sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eddie libera disco novo no Som Barato

A banda pernambucana Eddie está lançando em primeira mão, em mp3, o disco Carnaval no Inferno. Pode ser baixado no novo Som Barato via torrent. Eu mesmo, com meu Mac, não consegui baixar. Provavelmente porque Pindzim é um saudosista e prefere a música em seu formato físico, seja em vinil ou cd.

O aperitivo disponibilizado no Myspace indica que após o mediano Metropolitano (2006), o Eddie vem com outra coleção de pérolas do pop pernambucano, tal qual em Original Olinda Style (2008). Há urgência em conferir.

"Carnaval no Inferno" tem onze faixas, a produção é assinada por Fábio Trummer e Buguinha, e conta com participações de Karina Buhr, Curumin e Erasto Vasconcelos, entre outros. O irmão de Naná canta na faixa título e tem regravada a sua "O Baile Betinha", que ultimamente sempre vinha sendo tocada pela banda em seus shows. "Me Diga o que Não Foi Legal" é outra já conhecida de apresentações ao vivo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mallu e Camelo

Boatos e vida pessoal a parte, Marcelo Camelo deve fazer uma participação no show de Mallu Magalhães, amanhã no Morro da Urca, no Rio, às 18h.

O ingresso é o preço do bondinho: R$ 44,00. Cariocas pagam R$ 22,00 mediante apresentação de comprovante de residência.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Little Joy em imagens caseiras

O clipe está para o youtube, assim como o cd para o mp3. Foi incorporado ao território livre da pirataria e por si só não justifica os investimentos que se faziam outrora, nos áureos tempos da MTV. Que, aliás, por um tempo o declarou morto, excluindo-o totalmente de sua programação.

Mas é totalmente válido quando parte de uma iniciativa da banda, de convidar amigos próximos que tenham ligações com o audiovisual, ou não, talvez nem seja preciso ter, para fazer um registro direto e despretensioso.

É o caso do Little Joy, com uma versão acústica e inédita de "Next Time Around", que de certa forma remete aos clipes gêmeos de "Morena" e "Condicional", dos tempos de Los Hermanos:

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Mula é Manca e Fabulosa

Em 2007, a Mula Manca lançou logo em janeiro um dos melhores discos do ano. A Triste Figura de O Circo da Solidão (2004) virara Fabulosa em Amor e Pastel. Os arranjos outrora crus, com produção canhestra em formato rock, com baixo, bateria, guitarra e teclados, trocaram as cordas elétricas pela proeminência acústica do violão. Castor Luiz assumiu os teclados, alguns vocais e assinou a composição de algumas faixas. As referências se tornaram mais óbvias. Samba, jovem guarda, a música da geração nordestina dos anos 70 - de Fagner, Belchior e Ednardo. Nada do que se esperaria de uma banda pernambucana pós-mangue beat. Canções com um apelo pop talhadas por uma produção mais limpa e homogênea. Cada faixa, um clássico com alto potencial radiofônico, fossem outros tempos.

Mas Amor e Pastel passou em branco, ou, no mínimo, não alcançou a repercussão que merecia. A ponto de a banda não ter vindo ao Rio para divulgar o disco. Não por falta de vontade. Em emails trocados com o produtor da banda logo depois do lançamento, ele contou estar negociando a vinda da Mula Manca ao sudeste. Não sei se chegaram a ir a São Paulo.

Felizmente, a disseminação de um projeto paralelo de seus integrantes associados ao pianista Vitor Araujo, o Seu Chico, em que reinterpretam canções de Chico Buarque com um sotaque pernambucano, despertou o interesse do público "sulista". Shows foram marcados e no mês passado, paralelamente às apresentações lotadas do Seu Chico no Teatro Odisséia, a banda fez duas apresentações no Cinemathèque Jam Club.

Pindzim compareceu à segunda. Havia pouca gente, todos contidos, apesar da performance expansiva e por vezes teatral de Tibério Azul. Não sei se a primeira foi diferente, mas se no mesmo Cinemathèque a primeira apresentação do Seu Chico fora uma festa, a derradeira apresentação da Mula Manca estava mais para a triste figura de O Circo da Solidão do que a da fabulosa de Amor e Pastel. Nem por isso a banda esmoreceu. No palco, mostraram que se trata de uma das boas bandas brasileiras da atualidade. Hoje, talvez, a mais interessante da terceira geração pernambucana pós-mangue, agora que o Mombojó perdeu seus dois músicos mais inventivos e se acomoda nos trilhos do rock convencional.

Aqui, "Pé no Chão", uma das músicas de Amor e Pastel, no show do dia 10 de outubro:



Comentário ouvido no show referenda o que Pindzim ouvira de amigos a respeito da banda: entre os admiradores cariocas do grupo há uma preferência pelo primeiro disco da banda, O Circo da Solidão. Concebido como uma ópera rock-poético-circense, a estréia da Mula Manca apresenta uma banda peculiar, com uma identidade própria bem definida. Referências literárias, especialmente a triste figura de Dom Quixote, a música brasileira difusa se insinua aqui e ali, e o universo do circo. O apelo pop latente em Amor e Pastel se oculta diante da simplicidade da produção, que mais se aproxima dos resultados de uma fita demo do que de um disco pronto e acabado. Há pinceladas de humor, muito mais evidentes em Amor e Pastel, mas a farra que se inicia na folia, com "Carnaval", vai mergulhando em uma melancolia desesperada e se encerra com a desesperada "Ainda Sou Louco o Bastante para Rir".

Faixa central, que foi pedida pelo público do Rio em evocação ao primeiro disco, "O Palhaço e a Bailarina" dá a medida entre um extremo e outro. Ele quer conquistá-la sorrindo, mas acaba tendo a maquiagem borrada pelas lágrimas de um amor impossível:



Mas é justamente esse estilo underground, para não dizer tosco - independente não compreende o sentido que O Circo da Solidão tem para esses admiradores - que o torna um disco especial, icônico. Há um sentimento de traição às origens da banda que sabota o evidente passo adiante que, de fato, representou Amor e Pastel. Parte desta frustração advem também das expectativas criadas pelo "segundo disco". Para isso, só há um remédio: o terceiro disco. Músicas novas foram mostradas no Rio. É de se esperar que em breve a triste figura venha a se reconciliar com a fabulosa. Afinal, entre a solidão e o amor a distância é tênue.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Claro Cine e a cena independente

A era da portabilidade chegou aos eventos culturais. Três anos depois da última edição do Vivo Open Air, a Claro vai bancar a volta do evento que reune cinema, música e, agora, tecnologia no Jockey Clube Brasileiro, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro.

É um evento de contrastes. Na área cinematográfica, predominam os filmes da indústria americana em exibição na super tela de 282 metros quadrados - o tamanho de uma quadra de tênis. Serão dez pré-estréias e dez reprises. Entre os inéditos, destaque para "Rebobine, Por Favor", do cineasta francês Michel Gondry, de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, e o novo dos oscarizados irmãos Cohen, "Queime Depois de Ler", com Brad Pitt e George Clooney no elenco

Do lado da musical, somente boas bandas do circuito independente brasileiro - entre elas Nação Zumbi, Cidadão Instigado, Brasov e Orquestra Contemporânea de Olinda. Nos fins de semana, festas como Moo (Rio), I Love Cafusu (Recife) e uma noite no Clash Club (SP) ocupam a tenda festiva. E o melhor: o pacote sai a um preço bastante acessível: R$ 36 a entrada inteira, e R$ 18,00 a meia.

