quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pelas Tabelas: Yamandu e a música de fronteira


Yamandu não gosta de tocar durante uma entrevista. Entre uma resposta e outra os dedos esfriam, reclama, e as suas interpretações são sempre quentes. Pode ser uma valsa chorona, de andamento moderado, como "Aurora", parceria com Hamilton de Holanda em homenagem às suas avós, que por coincidência ostentam o mesmo nome, ou uma música de tradição fronteiriça, alternando-se entre o galope e a contemplação, como a inédita "Sarará", que ele pede que seja utilizada na íntegra na edição do programa. Yamandu está entusiasmado com a nova canção. "Precisa fazer uma letra pra ela, depois", fala para si mesmo antes de cantarolar improvisando alguns versos tendo como inspiração um cavalo baio.

Todo o sentimento que coloca quando toca o violão, Yamandu deixa vazar também quando está à vontade para falar. Naquela noite do princípio de abril, em um bolicho improvisado às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, nós o recebemos com um chimarrão e grandes expectativas. Confortável naquele ambiente, soltou as rédeas da memória remontando as lições caseiras da infância tomadas no convívio com o seu pai, integrante do grupo nativista Os Fronteiriços, primeiro e definitivo mestre, sem esquecer dos que veio a conhecer depois, como o maestro argentino Lucio Yanel, com quem gravou o seu primeiro disco, e o grande Baden Powell, a quem teve a oportunidade de conhecer ao ser convidado a fazer abertura de um show do criador dos afro-sambas em Porto Alegre, quando ainda morava na capital gaúcha.

A grande revelação da entrevista soou um pouco estranha. Yamandu diz estar em um momento da carreira de retorno às origens musicais dentro das quais foi criado. Surpreendeu-nos ao afirmar peremptoriamente que o seu "interesse em música" estava na "música de fronteira" dos pampas, praticada de um lado e de outro das margens do Rio da Prata e de nacionalidade indefinida. É o que ele chama de cultura doble chapa, a um só tempo portuguesa e castelhana.

Em seu último disco de estúdio, Lida (2007), o compositor e violonista já se debruçava sobre a musicalidade e os temas deste universo. Porém, depois do lançamento do disco, vieram os shows em duo com Hamilton de Holanda, que foram gravados mas ainda estão inéditos em disco, e a criação de uma peça orquestral, em parceria com Paulo Aragão, apresentada no final do ano passado ao lado da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Conforme aprendera nas lições semanais do pai, comprovou em sua trajetória que só há dois tipos de música: música boa e música ruim. Na dúvida, temendo estabelecer limites para a sua arte, optamos por deixar de fora a declaração que aqui se pode revelar: o garoto de Passo Fundo, que descobriu o mundo através da música, agora busca mergulhar nas raízes musicais dos pampas para reinterpretá-las através das sete cordas do seu violão. Talvez trate-se de uma direção ocasional em sua trajetória enquanto compositor, pois não é razoável supor que o músico deixará de transitar livremente pelos estilos que lhe aprazem. Isso está claro, sem que Yamandu precise dizer qualquer palavra, basta ouvi-lo dedilhar as cordas do seu violão.

Além disso, como recordou, foi como solista de choro que ele primeiro se destacou, especialmente com sua versão de "Brejeiro", de Ernesto Nazareth, no Prêmio Visa. No Rio, aproximou-se com o movimento de renovação da Lapa a partir das rodas de choro comandadas pelo violonista Zé Paulo Becker.

O certo é que, pouco tempo depois das gravações do programa, Yamandu entrou em estúdio com a sua mãe, Clari Marson, para gravar um disco sobre o qual o rótulo de regionalista caíria muito bem. É este artista imprevisível, tal qual o seu estilo ao tocar o violão, que está retratado no Pelas Tabelas que vai ao ar nesta sexta-feira, às 21h, no Canal Brasil, com reprise no domingo, ao meio-dia. Seu companheiro no programa é o bandolinista Hamilton de Holanda

terça-feira, 28 de julho de 2009

CéU anuncia datas da turnê de Vagarosa no Brasil

De volta ao Brasil depois dos shows de lançamento de Vagarosa nos Estados Unidos, CéU divulga em sua página no Myspace as datas de sua primeira turnê brasileira. Embora tenha tocado em grande parte das cidades pela qual o show passará neste segundo semestre, nunca o fez em um pequeno espaço de tempo como agora.

