fiz o seguinte comentário na seção destinada a opinião dos leitores:

A reportagem em si nada traz de novidade, até porque os Novos Baianos há muito tempo não têm nada de novo pra contar. Quem quiser conhecer a fundo esta história que recorra diretamente à fonte através do livro Anos 70: Novos e Baianos, escrito por Galvão e publicado pela Ed. 34, hoje disponível apenas nos melhores sebos do Brasil. O único mérito do texto foi ter suscitado este revelador debate entre o artista (Moraes) e os seus algozes da mídia (no caso, Pedro Alexandre).

Para se ter uma ideia, o vídeo da TV Trip se presta perfeitamente ao papel de equivalente audiovisual da reportagem: você já viu e leu isso antes muitas e muitas vezes - porém em versões bem melhores.



De um lado, o velho baiano deu um longo depoimento muito mais revelador do que teriam sido uma ou duas aspas soltas no corpo da matéria, caso ele tivesse comparecido ao encontro, sobre o estado atual das relações entre os antigos companheiros. Do outro, escancara a mediocridade - salvo raras exceções - do jornalismo cultural brasileiro baseado em um certo padrão sempre em voga lá pelos lados da Alameda Barão de Limeira, sede da Folha de São Paulo. A saber, o de criar polêmicas artificiais de baixo valor cultural e/ou informativo tratando-as como se fossem furos de reportagem.

Não é de se estranhar, afinal, PAS deve muito - se não todo - do seu prestígio à referida empresa (a qual hoje critica por entender que as denúncias de corrupção no seio do governo federal da cobertura política da campanha presidencial baseiam-se em factóides contra a sua virtualmente eleita candidata, expediente que ele volta e meia usa, como no caso em questão, para apimentar os textos que assina). Certamente não foram seus dois livros sobre as obras de Roberto Carlos (Como Dois e Dois são Cinco), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Paulinho da Viola e Jorge Ben (Tropicalismo: A decadência bonita do samba) que lhe conferem o status que hoje goza para dizer-se "free-lancer", ou seja, em tradução livre na cartilha do "óbvio-lulante", liberto dos grilhões dos grandes conglomerados de mídia. Ambas as obras não passam de análises pré-concebidas das carreiras dos respectivos compositores a partir de interpretações superficiais e arbitrárias das letras de suas canções.

É engraçado que este padrão Folha de jornalismo, que PAS hoje tanto critica, me pareça bastante similar àquele que ele costumava praticar quando era titular da Ilustrada e não perdia oportunidade para se envolver em polêmicas com o então "ultrapassado" e "careta" Caetano Veloso. (Quem sabe, PAS não tenha algum mérito na guinada elétrica deste outro compositor baiano com quem adorava se indispor?)

Fazer-se de vítima das circunstâncias para assumir-se como personagem de textos jornalísticos de outro modo desprovidos de valor é a sua especialidade. E não é de hoje, não. É assim desde os tempos bicudos (e tucanos) do governo FHC. Porém, ao contrário de seus grandes ídolos da esquerda brasileira, sua notoriedade passa ao largo das grandes massas. Restringe-se aos diretores de redação e aos donos de jornais e revistas, o que, no restrito universo do jornalismo brasileiro, não chega a ser nada mal.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Cd do Sonantes sairá no Brasil via Oi Música

É estranho pensar que em tempos de mp3 o lançamento físico de um disco no mercado ainda seja um fato importante. Vejamos, pois, o caso do Sonantes, projeto coletivo idealizado por Céu, Pupillo, Dengue, e os irmãos Rica e Gui Amabis, que contou com participações de nomes não menos eminentes, tais como Fernando Catatau, Lucio Maia, Siba e Beto Villares.

O laboratório de criação da turma se ativou após a reunião para gravação de duas faixas, "Doce Guia", para o disco Na Confraria das Sedutoras, do 3naMassa, e "Frevo da Saudade", para a coletânea Frevo do Mundo. Sem um compromisso definido a não ser o de fazer um som, eles acabaram concebendo um disco inteiro, lançado em 2008 somente no exterior, pela Six Degrees Records. E aquele que certamente foi um dos melhores discos produzidos no Brasil naquela ocasião acabou passando quase em branco por aqui. Falou-se nele apenas aqui e acolá. A bem da verdade, o G1 e a Rolling Stone Brasil chegaram a noticiá-lo antes do lançamento. Depois, nada. Inclusive, não figurou na lista de melhores daquele ano eleitos pela revista. Ausência que chegou a ser comentada na sessão destinada às opiniões dos leitores.