Abaixo, a programação completa:
18/11 - Somente para convidados - Filme: Rede de Mentiras (Ridley Scott) em pré-estréia / Show: Ana Cañas recebe Marina Lima e Arnaldo Antunes

19/11 - Filme: Max Payne (John Moore) em pré-estréia / Show: Nação Zumbi

20/11 - Filme: Queime Depois de Ler (Irmãos Cohen) em pré-estréia / Show: Canastra e Moptop

21/11 - Filme: Rede de Mentiras (Ridley Scott) em pré-estréia / Show: Cidadão Instigado / Festa: I Love Cafusu

22/11 - Filme 1: WALL.E (Andrew Stanton) / Filme 2: "Rebobine, Por Favor" (Michel Gondry) em pré-estréia / Festa: Moo

23/11 - Filme: Planeta Terror (Robert Rodriguez) / Show: Móveis Coloniais de Acaju

25/11 - Filme: Segurando as Pontas (David Gordon Green) em pré-estréia / Show: Wilson das Neves com participação de Marcelo D2

26/11 - Filme: Entre Lençóis (Gustavo Nieto Roa) em pré-estréia / Show: Brasov com participação de Wando e Pepeu Gomes

27/11 - Filme: Um Homem Bom (Vicente Amorim) em pré-estréia / Show: Vanguart / Festa: Clash Club apresenta DJ's Rumenige & Loktibrada

28/11 - Filme: Quarentena (John Erick Dowdle) em pré-estréia / Show: João Brasil / Festa: Calzone

29/11 - Filme 1: Ratatouille (Brad Bird) / Filme 2: Mamma Mia! (Phyllida Lloyd) / Show: Do Amor / Festa: Gente Bonita Clima de Paquera

30/11 - Filme: Appaloosa - Uma Cidade sem Lei (Ed Harris) / Show: Rabotnik + The Twelves

02/12 - Filme: Sin City - Cidade do Pecado (Robert Rodriguez r e Frank Miller) / Show: DJ Mari Zander + DJ Vivie Ann

03/12 - Filme: Batman - O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan) / Show: Orquestra Contemporânea de Olinda

04/12 - Filme: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (Roberto Farias) / Show: Lafayette e Os Tremendões

05/12 - Filme: The Rolling Stones - Shine a Light (Martin Scorcese) / Festa: Phunk convida Davi Moraes

06/12 - Filme 1: Kung Fu Panda / Filme 2: Estômago (Marcos Jorge) / Show: Casuarina com participação de Tereza Cristina e Ana Costa

07/12 - Filme: Bustin' Down the Door (Jeremy Gosch) em pré-estréia / Show: Aliados + The Silvas com participação de Paulo Miklos

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Clipe - Enladeirada - Thalma e 3naMassa

Enquanto experimenta sua nova fase solo, nomeada Casio Knights, cujas canções foram, em sua maioria, compostas durante suas "férias criativas", Thalma de Freitas lança o clipe de "Enladeirada". A música, que está em Na Confraria das Sedutoras, ganhou um clipe no espírito do disco do 3naMassa. A idéia é bem simples. Nua e transpirando lascívia, Thalma canta os versos insinuantes da letra de Jorge du Peixe dentro de uma piscina. O excelente trabalho de pós-produção resulta em imagens que têm ao mesmo tempo uma estética vintage, pela fotografia em tons pastéis, e moderninha, pelos efeitos de imagem com muitas sobreposições. E assim, a idéia de ir criando um correspondente audiovisual para cada faixa vai se cumprindo.


3 Na Massa - Enladeirada from Nublu on Vimeo.

domingo, 2 de novembro de 2008

Mariana Aydar em estúdio no Rio

A cantora Mariana Aydar prepara o seu segundo disco, o sucessor de Kavita 1. A produção está a cargo de Kassin e Duani e as gravações acontecem no Rio. No repertório, uma parceria de Romulo Fróes e Clima.

A informação foi extraída da parte 1 do programa "Na Sala com Tatá", uma produção da Enxame TV, com apresentação do jornalista Ronaldo Evangelista. Romulo, por sua vez, está masterizando o seu terceiro disco, que será duplo, com 33 canções.

Também foi no blog do Ronaldo, o Vitrola, que o programa foi descoberto. Blog e programa são altamente recomendáveis.

Veja aqui, um clipe extraído do programa. Romulo e Mariana interpretam em voz e violão, o grande hit do álbum de estréia da cantora: Zé do Caroço, samba de Leci Brandão.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Marcelo Camelo imprevisível

Marcelo Camelo apresenta, à sua maneira, com mistérios e silêncios, seu novo projeto musical. Se trata de Os Imprevisíveis. O nome já diz bastante, mas a música - e as imagens que a acompanham neste vídeo postado no Youtube -, por enquanto, ainda não dizem nada. Nem dá para saber se a coisa é realmente séria ou só um passatempo mesmo.



Camelo apresentou o novo projeto na última terça, no programa Ronca Ronca, na Oi FM. Pindzim ainda não conseguiu ouvir o programa para saber e ouvir mais a respeito, mas, partindo de Camelo sempre se criam expectativas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Gui Boratto hoje em Nova York

A música eletrônica brasileira vai chacoalhar Nova York. O produtor brasileiro Gui Boratto faz apresentação hoje no clube Cielo, com direito a nota do crítico musical Sasha Frere-Jones, da prestigiosa revista New Yorker, recomendando o show.

Boratto vai se apresentar sozinho no Cielo apenas com um laptop e uma bateria eletrônica. No seu texto, entre elogios a Cromophobia, disco de estréia do músico, produtor e compositor, Frere-Jones diz que o show de Boratto pode ser um dos melhores do outono americano.

Tim Festival 2008: Noite 100% Nacional

Não se pode afirmar que o palco Bossa Mod foi o melhor do festival. Certamente, foi um dos mais animados da edição carioca do Tim 2008.

O ápice foi a estréia solo de Marcelo Camelo em casa. A tenda ficou cheia e as atenções estiveram todas voltadas para o palco. Adaptando o roteiro da apresentação, Camelo fez o primeiro show da turnê de "Sou" em que o Hurtmold não saiu de cena em nenhum momento. Os números de voz e violão ficaram reservados para a volta, em dezembro, no Canecão.

Foi uma opção inteligente. "Téo e a Gaivota" abriu a noite no lugar de "Passeando" e já na primeira música ficou claro que os tempos de histeria coletiva ficaram no passado, quem sabe no futuro, já que o compositor afirmou em entrevista à Rolling Stone brasileira que o retorno dos Hermanos é possível. Ainda há quem cante junto, lógico, mas a música que emana das caixas se impõem. E isso é ótimo. Estabelece-se um canal de comunicação entre Camelo e Hurtmold e o público mais saudável, de troca. Os muitos silêncios das novas composições encontram correspondência na platéia . O acompanhamento do Hurtmold valoriza as texturas e a beleza das composições se cristaliza na harmonia dedilhada na guitarra e na melodia da voz de Camelo.

Esta é uma idéia a ser mais bem desenvolvida, mas o músico que no Los Hermanos ficava sombreado pelo compositor aflora nas composições de "Sou". As letras parecem ter sido criadas a partir das músicas e de suas respectivas melodias. Os arranjos, com seus silêncios e ruídos, têm peso equânime ao dos versos. Então, é ótimo que ao vivo se possa ouvir os detalhes de cada canção, prestando atenção na emissão nebulosa de Camelo mais do que acompanhá-lo cantando verso a verso, como no tempo dos Hermanos.