A estreia acontece no dia 27 de agosto em Porto Alegre, no Bar Opinião. Em São Paulo serão três noites no Auditório do Ibirapuera, com a participação de convidados, como a cantora e compositora Anelis Assumpção. Realização de um antigo desejo, no Rio o show será no Circo Voador. Veja abaixo as apresentações já confirmadas.

27 de agosto - Bar Opinião - Porto Alegre (RS)
28 de agosto - John Bull Music Hall - Curitiba (PR)
18 de setembro - Teatro da UFPE - Recife (PE)
19 de setembro - Centro de Convenções - Fortaleza (CE)
24 de setembro - Teatro Paulo Pontes - João Pessoa (PB)
26 de setembro - Concha Acústica - Salvador (BA)
2 de outubro - Auditório Ibirapuera - São Paulo (SP)
3 de outubro - Auditório Ibirapuera - São Paulo (SP)
4 de outubro - Auditório Ibirapuera - São Paulo (SP)
9 de outubro - Circo Voador - Rio de Janeiro (RJ)
27 de novembro - Music Hall - Belo Horizonte - (MG)
28 de novembro - Teatro Brasília - Brasília (DF)
3 de dezembro - Teatro Amazonas - Manaus (AM)
5 de dezembro - Teatro Gasômetro - Belém (PA)

Vale lembrar que antes disso, no dia 13 de agosto, CéU se apresenta em São Paulo na choperia do Sesc Pompéia em noite de comemoração pelos 10 anos do projeto Prata da Casa.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tiê está cada vez mais à vontade

Quando tocou no Rio pela primeira vez, em março, Tiê fez uma apresentação marcada pela tensão. De poucas palavras, com um vestido escuro e sóbrio e maquiagem perfeita, cantou todas as músicas de Sweet Jardim em menos de uma hora para um público acomodado nas mesas distribuídas por um Cinemathèque razoavelmente cheio. A apresentação teria sido impecável, não fosse pela frieza que, diga-se, combina bastante com as suas músicas de arranjos minimalistas e letras confessionais.

Duas apresentações depois, a cantora que voltou ao Rio para sua terceira apresentação no mesmo Cinemathèque parecia outra. Era a mesma, estava apenas mudada. Vestia uma larga blusa xadrez que não se pode chamar de elegante. Chamou mais atenção, entretanto, a sua atitude. Falante desde o momento em que pisou no palco, mostrava-se mais segura em seu ofício após a experiência adquirida em uma bem sucedida turnê europeia. Se da primeira vez o público estava ali para conhecê-la, muitos agora já eram fãs, alguns cantando junto, baixinho, apenas para acompanhá-la sem prejudicar aos demais que estavam imersos na beleza de sua voz e canções.

Ao fim de uma música, anunciou que logo após o show dela os presentes poderiam se balançar ao som dançante da Banda Bife, de seu produtor e (único) companheiro de palco Plinio Profeta. Talvez ignorando que a maioria estava ali para vê-la e ouvi-la, ou então, sabendo disso, apenas divertia-se com um público a que já pode chamar de seu.

Tecnicamente, as interpretações não foram tão perfeitas quanto da primeira vez. Mais divertido e emotivo certamente foi. A ponto de Tiê não se acanhar com uma falha de sua voz ao final de "Aula de Francês" e fazer piada do próprio erro. Antes de terminar, tocou a sua versão de "Se Enamora", clássico do romantismo infantil dos anos 80 e anunciou: as próximas tiragens de Sweet Jardim incluirão a canção do repertório do Balão Mágico graças aos apelos de Plinio Profeta. Nesse momento do show, Tiê retorna à infância e leva junto com ela cada um que reconhece os versos que ela está a cantar, e confirma: pode-se perder a inocência, mas nunca a saudade de sorrir e brincar.

sábado, 25 de julho de 2009

Novo do Cidadão Instigado sai em agosto

Fernando Catatau anuncia na comunidade do orkut do Cidadão Instigado que o terceiro disco da banda vai se chamar Uhuuu!. O show de lançamento acontece no dia 1º de agosto, no teatro Boca Rica, em Fortaleza. Catatau diz ainda que o disco está "saindo da fábrica" e terá 11 faixas e. Uma delas, "Escolher Pra Quê?", já está rolando no Myspace e oferece uma prévia do novo trabalho. É bem dançante, com tecladinhos oitentistas e uma batida eletrônica quase disco, mas sem perder a pegada rock'n'roll, ou abrir mão do flerte com o brega. Mantém também o traço progressivo com seus mais de seis minutos de duração alternando solos de guitarra e de teclado entre versos irônicos sobre a inclemência da natureza, seja pelo sol seja pela chuva.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