E por quê? Arrisco uma opinião, ainda que sem qualquer base empírica. O disco não foi lançado fisicamente e por conseqüência não chegou às redações, às mãos dos ditos formadores de opinião. Talvez tenha sido tema de uma ou outra reunião de pauta, mas acabou na gaveta por questões de "mercado", fundamentalmente a falta de uma assessoria de imprensa para divulgar a obra e cavar espaços na mídia.

Conclusão: no Brasil o suporte físico ainda é fundamental e o vácuo mercadológico de um não-lançamento oficial - ainda que as faixas estejam desde então circulando livremente no território da pirataria autorizada - é uma razão forte para tanto.

É de se ressaltar também que o cd não fora lançado aqui à mesma época que saiu lá fora porque os músicos envolvidos não conseguiram um contrato que os satisfizesse. Ponto para o selo Oi Música, que vai desengavetar o disco para lançá-lo em terras brasileiras. Dois (ou três) anos depois, poderá ser descoberto pela mídia oficial com sabor de novidade. Só a faixa de abertura, com Céu no vocal à frente dos integrantes da Nação em uma versão de "Carimbó", gravada originalmente pela banda pernambucana em Rádio S.A.M.B.A, já faz dele um clássico.


Lamenta-se apenas que a iniciativa não sirva de ensejo para uma reunião dos músicos envolvidos no intuito de levar o disco aos palcos. Por enquanto não há planos nesse sentido. Quem sabe depois de uma turnê pelo exterior?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O adeus de Pindzim e a continuação

Este blog começou com a encarnação de um personagem que era um avatar inspirado no grande Pixinguinha. Se apresentava da seguinte forma: "estou morto, mas a música me faz onipresente". E eis que nestes últimos meses (leia-se: desde o começo deste ano) foi justamente a música que praticamente sepultou meu personagem fictício. Nascido como subterfúgio para que eu pudesse exercer a crítica sem revelar minha real identidade, o bom mas não tão velho Pindzim parece ter perdido o sentido que lhe garantia a existência.

Desde meados de 2008, ao lado do parceiro Pablo Francischelli, desenvolvi um projeto audiovisual para levar à televisão os novos compositores da música brasileira. Em julho daquele ano gravamos um piloto com Edu Krieger e Rodrigo Maranhão que garantiu uma primeira temporada com 13 episódios. Nascia o Pelas Tabelas.

Neste ano levamos a cabo a segunda temporada. Ao contrário da primeira, a curadoria ficou totalmente sob nossa responsabilidade. Nosso foco foi a cena paulistana, com 8 dos 13 programas tendo sido gravados lá. Construímos uma obra e obtivemos algum (bom) reconhecimento. Ao fim e ao cabo, foram 26 programas em que retratamos 58 compositores da brilhante geração atual da música brasileira. E, alvíssaras, rendeu frutos para esta geração em termos de difusão audiovisual, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, vide o Compacto, patrocinado pela Petrobrás, e os micro-documentários do Natura Musical.

Nesse meio tempo, pequenos trabalhos relacionados à música surgiram, como a série de vídeos com Yamandu Costa e Guto Wirtti e o vídeo-release do segundo disco de Edu Kriegere o blog foi ficando de lado, relegado às poucas horas vagas. O mesmo aconteceu com a Tuba do Pindzim, hoje ameaçada de extinção por duas denuncias de violação de direitos autorais, ambas por parte da Sony Music. A primeira, em razão de um vídeo da cantora Ana Cañas; a segunda, um registro do primeiro show solo de Marcelo Camelo em Juiz de Fora. E assim a motivação para atualizá-la se perdeu. Restam vídeos inéditos, mas não sei se os colocarei no ar.

É como se os tempos de amadorismo apaixonado tenham ficado pra trás. Com o Pelas Tabelas, minha persona real acabou aparecendo e o personagem perdeu o sentido. Levo na bagagem o seu legado, Pindzim, e não apagarei o seu nome. Que continue sendo a marca deste blog e uma lembrança permanente, como a música que o fez (ou faz) onipresente.

Os próximos passos serão fazer uma reformulação geral no visual do blog para aos poucos ir retomando os textos críticos e especialmente os informativos, enquanto eu e Pablo vamos tocando nossos novos projetos audiovisuais.