As músicas mais animadas proporcionam momentos de maior exaltação, também agora de uma forma diferente. "Vida Doce", "Menina Bordada" e principalmente "Copacabana" põem a galera para dançar e assim as energias são divididas entre o movimento do corpo e a potência do gogó. A festa continua, mas agora ao balanço de sentimentos que navegam por águas tranqüilas. Os tempos do turbilhão movido a canções de identificação imediata e ao ventiloqüismo dançante do velho parceiro Amarante encontram-se em recesso.

Acabado o show, a tenda se esvazia. Arnaldo Antunes tocou para o menor público da noite, mas, por incrível que pareça, arrancou os coros mais animados de quem ficou até o fim com músicas "Socorro", "Não Vou Me Adaptar", dos Titãs e "Agora", gravada por Maria Bethânia. Arnaldo conquista o público com a naturalidade de quem já tem anos de estrada, sem a insegurança que ainda transparece em Camelo em sua fase solo e principalmente em Roberta Sá.

A cantora que abriu a noite é dona da melhor voz entre as jovens cantoras brasileiras. Afinada, potente e que já em seu segundo disco, "Que Belo Estranho Dia Para Se Ter Alegria", afasta-se de possíveis comparações com Marisa Monte ou quem quer que seja. Mas se a sua voz já adquiriu personalidade própria, a mesma personalidade ainda lhe falta no palco. Seus movimentos são tímidos, quase forçados. Sua expressão parece ensaiada, exceto quando busca correspondência com seus músicos no palco. Comunicação com o público, praticamente não houve.

Motivos para não se sentir a vontade não havia. Muitos fãs próximos ao palco faziam coro à cantora e um bom público estava ali disposto a conhecê-la. Com um repertório muito bem apanhado entre canções de alguns dos melhores compositores brasileiros da atualidade - Rodrigo Maranhão, Roque Ferreira, Pedro Luís e o próprio Camelo -, Roberta costuma apresentar um belo show. A empolgação, contudo, depende da platéia, mas, por maior que seja, não chega a atingi-la. Ela mantém-se fria e distante.

Não será uma tarefa fácil e rápida quebrar o gelo. Nem mesmo seu estágio no finado programa "Fama", da Globo, a ajudaram. Melhor que não a tenham tranformado em um produto descartável como fez com todos os seus colegas que passaram pela casa e até conseguiram maior evidência na época. Roberta Sá é uma das grandes cantoras brasileiras do século 21. Porém, somente os anos de estrada vão poder tranformá-la em uma intérprete completa.

Saldo final do palco 100% nacional: excluído o do jazz, foi o mais interessante da edição carioca ao lado do Tim no Tim, com Instituto e convidados interpretando Tim Maia Racional. Fica a deixa para o ano que vem: a música brasileira merece ao menos um palco exclusivamente seu e com preços mais baixos. Atrações internacionais a parte.

domingo, 26 de outubro de 2008

Tim Festival 2008: Esperanza Spalding canta "Ponta de Areia"

Esperanza Spalding foi um dos nomes que brilharam na edição 2008 do Tim. Aqui, ela interpreta "Ponta de Areia", de Milton Nascimento, com participação do violonista e guitarrista brasileiro Chico Pinheiro. No final, citação a "Paula e Bebeto", de Milton e Caetano.



Para ver outro momento do show de Esperanza Spalding, em que ela canta "I Know You Know", clique aqui.

sábado, 25 de outubro de 2008

Crônicas de um festival anunciado

Os anos passam, as edições se sucedem e a produção do Tim Festival segue incorrendo em erros recorrentes. Filas intermináveis para comprar bebida e comida, palco ao ar livre, que no ano passado inviabilizou a apresentação de bandas do circuito alternativo, e o principal e mais grave: tendas com acústica mediana e que não barram a propagação do som. Resultado, ontem, Carla Bley subiu ao palco da tenda de jazz sob a vibração dos graves exorbitantes de Kayne West.

O rapper americano conseguiu lotar o palco principal da edição carioca do Tim 2008. Em sua apresentação, West é a estrela solitária rimando sobre bases pré-gravadas a frente de um cenário inspirado em um futuro de penúria. Incandescente, seco e monótono. Em frente ao palco, fãs animados dançavam e gravavam o show com suas câmeras e celulares. À medida que se caminhava para o fundo da tenda, predominava a badalação.

Na outra tenda, o The National começou sua apresentação para muito pouca gente que de fato conhecia a banda. A iluminação, clara demais, tornava o clima ainda mais impessoal e frio. O som embolado não contribuía para criar empatia com o público. Não agradou.

Esperanza Spalding abriu a segunda noite do festival e fez uma apresentação que agradou bastante aos presentes. Pindzim não viu o show, mas a julgar pelos comentários e pelos vídeos gravados, a cantora e baixista americana justificou as expectativas com seu jazz enquadrado em canções pop, com cirações à música brasileira - reforçadas no show pela participação especial do guitarrista e violonista Chico Pinheiro.

No encerramento da festa, o Instituto e convidados reuniu uma multidão no palco ao ar livre e botou a galera para dançar ao som do Tim Maia, fase racional. Faziam parte do timaço Fernando Catatau e Junior Boca nas guitarras, Pupilo na bateria, Thalma de Freitas e Carlos Daffé nos vocais. O rapper Kamau improvisando rimas sobre as bases do mestre mostrou a todos que quiseram ver que a música brasileira está alguns pontos acima da de estrelas importadas cheias de marra, como West, impostas de cima para baixo por uma indústria agonizante em seus últimos e derradeiros suspiros.

Pindzim não assistiu ao MGMT, mas, pelo menos no Rio, o Tim ganharia mais se investisse em mais atrações nacionais e preços de ingresso mais baixos. Vamos esperar para ver o palco 100% nacional hoje, mas é quase certo que a animação seria muito maior. Ah, e o jazz deveria ser um festival a parte. A maior parte do público não está interessada nas atrações pop. E ainda evitaria o duplo desrespeito, ao público e aos próprios artistas prejudicados pela precária infra-estrutura sonora.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tim Festival 2008: Rosa Passos e o cansaço do samba-jazz

Em um determinado momento do seu show, ontem, no primeiro dia da edição carioca do Tim Festival 2008, Rosa Passos anunciou com uma ponta de orgulho que "Romance", seu disco mais recente, está indicado para o "Latin Grammy". Porém, ressalvou, em uma categoria "nada a ver": pop contemporâneo. "É um disco de jazz", ponderou. Assistindo ao show, fica claro o porquê de tal categorização. Rosa é uma cantora brasileira que faz carreira no exterior com a cansada combinação de jazz e bossa nova. À banalização de um e de outro resulta em... um pop contemporâneo para platéias estrangeiras. Aqui no Brasil parece não funcionar, exceto para um público cativo, cujo grau de "refinamento" musical talvez só encontre correspondência nos fetichistas do MPB-Jazz lá de fora.

O público ainda se acomodava na tenda do Tim Festival quando, às 23h10 (mais de uma hora de atraso), Rosa Passos entrou no palco cantando "Vatapá", de Dorival Caymmi, compositor que, junto de Tom Jobim, foi o mais lembrado da noite. "Esse é um show que eu já apresentei nos Estados Unidos e na Europa, um concerto em homenagem a Caymmi e à bossa nova. Compositor e movimento sempre serão dignos de lembrança, mas o show de Rosa chega em um momento em que, por força das circunstâncias, tais reverências encontram-se no limite da saturação.