As exóticas delícias de Cibelle

Prometendo novo disco para logo, Cibelle colocou uma faixa de 14 minutos em sua página no Myspace. De acordo com as palavras da cantora e compositora paulista radicada em Londres, se trata de uma "jornada através do disco novo". Arranjos pouco convencionais, com muitos ruídos de animais selvagens e letras em inglês e português apontam para um aprofundamento dos experimentos de Cibelle sobre o formato tradicional das canções já verificado no anterior The Shine of Electric Dried Leaves. Entre os colaboradores, estão Fernando Catatau, do Cidadão Instigado e Pupillo, baterista da Nação Zumbi.

Cibelle também vem postando fotos, sob o título de EXOTIC#$%^&*()_ - MAKING OF, que revelam os bastidores da gravação do novo disco.


Outra foto trás uma lista de músicas que provavelmente estarão no disco. Entre elas, "Mango Tree", apresentada por Cibelle em uma vinheta gravada para a MTV Brasil. Outros títulos são "Light Works", "Melting the Ice", "Braid Hair" (será a anteriormente conhecida por "White Hair"? )"Lady Grey", "Selvagem", "Sapato Azul", "Being Green", "Escute Bem", "Baby" e "Frankestein".

Sobre uma possível data de lançamento, nada ainda, mas não se perde por esperar. É uma das mais inventivas cantoras brasileiras dos tempos atuais.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Como o novo pode ser velho, por Ana Cañas


Hoje, a cantora Ana Cañas dispobiblizou mais seis faixas do seu segundo disco, Hein?, em sua página no Myspace. Elas vêm se juntar a "Esconderijo", primeira música de trabalho, que já vem tocando no rádio. Lembrou-me de quando no princípio de 2007 ouvi "Devolve Moço" no mesmo Myspace, quando a cantora e compositora ainda era desconhecida. Era uma canção promissora, assim definida aqui mesmo: "Devolve Moço” injeta suíngue brasileiro sobre uma base funky-jazz ancorada no groove do órgão, da bateria e da guitarra em contraponto à melodia dividida entre o piano e um trompete sinuoso como a amplitude vocal da cantora.



Depois disso, veio o contrato com a Day1. Foi a primeira artista a assinar um novo modelo de contrato com a ex-Sony: além de cuidar da produção, do lançamento e da divulgação do disco, a empresa gerenciaria a carreira de Ana. Assim, seu estágio na independência foi breve. E as outras músicas, a maioria de autoria da própria, ficaram guardadas para o lançamento oficial. "Devolve Moço" acabou se revelando um corpo estranho no conjunto de Amor e Caos, mesmo depois de sutilmente modificada para efeito de padronização da produção.

Por um lado, as coisas se tornaram muito mais fáceis para a cantora. A formação de um público incondicional veio em seguida e o descolamento de sua própria geração acabou sendo o passo seguinte, talvez involuntário, dificilmente não premeditado. No palco, teve as companhias de Marina Lima, Paralamas do Sucesso, Toni Garrido, Arnaldo Antunes, coautor de algumas faixas do novo disco, e Nando Reis, em cujo há pouco lançado Drês ela gravou participação em "Pra Você Guardei o Amor".



Para produzir Hein?, Ana escolheu Liminha. Outro que se tornou parceiro foi Dadi. Se na estreia, regravou Caetano Veloso ("Coração Vagabundo") e Jorge Mautner ("Super Mulher"), agora o escolhido foi Gilberto Gil ("Chuck Berry Fields Forever"). Mas e os seus pares contemporâneos? Ana é de São Paulo, onde estão concentrados muitos dos nomes mais interessantes da atual geração de compositores e músicos brasileiros, mas está distantes deles. Foi do Tom Jazz direto para o Citibank Hall sem passar pelo Studio SP e foi procurar - e encontrou! - a sua turma entre os nomes consagrados do "MPB Rock Pop". Essa relação fica bem clara no video release oficial de Hein?. Se é benéfica ou não, cada qual que tire suas próprias conclusões.