Este é o último texto assinado sob a alcunha de Pindzim. Em seguida, quem assume sou eu mesmo, em carne e osso: Caio Jobim. Sejam benvindos!

Agô!

sábado, 13 de março de 2010

A 2ª temporada do Pelas Tabelas


Tamanha ausência sem qualquer tipo de satisfação aos meus parcos leitores vai contra as regras fundamentais que me dariam alguma chance de mantê-los fiéis. Há mais de um mês, quem passa por aqui não encontra nada de novo, além da notícia velha do primeiro clip do novo disco de Cibelle, embora ainda na primeira página encontrem-se reportagens aprofundadas sobre dois lançamentos previstos para este ano sobre os quais ainda não li nada por aí, seja na grande mídia ou na internet: o segundo disco de Rodrigo Maranhão e o projeto que unirá Siba e Fernando Catatau. Não que valham como justificativa para o vazio que aqui se instalou. Este tem outro motivo.

Explico: a última postagem data da primeira semana de produção da segunda temporada do Pelas Tabelas, programa do qual sou responsável, junto com o parceiro Pablo Francischelli, pela direção, roteiro, edição, e tudo o mais que for necessário. Não havia divulgado nada a respeito do 2º ano da série pois estava esperando que a lista dos participantes estivesse 100% fechada. A esta altura estamos com quatro programas gravados, três deles já editados, mas o elenco de compositores não está totalmente definido. Se há entre os leitores deste espaço quem me acompanhe no Twitter, já estará sabendo de algumas novidades.

Por enquanto, do total de 13 programas temos 11 confirmados. Os dois últimos dependem de negociações complicadas que estão em andamento. A ânsia por divulgar a nova escalação é enorme, então, em postagens futuras que prometo para muito em breve, adiantarei algo do que já rolou e do que está para rolar. Quando a lista estiver completa, vocês a encontrarão aqui em primeira mão.

Enquanto isso, informo que a segunda temporada do Pelas Tabelas estreia no dia 14 de maio, sexta-feira, às 21h, no Canal Brasil. Agora temos uma página exclusiva na Globo.com onde podem ser vistos trechos de todos os programas da temporada inicial.

Por outra, não posso garantir que a temática deste espaço nos próximos meses vá muito além do programa, porém, há uma reportagem inédita e, pelo menos até então, praticamente exclusiva, cuja entrevista já foi feita, que está aguardando uma brecha no cronograma de produção para que eu possa deitá-la na tela como ela merece. É, ainda, sobre um dos excelentes frutos da safra 2009, que não teve a repercussão merecida. Trata-se de uma peça híbrida que mistura tradições africanas reprocessadas pelo filtro da nova geração de produtores brasileiros.

Neste ínterim, eu e Pablo também produzimos e gravamos uma sessão em que Yamandu Costa e Guto Wirtti apresentam sete das 11 músicas que estarão presentes no disco que os une em um duo de violão de 7 cordas e baixo, cujo lançamento acontece até o fim deste ano. Logo, logo poderá ser vista na internet. Ou seja, ninguém perde por esperar. 2010 começou bombando.

Aquele abraço e até breve!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Uma do próximo disco de Cibelle

O disco novo de Cibelle está prometido para a primavera do hemisfério norte. Se chamará Las Venus Resort Palace Hotel. Abaixo, uma pequena amostra do que a gravadora (Crammed Discs) classifica como "uma obra prima selvagem e exótica". Os gringos parecem não estar enganados.

Cibelle in: 'Lightworks' from Crammed Discs on Vimeo.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Roque Ferreira por Roberta Sá e Trio Madeira Brasil

Quando o canto é reza, o santo é Roque Ferreira. Nas terças-feiras de janeiro do Centro Cultural Carioca, a cantora Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil têm sido seus súditos fiéis - no dia 2, acontece a última apresentação da temporada. E desta combinação - as músicas de Roque, com interpretação de Roberta e arranjos de Zé Paulo Becker e Marcello Gonçalves - resulta o primeiro grande espetáculo musical do ano de 2010. E trata-se apenas de um ensaio aberto utilizado para a preparação do repertório que será registrado em disco até o final deste ano, com direito a eventuais erros, mas o que sobressai são primordialmente os acertos.