Ainda na terceira música, começou a ocorrer um fenômeno que acompanharia toda a apresentação. Casal sentado na nossa mesa, comentou: "depois do Sonny Rollins, essa Rosa não dá, não". Levantaram-se e foram embora. Já na primeira noite, um erro primário de escalação, colocando um instrumentista virtuoso para tocar antes de uma cantora brasileira cujas pretensões artísticas estão muito além do espetáculo que proporciona. Rosa tem uma boa voz. Sua amplitude vocal permite-lhe ir da suavidade à potência em um mesmo verso. Porém, as tentativas de alterar a métrica e a melodia dos canções, emulando improvisos jazzísticos instrumentais com a voz, resulta em um pedantismo inócuo.

Sua banda é composta por instrumentistas virtuosos, afinal, se não o fossem, não tocariam com ela, afirmou a cantora ao apresentá-los. O que deveria ser uma qualidade resulta em interlúdios instrumentais obrigatórios em todas as canções, prejudicando-lhes a execução. Nestes momentos, Rosa posta-se ao lado do instrumentista, olhos fechados. O que para ela é puro prazer, a platéia recebe com enfado. Tanto que quando ela anuncia que deixará o palco para um set instrumental, as luzes sobre a platéia se acendem e o que se vê é uma debandada considerável por parte do público.

O ponto alto do show acontece quando ela pega o violão e a banda se retira, ficando acompanhada apenas pelo baixista Paulo Paulelli. Aos primeiros acordes de "O Que Que a Baiana Tem?", a mulher sentada na mesa ao lado comenta com a amiga: "aí que é a Rosa Passos, assim é que ela manda bem". É quando ela se aproxima do epíteto "João Gilberto de saias" que muitas vezes lhe é impingido. Onde João é minimalista, Rosa é vigorosa. O violão de João é sambista; o seu é jazzístico. As batidas ritmadas fazem digressões sobre a harmonia e a melodia das canções e, por quatro músicas, Rosa consegue fazer seus improvisos soarem naturais em língua portuguesa. Mas foi cantando um samba que o show alcançou o seu ápice. Em uma interpretação convencional de "Pra que discutir com madame?", de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, que faz parte do repertório de João, o público chegou a ensaiar um coro. Mas foi só.

Em seguida, ao travestir "Águas de Março" de jazz, alterando a métrica dos versos e a melodia vocal, afasta-se do público para não mais se aproximar. Exceto, é claro, daqueles fãs incondicionais citados no começo desta postagem. Quem esperava por uma apresentação do nosso "João Gilberto de saias", podia ter evitado a frustração ao observar que Rosa Passos entrou no palco trajando calças. E o violão, instrumento fundamental à materialização do desejo do público, foi antes um elemento decorativo para os malabarismos de piano, baixo, sopros e bateria. E, principalmente, vocais.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Marcelo Camelo: solo e contente

"Um negócio assim, pra mim, que tem sido muito interessante é a possibilidade de tocar músicas que eu não toco ao vivo. Poder tocar cada vez uma música. Vou tocar uma música que eu não toco normalmente. Quer dizer, que eu não toco no violão ao vivo. Vai ser a primeira vez." 
(Marcelo Camelo, no Cine Theatro Central, em Juiz de Fora, antes de tocar "Casa Pré-fabricada" em versão acústica.) Agora, é só pegar o violão e tocar a música que desejar.

Ele pode estar só, mas a sua felicidade é de todo o mundo. Felicidade como há muito tempo não se via. Não, pelo menos, desde a época dos shows da turnê do Ventura. A leveza de pegar o violão e poder tocar o que quiser. De responder para a platéia que grita pedindo esta ou aquela música: "será que dá para eu escolher? eu vou escolher a música que eu vou tocar, antes de encerrar o show com "Fez-se Mar".

Não exatamente só, pois tem a fina companhia do Hurtmold, que lhe permite explorar coisas novas e também voltar a algumas antigas. Como esta aqui embaixo:


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Vazou: disco do Little Joy já está na rede

Com lançamento marcado para o dia 4 de novembro, o disco do Little Joy, banda de Rodrigo Amarante, Fabrizio Moretti e Binki Shapiro, caiu na rede hoje, anuncia o site britânico Did it Leak. Pindzim ainda não pôde ouvi-lo, mas o trabalho foi bastante elogiado pela revista Uncut.

Quem quiser ir se adiantando na audição pode clicar aqui.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Arnaldo Antunes e Roberta Sá substituem Paul Weller


Mais sem graça não poderia ser. Arnaldo Antunes e Roberta Sá, duas figurinhas fáceis do showbizz nacional, foram os escolhidos de última hora para substituir Paul Weller no Tim Festival 2008. Eles se juntam a Marcelo Camelo, que com a mudança se torna a atração principal do palco Bossa Mod nas noites do dia 23 em São Paulo, no Auditório do Ibirapuera, e do dia 25 no Rio, na Marina da Glória.

A organização do festival parece não ter se preocupado nem um pouco em ao menos tentar agradar àqueles que ficaram descontentes com o cancelamento de última hora do roqueiro inglês. Ao mesmo tempo, não é razoável supor que alguém se decida a pagar R$ 140,00 para assistir ao velho cantor e à jovem cantora. Faltou criatividade. Melhor seria apostar em nomes menos óbvios e compensar a subsituição com quantidade. Para usar um verbo recorrente em seu novo disco, caberá a Marcelo Camelo salvar a noite.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Little Joy ao vivo: Roots, Rock, Reggae

Não demorou. Bastou o primeiro show para "No Better Sake", o reggae-rock já liberado no Myspace, cair na rede. A pergunta é: será que Amarante está sentindo falta do coro da platéia?



A voz continua a mesma, mas as linhas de baixo anti-convencionais já não são as mesmas. É só impressão ou Amarante está tocando na base da palhetada? Bem, no vídeo não se ouvem mesmo os graves. O que se destaca é o orgão.

Há também uma inédita, embora a princípio não se tenha certeza. Sem prestar atenção, nem se nota Amarante agora na guitarra, com Binki ao seu lado acompanhando no violão. A batida é outra, mas o clima é o mesmo. A monotonia ensolarada de um fim de tarde californiano refletido no espelho retrovisor de um banheirão vintage.



Música de raiz, não se pode negar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Disco do Little Joy sai dia 4 de novembro no exterior

Está confirmado para o dia 4 de novembro o lançamento internacional do disco do Little Joy (Rough Trade), projeto que reúne Rodrigo Amarante, o baterista dos Strokes Fabrizzio Moreti e a pouco conhecida entre nós Binki Shapiro. Sobre a sonoridade, nada pode ser dito, mas a lista de canções que integra o álbum já foi divulgada. Serão 11 músicas. Dez têm títulos em inglês e apenas uma em português - "Evaporar", já conhecida da Tuba do Pindzim e do registro no disco Duos (2007), do guitarrista Lanny Gordin. A produção é de Noah Georgeson.

Little Joy:
01 The Next Time Around
02 Brand New Start
03 Play the Part
04 No One's Better Sake
05 Unattainable
06 Shoulder to Shoulder
07 With Strangers
08 Keep Me in Mind
09 How to Hang a Warhol
10 Don't Watch Me Dancing
11 Evaporar

Enquanto isso, o Little Joy sai em turnê com o Megapuss, projeto paralelo de Devendra Banhart e Gregory Rogove, cujo disco de estréia, Surfing, tem lançamento digital marcado para o dia 16 de setembro. CD e LP saem no dia 8 de outubro.