Com esse salto para trás, a musicalidade de Ana, que já dava amostras de querer abarcar o mundo em Amor e Caos, reforça tal ambição. Vai buscar uma identidade em um pop remoto, próprio ao sucesso radiofônico de tempos nem assim tão bons que não voltam nunca mais.

É bastante ilustrativo que a sua versão de "Chuck Berry Fields Forever" elimine completamente a proposição sincretista de Gil em uma . O flerte da música brasileira com o rock, a suadação ao futuro e a lírica que mistura elementos da cultura afro com o pop propostos por Gil são totalmente diluídos no blues repleto de maneirismos vocais em que Ana a transformou com sua interpretação e arranjo. Fora assim também com "Coração Vagabundo" e "Super Mulher".

Da lavra autoral, tem-se baladas intimistas, raggae domesticado e rocks básicos que poderiam no máximo se tornar veículo para uma poética bela e/ou original, mas não é o caso. Não em "Esconderijo", nem em "Sempre com Você" ou em "Na Medida do Impossível", tampouco em "A Menina e o Cachorro". Hino à coçação de saco, "Coçando" é um rock cuja interpretação de Ana aproxima-se do timbre de Elis. Soa ainda mais anacrônico em função do arranjo. A comparação com Elis poderia ser tomada como elogio, não fosse o argumento mais recorrente para criticar as novas cantoras que brotam em qualquer canteiro desse Brasil grande.

Pode-se considerar bem sucedido aquele que alcança o que se propõe a fazer. Talvez resida aí o grande mérito de Ana.

CéU: músicas de Vagarosa no show do Roxy LA

O show que CéU fez no último dia 17 no Roxy em Los Angeles foi bem documentado. Até agora, surgiram no Youtube cinco vídeos da cantora e sua banda interpretando músicas de Vagarosa.

Os melhores, em termos técnicos, estão logo abaixo. Primeiro, um trecho de "Comadi", parceria com Beto Villares que atualiza a influência da música de tradições populares, dita de domínio público, que CéU assume como uma referência importante na construção de sua musicalidade.


Em seguida, "Bubuia", que no disco tem a participação das coautoras Anelis Assumpção e Thalma de Freitas. Ao vivo, CéU canta sozinha, com o acompanhamento do coro comandado pelo DJ Marco nas pick ups.



Por fim, "Cangote" para ir preparando o clima para a volta de CéU ao Brasil, mais especificamente no dia 13 de agosto, na choperia do Sesc Pompéia em noite dividida com Lucas Santtana.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pelas Tabelas em sessão nostalgia: Lucas Santtana e Rubinho Jacobina


Coincidentemente, pela segunda semana consecutiva, um dos retratados da edição semanal do Pelas Tabelas está com disco novo circulando na rede. Na segunda-feira da semana passada Vagarosa, de CéU, apareceu em blogs diversos. Nesta segunda foi a vez de Sem Nostalgia, de Lucas Santtana, iberado pelo próprio autorl antes do lançamento da versão física.

Trata-se de um disco de voz e violão, formação clássica da música brasileira, que um pouco por questões práticas, mas também por uma opção estética - a saber: apresentar as composições em sua essência básica - está presente na maior parte dos programas da série.

Primeiro compositor com quem gravamos, Lucas chegou ao alto do Parque da Catacumba, na Lagoa, apenas com o seu violão acústico, sem apetrechos eletrônicos. Falou sobre a sua relação com a música e interpretou algumas canções em versão minimalista, sobre as quais as únicas intervenções exteriores foram os ruídos urbanos. Apesar do cenário bucólico, uma britadeira foi uma interferência constante que não chegou a prejudicar a captação de som. Quando uma buzina intrusa fez-se ouvir durante a execução de "De Coletivo ou de Metrô", respeitou o tom da canção e como se fizesse parte do arranjo.

Nada, entretanto, nada que aproximasse as músicas da sonoridade que Lucas cria em estúdio. No que tange aos números musicais, essa limitação é do maior interesse, bastante diferente mesmo do disco recém-lançado. Com a colaboração de nomes como Curumin, Gustavo Lenza, Buguinha e o Do Amor, entre outors, Lucas extrai do violão sons de guitarra, baixo e bateria.