No palco, o conjunto desfia os primeiros acordes e silencia para, do fundo da casa, surgir Roberta Sá entoando versos de devoção religiosa em que toda fé se deposita não em deuses inatingíveis ou em entidades da cultura afro-brasileira, mas sim no vasto repertório inédito do baiano Roque Ferreira. Lembrado recentemente pelas músicas gravadas por Maria Bethânia em seus dois últimos discos, o compositor lançado por Clara Nunes no fim dos anos 70 - com a música "Apenas um Adeus", no disco Esperança (1979) - parece finalmente receber a merecida atenção, tendo um disco dedicado exclusivamente à sua obra. Muito embora tenha lançado um excelente, porém pouco conhecido, disco solo, Tem Samba no Mar, em 2005.

Seus sambas - de roda, de capoeira, cariocas -, chulas, ijexás, cocos, toadas e galopes fazem um inventário da musicalidade popular da Bahia ofuscada pela força mercadológica do axé com suas cantoras turbinadas. E é, ainda, como Roberta fez questão de ressaltar, uma obra em progresso - "Roque está sempre mandando músicas novas pra gente", contou -, fonte abundante de clássicos latentes, pedindo vozes que os façam vicejar.

Samba Novo
Esta história começa em 2006, quando Roberta Sá foi convidada por Rodrigo Maranhão para participar de uma coletânea de samba que ele produzia para a Som Livre. A procura de uma música para gravar, Roberta entrou em contato com o universo de Roque e escolheu "Afefé". Para registrá-la, uniu-se ao Trio Madeira Brasil. Daquela experiência, surgiu a vontade de fazer um trabalho dedicado ao repertório de Roque.

Em seu segundo disco, Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria (2007), Roberta gravou "Laranjeira", mas foi em outubro daquele ano que o projeto começou a tomar forma. Convidados a participar do Circuito Original, Roberta e o Trio Madeira Brasil fizeram um show no Trapiche da Gamboa, zona portuária do Rio, em que músicas dos dois discos da cantora, clássicos do samba e algumas canções de Roque se misturaram dando início ao projeto que agora se realiza. "Zumbiapungo", parceria do baiano com Zé Paulo Becker, um dos integrantes do trio, que encerra a atual apresentação antes da volta para o bis, foi uma das canções apresentadas na ocasião.



Naquela oportunidade, Roberta cantou "Afefé", que no show da última terça foi pedida pela platéia no bis, sugestão rejeitada por Roberta, sob a justificativa de que não estava ensaiada. Na época, registrei a canção em um vídeo que ficou tecnicamente imperfeito - eram minhas primeiras experiências com uma nova câmera e tive dificuldades com o foco. Optei por mantê-lo inédito até agora. Aí está para a posteridade:



Sobre o futuro disco, não há dúvida de que representará o salto definitivo de Roberta Sá, de mais uma em meio a um conjunto de boas cantoras em busca de identidade, para a afirmação como uma das divas de sua geração, posto que lhe cai bem, dada uma certa afetação que demonstra no palco e o público fiel que vem conquistando desde que se lançou como cantora após uma tímida participação no extinto programa "Fama", suposta fábrica de talentos musicais da Globo, do qual, por vias completamente tortas, tornou-se a única a realmente vingar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O carnaval de Lucas Santtana e do Baiana System

Encontrei Lucas Santtana depois do show da Céu no Circo Voador, sábado retrasado, e ele contou que vai comandar um trio elétrico no carnaval de Salvador. Ontem, no Twitter, ele liberou uma música que antecipa o clima da folia. Com batida eletrônica acelerada, solos que emulam a guitarra baiana de Dodô e Osmar e letra que exalta os foliões, "Carnaval quem é que faz?" é uma composição do Lucas que está no primeiro disco do Baiana System. Trata-se do novo projeto de Roberto Barreto - guitarrista do Lampirônicos - cuja proposta é "divulgar e explorar novas possibilidades sonoras da guitarra baiana".

Sem formato definido, ao vivo a banda pode assumir formações variadas. "A idéia principal é que a guitarra baiana interaja num formato de live P.A. com um DJ que assuma as bases sampleadas e/ou tocadas, fazendo inserções de sons e efeitos com liberdade de improvisos. Utilizando-se de recursos como camadas, efeitos e loops, numa concepção que também se inspira na liberdade e psicodelia do Dub".