Os laços entre as bandas vão além do fato de excursionarem juntas. Nos shows, Fabrizio Moretti assume a bateria do Megapuss. Além disso, colaborou na letra e fez uma participação vocal em "Theme From Hollywood", que vai estar no disco da banda de Devendra e Rogrove. Amarante também teria participado tocando baixo em algumas faixas. Entretanto, ouvindo as duas músicas disponibilizadas no Myspace do Megapuss é de se supor que o ruivo também colaborou com sua guitarra distorcida. Por sua vez, Rogrove vai integrar a formação de palco do Little Joy. Georgeson também. Duas bandas, uma família musical.

Confira a agenda de shows. Caso você vá viajar para os Estados Unidos nesse mês de setembro, ou esteja com muita saudade de Amarante, é só se programar:

24/09 - San Diego, CA - Casbah
25/09 - Los Angeles, CA - Troubadour
26/09 - Big Sur, CA - Festival in the Forest
28/09 - San Francisco, CA - The Independent
30/09 - Seattle, WA - Neumos
01/10 - Portland, OR - Doug Fir

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Adeus Mestre Salu

Esta é a homenagem de Pindzim a Mestre Salustiano, compositor, rabequeiro, artesão e dançador que foi personagem fundamental para manter vivas e pulsantes as tradições pernambucanas do cavalo marinho, da ciranda, do pastoril, do coco, do maracatu, do caboclinho, do mamulengo e do forró. Sua influência foi fundamental à renovação da música pernambucana iniciada nos anos 90. Não a toa, em 1996, Mestre Salu foi homenageado por Chico Science e Nação Zumbi com "Salustiano Song", canção-tributo a um dos músicos inspiradores do mangue bit, gravada em Afrociberdelia, segundo disco da banda.

Bom de ritmo, por ironia, Salu morreu ontem vitimado por arritmias cardíacas decorrentes da doença de Chagas. Deixou quatro discos como legado -Sonho da Rabeca, Família Salustiano - Três Gerações, Mestre Salustiano e o Cavalo-marinho, e Mestre Salu e a sua rabeca encantada- e uma família de músicos que não deixará que a morte do patriarca encerre uma das mais nobres linhagens culturais do Brasil.

Em maio, Mestre Salu se apresentou no Rio de Janeiro. Pindzim deixa aqui, para todos, a sua última lembrança: um maracatu em homenagem ao Leão Colorado.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

As últimas dos Hermanos

Adaptando-se aos tempos de distribuição digital, Marcelo Camelo anunciou parceria com o portal Sonora do Terra para lançar em primeira mão algumas músicas do seu aguardado disco de estréia, intitulado Sou. A primeira a ser disponibilizada foi "Doce Solidão", que não trás grandes novidades em relação à versão em voz e violão que Camelo havia colocado em seu Myspace há algum tempo. O violão dedilhado, o vocal em falsete e o assobio ingênuo permaneceram no arranjo final. De resto, há bateria e percussão sutil, um piano de poucas notas e uma segunda parte que se limita a repetir a primeira.

É de se supor que a escolha de "Doce Solidão" como música de trabalho faça parte da tradicional estratégia, que vem de seus tempos de Los Hermanos, de revelar o mínimo possível até a segunda parte do lançamento, marcada para a próxima sexta, dia 29, quando mais nove canções, das 14 que compõem o álbum, poderão ser ouvidas no Sonora. Quatro ficarão guardadas para o lançamento do disco, em 8 de setembro.

Enquanto isso, no hemisfério norte, Rodrigo Amarante vai dando os retoques finais no disco que lançará outono euro-americano-do-norte com Fabrizio Moretti, baterista do The Strokes. É bem possível que a estréia internacional de Amarante não chegue ao Brasil por vias tradicionais, mas apenas pelos canais alternativos -ou piratas, se preferirem- da internet. Por vias tortas, os outrora parceiros seguem procedimento semelhante. Do Little Joy nada ainda se ouviu. Mais uma semelhança: o mistério faz parte do jogo de um e de outro. Um reporter da EW.com ouviu algumas músicas enquanto Fabrízio trabalhava na mixagem e declarou: "apenas idéias prazerosas estão reservadas para aqueles que esperarem para ouvir o material sem pré-julgamentos.

Até mesmo na diferença podem se encontrar paralelos. No Brasil, Marcelo Camelo se junta ao Hurtmold em turnê com diversas datas já anunciadas. Na América, o Little Joy se junta ao Megapuss, projeto paralelo de Devendra Banhart - que conta com Fabrizio na bateria - para uma série de shows, informa o Sound Board, blog de música do Los Angeles Times.

Não se surpreendam se o próprio Amarante também estiver envolvido nisso. As duas músicas do Megapuss no Myspace têm guitarras que remetem ao estilo e ao timbre do Ruivo em seu tempo de Los Hermanos. Pode ser apenas influência provocada pela convivência.

O certo mesmo é que na próxima quinta-feira, às 22h15, nem Camelo nem Amarante vão estar com suas tv's ligadas no Multishow para assistir o pouco que sobrou: o show de despedida do Los Hermanos na Fundição Progresso. Os antigos fãs, que certamente estarão ligados na tela, alguns com lágrimas nos olhos, outros ainda com as letras na ponta da língua para serem cantadas a plenos pulmões, já não lhes dizem mais respeito. Camelo fez um disco para ser ouvido com atenção às sutilezas. Suas apresentações serão em teatros com acústica privilegiada, para um público comportado. Amarante está longe fazendo o que lhe der na telha sem patrulhas midiáticas ou repreensões ideológicas de um público que quis molda-lo às suas expectativas movidas a fanatismo.

Camelo assume o compositor que agora é. "Doce Solidão", a música, e Sou, o disco, não deixam margens para dúvida. Amarante, quase anônimo em Los Angeles, curte seus pequenos prazeres na companhia de seus novos irmãos. Para o epitáfio me vem à cabeça os versos finais de "O Vencedor": "faço o melhor que sou capaz, só pra viver em paz".

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Santa Tereza vira território pernambucano em agosto

De 19 a 31 de agosto, Pernambuco vai fincar sua bandeira nos altos de Santa Tereza, mais especificamente no Solar de Santa - Rua Aprazível, 39. O sobrado vai ser a sede da Embaixada Pernambuco, evento que vai trazer o sumo da cultura pernambucana ao Rio de Janeiro.

A música será a atração principal, com apresentações de Siba e a Fuloresta, Academia da Berlinda, Guardaloop e Zé Cafofionho -todos inéditos em palcos cariocas-, os velhos conhecidos Eddie e a cirandeira Lia de Itamaracá, e ainda Vitor Araújo, Coco de Umbigada e Mestre Salustiano. A programação ainda não foi divulgada oficialmente -o que deve acontecer nos próximos dias-, mas estas são algumas das atrações já confirmadas.

Photobucket

A Academia da Berlinda toca nos dias 20, 22 e 28 e no dia 30 se apresenta junto com o Eddie no Circo Voador na 4ª edição do projeto O Som de Recife. Por sua vez, a banda de Fábio Trummer se apresenta na Embaixada Pernambuco nos dias 19, 21 e 28. O Guardaloop, projeto do baterista Hugo Carranca (Bonsucesso Samba Clube, ex-Sheik Tosado e Otto) baseado em samples guardados em seu computador, toca nos dias 23, 24 e 28.