Baiano herdeiro do Tropicalismo, que tocou flauta nas sessões de gravação de Tropicália 2, de Gil e Caetano, sobrinho de Tom Zé, Lucas retrocede a um tempo anterior ao movimento. Sem Nostalgia é um disco futurista. Denota ousadia em uma época pautada por imediatismos cujos horizontes se limitam à dimensão plana das telas de plasma para as quais os olhos apontam e um ou dois cliques podem alcançar. Mexe com o mestre inspirador João Gilberto em "Super Violão Mashup", revisita a lírica do exílio londrino em parcerias com span style="font-style:italic;">Sem NostalgiaArto Lindsay e com Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes, integrantes da banda Cê de Caetano, vai além do rock que o velho ícone agora redescobre.

Pleno de nostalgia foi o reencontro entre Lucas e Rubinho Jacobina na praia do Forte de São João, na Urca. Amigos de longa data, dos tempos de adolescência, os dois há muito tempo estavam distantes, embora tenham tocado juntos na formação original da Força Bruta, a banda de Rubinho, na virada do século. É desta época a única parceria que compuseram juntos - "Hora de Cuidar".

Musicalmente, tem estilos bastante diferentes. Rubinho é um cancionista, a harmonização de letra e melodia é a sua matéria básica. Lucas é um arquiteto do som, cria estruturas sonoras sobre as quais busca expandir os limites da canção. Do reencontro, porém, podem vir a nascer outras duas parcerias inspiradas uma em João Donato e a outra em Batatinha. O encerramento do programa deixa o futuro em aberto.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

CéU de volta aos palcos em Seattle

Já que neste mês, CéU tem sido presença constante por aqui, voltemos a ela. Há poucas horas surgiu no Youtube um vídeo de sua primeira apresentação no Triple Door, em Seattle (hoje tem de novo), que marca o retorno da cantora aos palcos após o lançamento de Vagarosa.

É um trecho pequeno, pouco mais de um minuto, de "Takes Two to Tango", de Ray Charles, postado via iPhone por Karen, americana moradora de Seattle. Por isso, talvez, tenha um estranho formato vertical. Não fosse a excelente qualidade do som, mal seria possível identificar CéU.

Da banda, ouvem-se as intervenções de um DJ fora de quadro, provavelmente Marco, que a acompanha desde os primeiros shows; não fica claro quem é o baterista, mas no baixo está Lucas Martins; em frente a um teclado, porém tocando acordeon, parece ser Guilherme Ribeiro. Bem interessante o uso deste instrumento, raras vezes incorporado aos arranjos de CéU, seja no palco ou em estúdio. Até então aparecera exclusivamente em uma versão ao vivo de "Valsa pra Biu Roque". Casa bem com a sonoridade etérea de algumas canções do novo disco, especialmente aquelas com vibrações jamaicanas.

Mas chega de conversa, vamos à música:

segunda-feira, 13 de julho de 2009

As milongas de Jorge Luis Borges por Vitor Ramil

Considerado pelo próprio Vitor Ramil como um marco zero em sua carreira, Ramilonga - A Estética do Frio (1997) vai ganhar uma nova edição remixada e remasterizada com direito a faixa-bônus e capa nova. Deveria ter saído em 2007, em comemoração aos dez anos de seu lançamento, mas acabou ficando para 2009, embora ainda sem uma data definida.

Além de resgatar a obra seminal de sua carreira, que marca o seu retorno a Pelotas natal depois de um período morando no Rio de Janeiro e o princípio de uma carreira independente bem sucedida, anos antes da falência das grandes gravadoras, Vitor Ramil faz um retorno à tradição milongueira iniciada muito antes de Ramilonga em seu segundo disco - A Paixão de V. Segundo Ele Próprio (1984). Nele estão presentes "Semeadura", gravada por Mercedes Sosa, e "Milonga de Manuel Flores", uma parceria com o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986).

Pois esta parceria póstuma vai ser retomada em disco de inéditas gravado na Argentina (parte das sessões aconteceram no mês de junho). Ramil vai gravar oito milongas escritas por Borges com a intenção de que fossem transformadas em músicas. Caberá ao brasileiro ser o primeiro a registrá-las juntas em um único álbum.