Tal configuração faz uma ponte entre o carnaval baiano e os sistemas de som jamaicanos. "Pensar o principal meio de divulgação e consolidação da Guitarra Baiana (o trio elétrico) como um tipo especial de Sound System (divulgador do Dub), permite uma nova forma de utilizá-la, explorando mais suas possibilidades de timbragem e a interação com a produção das bases rítmicas, onde a linguagem e a filosofia das “colagens”, do re – criar a partir do existente, se tornam o desafio do Baiana System."



Antes do carnaval, Lucas se apresenta em São Paulo, no Studio SP. É sábado que vem, 30 de janeiro.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Marcelo Camelo em estúdio

Até maio, Marcelo Camelo dedica-se exclusivamente à produção e à gravação de seu segundo disco solo. Firme em terras paulistanas, o outrora hermano tem agora um novo (e grande) escritório de produção a lhe dar suporte - a Agência Produtora -, o mesmo que cuida da carreira de Mallu Magalhães.

Provavelmente, shows só no segundo semestre. Sobre o DVD gravado em abril do ano passado no Teatro Castro Alves, em Salvador, e o prometido filme sobre a realização de Sou (2008), silêncio total. Assim como deve correr em segredo tudo o que cerca o novo trabalho.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os 10 Melhores Discos de 2009

1. Vagarosa - Céu

Ritmo e melodia em perfeita harmonia com uma lírica inspirada pela beleza presente nas coisas simples e corriqueiras. Quando o futuro se faz presente incorporando também o passado, a música brasileira de domínio público encontra o século 21.

A todo volume: Bubuia / Cordão da Insônia / Cangote / Comadi

2. Violas de Bronze - Siba e Roberto Corrêa

A tradição da cantoria, reprocessada por Siba, encontra-se e funde-se com as modas de viola peculiares de Roberto Corrêa. Juntos, munidos de violas e rabeca, os dois passeiam por veredas nunca antes exploradas.

A todo volume: Casa de Reza / Nos Gerais

3. São Mateus não é um Lugar Tão Longe Assim - Rodrigo Campos

Nos fim de uma década marcada pela onipresença do samba, na qual os pastiches prevaleceram sobre a originialidade, um paulista surgiu para realmente trazer um sopro de novidade ao mais carioca de todos os gêneros. Suas crônicas da vida na periferia, de lírica pesada e acabamento delicado, soam como se os Racionais se encontrassem com Paulinho da Viola para levar um som.

A todo volume: California Azul / Mangue e Fogo

4. Uhuuu! - Cidadão Instigado

Cada vez mais, Catatau coloca a sua poesia a serviço de uma musicalidade que vai muito além de tentativas de categorização pré-existentes. Nesse disco, as neuroses do cidadão extrapolam questões regionais e locais para ilustrar a paranoia universal.

A todo volume: Homem Velho / Deus é uma Viagem

5. Imã - +2

Nesta trilha para o balé do grupo Corpo, o trio dilui as identidades que se impunham nos três discos anteriores e alcançam a síntese de sua musicalidade e vão além de qualquer fronteira definível.

A todo volume: Sol a Pino / Você Reclama

6. No Chão sem o Chão - Romulo Fróes

Retrato nu e cru de um artista em crise de identidade expondo todas as suas qualidades e os seus defeitos, sem pudores.

A todo volume: O Que Todo Mundo Quer/Ninguém Liga / Caia na Risada

7. Sweet Jardim - Tiê

A melancolia da chanson francesa encontra tradução na língua portuguesa, deixando-se contaminar pelas sutilezas da música brasileira, passando ao largo de suas referências mais óbvias.

A todo volume: Chá Verde / Passarinho

8. Dois Cordões - Alessandra Leão

Três guitarras trançando a rede harmônica sobre a qual Alessandra faz ecoar suas melodias balouçantes com sua voz ao mesmo tempo potente e acolhedora.

A todo volume: Boa Hora / Trancelim

9. Sem Nostalgia - Lucas Santtana

Em termos semânticos, "Sem Nostalgia" é equivalente a "Chega de Saudade". Lucas Santtana fez o Chega de Saudade da geração nascida na primeira década do século 21. O formato voz e violão nunca mais será o mesmo. Ao menos pelos próximos 40 anos.

A todo volume: Cira, Regina e Nana / Cá pra Nós

10. Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos - Otto

Uma alma atormentada faz a trilha solora de um grande amor despedaçado na era das celebridades instantâneas e do fim da privacidade.

A todo volume: Crua / O Leite