Artes plásticas, cinema, fotografia, design, moda e performances também ocuparão os vastos salões, jardins e varandas do Solar. Enquanto agosto não vem, fiquem com um vídeo de Mestre Salustiano em sua passagem pelo Rio de Janeiro, em maio.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Lica: Winehouse à brasileira

Esta postagem é uma crônica bastante pessoal. Não é uma crítica, embora haja juízos de valor contidos nela. Dada a passagem do tempo, certos fatos dados como verdades absolutas não correspondem a um passado sobre o qual a história não foi escrita. Fica aqui a minha colaboração.

Chica Felina
A primeira vez que vi e ouvi Lica cantar foi em um show da Groove James em uma festa não oficial do Festival de Gramado. O ano não lembro exatamente, talvez 98, ou 99. Com uma blusa de lã cor de rosa com gola rolê, ela dividia os vocais com dois MC's de versos inflexíveis e nenhuma voz cujos nomes não me recordo nem me darei ao trabalho de pesquisar. Pois, daquela apresentação, guardo na memória as interpretações de Lica para "Soul Rebel"-ao mesmo tempo etérea e intensa- e "Imunização Racional (Que Beleza)" -cujos versos nunca tiveram uma tradução mais fiel do que na voz daquela cantora até então para mim desconhecida. Isso em uma época em que o culto à fase racional de Tim Maia estava para começar.

Estaria mentindo se não dissesse que o refrão "Não brinque comigo/ eu não sou seu tamagochi/ minha cabeça tá doendo/ não aguento mais deboche" me pegou ali também. Não pela poética, logicamente, mas pela voz.
Embora fosse uma banda de rock em sua configuração instrumental, o hip-hop dava o tom das canções autorais. Lica, talvez por ser uma cantora, mais do que apenas uma MC, tinha seu espaço restrito a momentos esporádicos para não ofuscar os sofríveis rimadores. Momentos estes que justificavam a existência da banda. Por nunca terem entendido -ou aceitado- que o diferencial da Groove James era Lica, eles nunca foram além do circuito regional. Coisa que a banda que se apresentou em seguida quase conseguiu.

Tudo ou Nada - Clipe dos tempos de Groove James

Coube à Bidê ou Balde fechar a noite com seu rock retrô irônico e piadista. Era a preferida do público presente, majoritariamente formado por colegas do curso de Comunicação Social da PUC-RS, como grande parte dos integrantes tanto da Groove quanto da Bidê. E se já colaborava para eu me sentir deslocado o fato de ser estudante da UFRGS, mais contribuiu minha incapacidade de ver qualquer valor musical ou humorístico na banda liderada pela lenda viva Carlinhos Carneiro. Havia também uma garota que fazia a segunda voz. Sua voz pouco se ouvia. Tinha uma função muito mais decorativa do que musical.

Depois daquela noite em Gramado assisti a muitos outros shows da Groove James, mas ali já ficara claro que ela era a responsável pelo interesse que a banda despertava. Lica chegou a participar do primeiro e único disco da banda até agora, mas logo saiu para seguir carreira solo. Na qual, diga-se, manteve-se no terreno do hip-hop, onde é, hoje, uma MC respeitada e reconhecida. Em 2006, ganhou o Prêmio Hutuz na categoria Melhor Demo Feminina, por Cada Dia; fez apresentações na Europa, onde gravou algumas músicas com nomes do hip-hop local; e arrancou aplausos espontâneos em apresentação em congresso da ONU contra a violência a mulher em Nova York.

Peleia - ao vivo em Congresso da ONU

Por que me veio à lembrança aquela noite na serra há quase 10 anos atrás? Há pouco tempo, alguns integrantes das duas bandas que tocaram naquela noite reuniram-se com outros músicos da cena local para formar o Império da Lã, uma banda que, entre covers variados, se propõe a recriar na íntegra clássicos do pop internacional em apresentações ao vivo.

Lica Winehouse
Para reproduzir Back to Black, de Amy Winehouse, eles convidaram Lica para assumir os vocais, o penteado e a maquiagem. Drogas a parte, o resultado foi sensacional. E se alguns críticos musicais paulistanos choram, lamentam e reclamam que não temos cantoras como a inglesa, depois de assistir aos vídeos da apresentação no Youtube, é possível que eles enxerguem em Lica uma forte candidata. Potência vocal e presença de palco, ela tem.

You Know I'm No Good - Lica e Império da Lã

Que as comparações parem por aqui para que eu não seja levado a mal, mas deu vontade de ver Lica à frente de uma banda explorando todas as suas possibilidades como vocalista e performer para além das limitações que o ritmo e a poesia do hip-hop inevitavelmente impõem à sua musicalidade. O Império da Lã seria a banda perfeita. Nas mãos de um bom produtor, Lica poderia ser não a Winehouse brasileira, mas sim uma Winehouse à brasileira. Até pode-se enxergar uma certa semelhança física entre as duas.

Ídolos internacionais sempre levam vantagem quando comparados aos brasileiros. No pop, permanece vivo o complexo de vira-latas muito bem traduzido por Nelson Rodrigues. Se de antemão haverá de se ouvir que a inglesa é muito mais cantora do que a brasileira, será impossível negar que a nossa é mais linda, mais cheia de graça e também canta que é uma beleza.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Otto apresenta música nova em show no Studio SP

A julgar pelo show na madrugada de sexta para sábado do dia 21 de junho, em São Paulo, as noites do cantor e compositor Otto têm sido perturbadoras. Não pela falta de boas companhias. Com Fernando Catatau e Junior Boca nas guitarras, Curumin na bateria, Ganjaman no teclado e Marcos Axé na percussão, pode-se dizer que o pernambucano tem uma das melhores bandas do Brasil.

Os distúrbios que lhe fazem acordar, ou melhor, viver como personagem de sonhos intranqüilos parecem estar no seu inconsciente. Como conseqüência óbvia, notam-se alguns excessos que, no Studio SP, prejudicaram a sua voz, para ficar apenas no elemento mais importante para um cantor. Por exemplo, fumar cigarros enquanto canta.

Em shows anteriores, os exageros psicotrópicos do cantor faziam parte da festa e não chegavam a prejudicá-lo. Uma apresentação de Otto se vale principalmente pelo divertimento que ele -com suas músicas de poética peculiar e a sua banda- proporciona aos seus convidados. Mas já faz algum tempo que Otto vem sendo acometido por sonhos intranqüilos. Pelo menos desde 2005 já estava definido o nome de seu quarto disco cuja produção já foi finalizada, mas ainda não foi lançado. Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos é inspirado na frase inicial de A Metamorfose, livro de Franz Kafka em que o personagem principal acorda transformado no mais repulsivo dos insetos.

Para quem vem de um disco Sem Gravidade representa uma verdadeira mutação. Naquela madrugada no Studio SP, Otto se debatia no palco, mais do que pulava e dançava, o que também fazia, mas sempre com um certo travo. Desengonçado ele sempre foi, mas o sentimento era o de inadequação, tal qual um personagem kafkiano. Como quem aos poucos se acostuma a uma nova identidade, do meio para o fim Otto foi adquirindo a fluência de palco natural à sua performance.

Então, veio a primeira música do disco novo. A letra e a melodia de "Filha" revelam uma certa melancolia incomum às antigas canções de Otto. Aparentemente, é aí que se opera a metamorfose do cantor, mas é preciso esperar o disco na íntegra para saber até que ponto há realmente uma tranfosrmação. Ainda sobre a música, apesar do título, ela parece se referir antes à mãe do que à filha. Tirem vocês as próprias conclusões:

Otto - Filha - Studio SP, 21/06, 2:30 a.m.