O escritor argentino, porém, não estará sozinho. O poeta gaúcho de tradição oral João da Cunha Vargas (1900-1980), vai compor, digamos, a porção brasileira do álbum. Ramil musicara três de seus poemas em Ramilonga ("Gaudério", "Último Pedido" e "Deixando o Pago"). Ainda hoje, brilham os olhos do autor ao lembrar do momento em que fez a música para esta última, cuja interpretação pode ser vista logo abaixo. Pois no disco novo, Ramil vai regravá-la.



Depois de três discos de canções (Tambong, Longes e Satolep Sambatown), Ramil volta duplamente às milongas para mais uma vez redefinir as fronteiras musicais dos pampas, e as suas próprias, recapitulando a sua primeira imersão milongueira e projetando a contemporainedade de sua obra através das sugestões poéticas de imagens do passado, a exemplo do que faz em sua obra literária.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pelas Tabelas: Céu, Beto Villares, o novo e o antigo


Quando gravamos o Pelas Tabelas com CéU e Beto em abril, as últimas sessões de Vagarosa ainda estavam rolando, então eles não quiseram revelar detalhes do disco lançado nesta semana. CéU o definiu como jamaicano, mais banda e com menos beats pré-gravados. A primeira colocação cabe bem ao EP Cangote, mas não compreende o conjunto das canções, vai além. A segunda é irrefutável, mas estes trechos da entrevista acabaram de fora da edição que vai ao ar hoje, logo mais às 21h, no Canal Brasil.

O pouco material diretamente relacionado ao disco aparece em trechos do making of da gravação das faixas "Bubuia" e "Cordão da Insônia". A linha narrativa do programa parte das primeiras notas musicais de ambos, CéU já pensando em ser cantora, descobrindo-se compositora e as experimentações sonoras que resultaram na mais interessante carreira feminina da música brasileira atual; Beto descobrindo a guitarra como porta de entrada para o irrestrito universo sonoro sobre o qual viria a trabalhar como produtor e compositor.

Afirmando estar em uma nova fase na carreira sem oferecer muitas pistas para a compreensão do que viria a ser esta nova fase além das quatro músicas do EP. Mesmo assim, para nós, em nenhum momento ficaram claras as diferenças entre uma fase e outra. E agora, ouvindo o novo disco na íntegra, entende-se que nem para ela mesma. Com sua visão geral de produtor, Beto já identificava algumas das conexões - e também das rupturas - entre o álbum de estreia e o seu sucessor.


É nas entrelinhas, quando o assunto sai do específico e versa sobre o processo criativo colaborativo que rola entre os dois que se pode captar as sugestões evidenciadas pela audição de Vagarosa. Jorge Ben, a música brasileira de domínio público magistralmente registrada por Beto no projeto Música do Brasil, os jogos vocais de coro e resposta. A fase é diferente, mas tais elementos, por ela reconhecidos no disco de estreia, e que à primeira vista ela não identificava durante o processo de gravação do novo trabalho, estão lá.

Na relação musical desenvolvida por eles, cada novo trabalho é um processo de descobertas norteado pela imaginação de sonoridades. Não apenas uma, mas várias, fruto do reprocessamento de influências diversas, que se abrem também aos demais colaboradores. No caso de Vagarosa a lista é extensa. A unidade e o sentido vão ser encontradas no futuro de uma obra ainda tão nova mas que já fez por merecer a classificação de clássica e atemporal.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CéU: Vagarosa já está na rede

Antes mesmo do lançamento oficial no exterior, o segundo disco de CéU, Vagarosa, já bastante comentado aqui, vazou na rede.

Ainda não deu tempo de ouvi-lo, mas quem quiser pode ir se adiantando. O segundo disco da cantora e compoitora já pode ser baixado no Som Barato.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A gafieira de Junio Barreto

Depois de lançar um EP com três faixas no ano passado - introspectivo, com texturas sonoras delicadas e acústicas -, o compositor pernambucano Junio Barreto está em estúdio gravando um álbum de composições próprias inspiradas na sonoridade e na temática dos bailes de gafieira. A ideia partiu de Pupillo, da Nação Zumbi, que, além de tocar bateria, é o responsável pela produção do disco, ainda sem título definido. Junio já tinha algumas composições prontas para um segundo disco, mas elas foram temporariamente arquivadas para tocar o projeto sugerido por Pupillo.