Antes de apresentá-la, Otto abriu ao público suas dúvidas a respeito do lançamento de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos. Produzido de forma totalmente independente por ele e por Pupillo, sem gravadora, o disco não tem uma plataforma definida para o lançamento. Otto diz estar pensando em liberá-lo de graça nas redes da internet. Quando? Imprevisível, bem ao estilo Otto.

domingo, 29 de junho de 2008

3naMassa debuta em palcos brasileiros

Os integrantes do 3naMassa anunciaram hoje, no Myspace, que o show de lançamento do disco Na Confraria das Sedutoras em terras brasileiras acontecerá no dia 10 de julho, no Studio SP, em São Paulo.

Até lá, não faltarão especulações sobre quais das musas abaixo participarão do show.

Rodrigo Amarante lançará disco com baterista do The Strokes

Se o disco solo de Marcelo Camelo já não é segredo, pouco se sabe a respeito dos projetos pós-Los Hermanos de Rodrigo Amarante. Quer dizer, até se fica sabendo, mas sempre depois que eles acontecem. Assim foi quando da participação em Smokey Rolls Down Thunder Canyon de Devendra Banhart, por exemplo. "Diamond Eyes", canção que ele compôs especialmente para uma coletânea organizada por Devendra, não fez barulho por aqui.

Mas é sabido também que Amarante é dado a projetos coletivos e participações especiais. Para ficar em um exemplo óbvio, pense na Orquestra Imperial. Ou no 3naMassa, para quem ele escreveu a letra de "Tatuí". Mas há também a obscura colaboração vocal em O Ciclo da De:cadência, estréia em disco do Cidadão Instigado. E as participações em álbuns de Vanessa da Mata e Adriana Calcanhotto.

Há muito já se ouve falar de um possível projeto paralelo de alguns integrantes do The Strokes envolvendo a participação de Amarante. Agora, através do site da banda nova yorkina, ficamos sabendo que, sob o nome de Little Joy, Amarante, o baterista dos Strokes Fabrizio Moretti e a misteriosa e/ou desconhecida Binki Shapiro vão lançar um disco no outono do hemisfério norte -primavera aqui no Brasil. A data de lançamento deve ser anunciada em breve. O disco vai sair pelo selo britânico Rough Trade Records.

Binki Shapiro em foto: nova parceira musical de Rodrigo Amarante

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Camelo deve lançar disco solo em setembro

As gravações já estão encerradas. No momento, Marcelo Camelo está em São Paulo trabalhando na mixagem de seu primeiro disco solo, cujo lançamento deve ocorrer em setembro, mesma época em que deve voltar aos palcos.

Depois de confirmar shows no Canecão, no Rio, em dezembro, surgiram mais duas datas em sua página no Myspace. No Cine-Theatro Central em Juiz de Fora, no dia 4 de outubro; e na Concha Acústica do Teatro Castro Alves em Salvador, no dia 21 de setembro.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Marcelo Camelo cai na estrada com o Hurtmold

Em pequenas doses, Marcelo Camelo vai revelando algumas pistas sobre o seu aguardado trabalho solo. Sua página no Myspace tornou-se o seu meio de comunicação com o público. Assim como acontecia com o Los Hermanos, o primeiro disco de Marcelo vem sendo produzido em clima de mistério absoluto. "Téo e a Gaivota", tema instrumental levado apenas no violão ao entardecer em uma paisagem litorânea, aparceu ainda em 2007. Em março, "Doce Solidão" foi apresentada em duas versões. Um vídeo com participação de um coro infantil e uma gravação em voz e violão.

Há um mês atrás, Marcelo decretou "oficialmente" o início de sua trajetória solo com o anúncio de que estava finalizando as gravações do disco, que conta com participações de Dominguinhos, da pianista clássica Clara Sverner, de Domênico Lancellotti e da banda paulistana Hurtmold.

Como a turnê está programada para começar em setembro, até lá o disco deve chegar ao público. Nos shows solo, Marcelo Camelo será acompanhado pelo Hurtmold, cujos integrantes são: Fernando Cappi (guitarra e bateria), Guilherme Granado (piano e vibrafone), Marcos Gerez (baixo), Mário Cappi (guitarra), Maurício Takara (bateria, trompete e guitarra) e Rogério Martins (percussão).

Por enquanto, estão confirmadas duas noites no Canecão, no Rio de Janeiro, nos dias 13 e 14 de dezembro, cujos ingressos já estão a venda na internet. Rumores dão conta de que antes disso Marcelo irá se apresentar no Tim Festival 2008 - que acontece entre os dias 22 e 26 de outubro -, e em Salvador, em setembro, possivelmente na Concha Acústica do Teatro Castro Alves.

Os fãs já podem começar a contagem regressiva. Definitivamente, agora falta pouco para que o outrora hermano Marcelo Camelo revele a sua nova fase musical.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

3naMassa ganha o mundo

Com o disco Na Confraria das Sedutoras lançado no exterior pelo selo Nublu Records, o 3naMassa inicia sua carreira nos palcos em shows na França, no Canadá e nos Estados Unidos. Nada ainda foi divulgado sobre a configuração da banda no palco, uma vez que o disco traz uma cantora diferente em cada faixa. De acordo com a edição de maio da Rolling Stone brasileira , existe a possibilidade de que Thalma de Freitas assuma os vocais nas apresentações ao vivo do grupo.

Veja abaixo um vídeo produzido para apresentar o disco aos gringos. Se não apresenta grandes novidades, vale por trazer o núcleo musical do 3naMassa e algumas de suas musas falando sobre o projeto.



Agenda de shows confirmados:
21 jun 2008 20:00 3 Na Massa @ Les Invites de Villeurbanne - Lyon (França)
25 jun 2008 20:00 3 Na Massa @ Nublu 6th Anniversary - NYC, New York (Eua)
27 jun 2008 20:00 3 Na Massa @ Joe’s Pub - NYC, New York (Eua)
29 jun 2008 20:00 3 Na Massa @ Montreal Jazz Festival Montreal (Canadá)
30 jun 2008 20:00 3 Na Massa @ Montreal Jazz Festival Montreal (Canadá)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Prêmio Tim: Rodrigo Maranhão vence em duas categorias

Artista onipresente nestas páginas virtuais, Rodrigo Maranhão merece todos os louvores deste maestro virtual pelos troféus de Melhor Cantor Regional e Revelação do Prêmio Tim 2008 recebidos agora há pouco no nobre palco do Teatro Municipal. Se o Grammy por "Caminho das Águas" ainda não fosse o bastante, agora, definitivamente, o compositor saiu da casca pra tocar na rádio, encher os teatros e encantar mais e mais os ouvidos atentos à beleza de canções que não precisam de nada além de voz e violão para emocionar.

"Quando canta é pra salvar
Quando fala é pra avisar
Quando chega é pra arrastar
as cabeças do lugar
Quando chega é pra encantar
Meu eterno e santo lar..."
(Ciranda)

Os prêmios são para ele, Rodrigo, mas quem ganha é a música brasileira.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Amanhã tem Raphael Gemal em Copacabana

Raphael Gemal faz um som que não se adequa a ouvidos adestrados pelas facilidades do pop ou pela tradição da MPB. Como compositor, constrói harmonias com acordes inomináveis, mistura referências que vão do samba ao blues sem sequer tangenciar os clichês de um gênero ou de outro. Sua poesia é suja e agressiva, reflexo das atribuições do cotidiano em um ambiente urbano. A fuga para a natureza se apresenta como a única alternativa, ainda esporádica, nos ínterins do ritmo urbano escravizante. A chuva na serra libera o cheiro da rosa, faz exalar o capim limão; faz corrediças as águas do ribeirão; faz-se som à luz de vela, à sombra do lampião. Os raios do sol no balanço do mar enfeita de contas vermelhas a rainha das ondas. Lua cheia como é cheio o fundo dos corações que não se deixam arrasar pela inapelável política diária de tédio, caos e destruição.