Ainda nesta onda de música para dançar, Junio Barreto e Fábio Trummer, do Eddie, têm planos de montar uma banda para tocar músicas de temática latino-americana na noite paulistana . Sob tal guarda-chuva, haverá espaço tanto para ritmos tradicionais, como a cumbia colombiana, o samba brasileiro, como parra as composições de autoria deles próprios e dos amigos mais próximos.

Ambos os projetos, disco e show, ainda não têm data definida para virem à luz.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

CéU: disco na rede em julho, show no Brasil em outubro

A capa é esta aí do lado. Vagarosa já está em pré-venda nos Estados Unidos, com lançamento marcado para o próximo dia 7, através da Six Degrees Records. No Brasil, não se sabe o quanto vai demorar apesar da promessa de que sai ainda neste mês de julho, embora deva cair na rede tão logo o primeiro fã tenha acesso a ele.

Através da Amazon.com é possível ouvir uma prévia das 13 músicas que compõem o álbum - três delas presentes no EP Cangote ("Visgo de Jaca", em boa rotação na rádio carioca MPB FM ficou de fora). Informações sobre as faixas podem ser encontradas no site da gravadora.

A produção, conforme revelado aqui anteriormente, é dividida entre Beto Villares, Gustavo Lenza, Gui Amabis e integrantes da Nação Zumbi. Sob a alcunha de Los Sebozos Postizos, eles formam a banda de apoio de CéU em "Rosa Menina Rosa", pinçada do repertório de Samba Esquema Novo (1963), de Jorge Ben. Embora na bateria haja participações do finado Gigante Brasil em suas últimas gravações em estúdio ("Cangote" e "Papa"), de Curumin ("Nascente", "Grains de Bauté" e "Cordão da Insônia") e de Serginho Machado ("Sonâmbulo"), Pupillo é presença recorrente no comando das baquetas. Em "Ponteiro", com a companhia do baixo de Dengue.

"Espaçonave" é uma parceria com Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, que além de tocar guitarra nesta faixa, participa também de "Bubuia", composição coletiva de CéU, Anelis Assumpção e Thalma de Freitas.

Outras participações especiais são de Luiz Melodia em "Vira Lata", que CéU compôs especialmente para a voz do cantor. Guizado toca trumpete em "Nascente", cuja autoria é dividida com Siba. O cavaquinho de Rodrigo Campos está presente na vinheta de abertura "Sobre o Amor e Seu Trabalho Silencioso" e em "Vira Lata".

Para promover o disco lá fora, no dia 10, CéU dá início a uma breve turnê pelos Estados Unidos, cujas datas são as seguintes:

7/14 - The Triple Door - Seattle, WA
7/15 - The Triple Door - Seattle, WA
7/17 - The Roxy - Los Angeles, CA
7/18 - Herbst Theatre - San Francisco, CA
7/21 - The HighLine Ballroom - New York, NY

Os primeiros shows anunciados no Brasil serão no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, nos dias 2, 3 e 4 de outubro. Não é certo que seja a estreia em terras brasileiras, embora seja bem provável. Os ingressos já estão a venda.

Abaixo, as músicas que compõem Vagarosa:
1. Sobre o Amor e Seu Trabalho Silencioso (0:56)
(Letra e música: Céu)
2. Cangote (4:02)
(Letra e música: Céu)
3. Comadi (3:29)
(Letra: Céu / Música: Céu e Beto Villares)
4. Bubuia (3:14)
(Letra e música: Céu, Anelis Assumpção e Thalma de Freitas)
5. Nascente (3:19)
(Letra: Siba / Música: Céu)
6. Grains de Beauté (3:34)
(Letra: Céu / Música: Céu e Beto Villares)
7. Vira Lata (3:37)
(Letra e música: Céu)
8. Papa (1:20)
(Letra e música: Céu)
9. Ponteiro (3:38)
(Letra e música: Céu)
10. Cordão da Insônia (2:42)
(Letra e música: Céu e Beto Villares)
11. Rosa Menina Rosa (4:41)
(Letra e música: Jorge Ben)
12. Sonâmbulo (3:50)
(Letra: Céu / Música: Céu, Serginho Machado, Bruno Buarque, Lucas Martins, Guilherme Ribeiro e DJ Marco)
13. Espaçonave (3:35)
(Letra: Céu / Música: Céu e Fernando Catatau)