Amanhã, Raphael Gemal e sua Máquina - musical, que fique claro - se apresentarão no palco da Sala Baden Powell. Copacabana será ao mesmo tempo princesa, bandida e meretriz. Certeza é que vale conferir.

Local: Sala Baden Powell - Nossa Senhora de Copacabana, 360.
Horário: 19:30
Ingresso: R$ 14,00 / Lista amiga e estudante: R$ 7,00
Informações: 2548-0421

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Eddie no Teatro Odisséia hoje

A boa de hoje aqui no Rio, véspera de feriado, é o show do Eddie. A expectativa é que sejam apresentadas músicas novas que estarão no próximo disco da banda - sucessor de Metropolitano -, ainda sem previsão de lançamento.

Depois de uma apresentação no Cinematèque Jam Club, no fim do ano passado, o Eddie volta ao Teatro Odisséia. Sem dúvida o palco mais apropriado para a banda apresentar o seu original olinda style em terras cariocas. Veja abaixo um vídeo da última apresentação da banda no sobrado da Lapa, com a participação de China.



Local: Teatro Odisséia - Av. Mem de Sá 24, Lapa.
Horário: 23:00 (mas o show deve começar por volta da meia-noite)
Ingresso: R$ 15,00 / Lista amiga e estudante: R$ 10,00

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Edu Krieger e Rodrigo Maranhão juntos no palco (e nas telas)

Se este Blog do Pindzim andou abandonado no mês de abril, a culpa foi da dupla Edu Krieger e Rodrigo Maranhão. Mas por um bom motivo. Pindzim, em sua identidade física, está trabalhando em um projeto audiovisual que reúne a dupla de compositores. Por enquanto, trata-se de matéria para discussões na ilha de edição, ainda sem previsão de chegar às telas.

Por coincidência, ou não, Edu Krieger e Rodrigo Maranhão já tinham em mente a realização de um show em parceria cujo formato havia sido experimentado na véspera do carnaval deste ano em uma apresentação no Mistura Fina. Para os shows no Cinemathèque, convidaram o integrante comum às suas respectivas bandas - Marcelo Caldi acrescentou o acordeon aos arranjos de voz, violão e, as vezes, cavaquinho. Não houve necessidade de ensaios, já que o repertório de um é dominado pelo outro e vice-versa. O que se viu no palco foi um encontro de amigos, talvez no clima dos velhos tempos do jardim da Unirio, só que agora, muitos anos depois, diante de uma platéia cativa.

Quando as luzes se acendem, a sétima corda do violão de Krieger faz a marcação para o "Recado" de Maranhão. O samba sem instrumentos de percussão abole as convenções do gênero. Não há apoteose, apenas a canção. Segue assim com a melancolia de "Samba de Um Minuto". O contraponto entre o estrilar agudo das cordas do cavaquinho em oposição a gravidade do 7 cordas aproximam as músicas de sua essência harmônica e melódica. Seriam as composições completamente nuas, não fossem os floreios da baixaria e as variações rítmicas do cavaco. Então, Marcelo Caldi é convidado ao palco com seu acordeon, e o vai e vem do fole com seus altos e baixos constitui o magma sonoro do arranjo instrumental.

Desafio (Edu Krieger)


Encerro estas linhas com um número representativo do clima de intimidade em que transcorreu a noite do último sábado no Cinematèque. Trata-se de uma música de um jovem compositor, ainda nos seus 15 anos, com uma poética baseada em imagens aparentemente desconexas unidas apenas pela beleza e pela delicadeza dos versos. "Três Marias" veio a lembrança de Krieger como a primeira música apresentada por um então recém conhecido colega de faculdade chamado Rodrigo Maranhão. Já foi possível a ele reconhecer ali uma identidade estética e musical ainda inconsciente ao próprio compositor.

Três Marias (Rodrigo Maranhão)

Foi uma noite em que Edu Krieger e Rodrigo Maranhão abriram suas intimidades ao público. Brincadeiras a parte, o que se sobressaiu foram as músicas. Juntos, eles recriaram suas músicas de forma a destacar a carpintaria da composição. Krieger brilhou em seu momento solo e teve "Novo Amor" e a "Lua é Testemunha" entoadas em coro pela platéia. Maranhão cantou com os olhos fechados, um convite à transcendência, e apresentou novas canções - "Passageiro" e "Samba de Mar" - que deixam grandes expectativas pelo porvir. O que aqui não foi dito fica por ser visto e ouvido no próximo dia 24. Ao vivo não tem explicação!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sonantes serão ouvidos antes no exterior

Se já haviam conseguido criar uma lenda virtual a partir de uma página no Myspace, chegou a hora de os Sonantes tomarem de assalto o espaço tridimensional. A dominação sonora terá início nos Estados Unidos e na Europa e já tem data marcada. O primeiro disco do projeto, nascido a partir da reunião da cantora Céu com Pupilo e Dengue, da Nação Zumbi, e Rica Amabis, do Instituto, por ocasião da gravação do disco do 3naMassa, e que conta ainda com a participação do compositor e produtor Gui Amabis, será lançado lá fora no dia 20 de maio, pela gravadora Six Degrees.

O processo de composição e gravação do disco obedeceu aos princípios da amizade e da afinidade musical entre cada um dos integrantes. "Devido à confiança mútua e à abertura a experimentação musical característica a todos os envolvidos no projeto, não foi nenhuma surpresa que o processo de composição do disco tenha rolado de uma forma imprevisível e descontraída", declarou Rica Amabis em depoimento no site da gravadora. Sempre que alguém apresentava uma canção, todos trabalhavam nela reunidos em torno do computador em um estúdio caseiro improvisado no apartamento do próprio Rica. Para Céu, seu disco de estréia era quase um "diário pessoal" e com os Sonantes ela quis fazer um som diferente, que não partisse exclusivamente da sua personalidade artística: "a idéia era que cada um cedesse o controle aos outros sem abrir mão de sua própria identidade musical, todos nós contribuímos com sugestões e idéias ao longo do processo".

Às já velhas conhecidas quatro músicas disponíveis no Myspace, uma nova foi adicionada esta semana. "Quilombo te Espera" remete à África. O batuque dos tambores ancestrais sob uma guitarra elíptica, a lírica de contornos épicos que evoca a resistência, ora pela força, em convocação à guerra, ora pela cultura, pelo rufar dos tambores que anunciam a sambada, em contraponto ao doce cantar de Céu.

Outras músicas que estarão no disco são "Toque de Coito", em que um sintetizador emula a sonoridade de uma guitarra elétrica misturada a elementos tradicionais da música brasileira. A faixa conta com a participação de Siba no vocal; "Mambobit" revisita o universo do samba-jazz; "Defenestrando" é um rock pulsante com múltiplas camadas de de baixo acústico e elétrico e um sintetizador analógico sci-fi que remete ao repertório do 3naMassa; "Frevo da Saudade", que está na coletânea Frevo do Mundo, lançada pela Candeeiro Records, também foi incluída no repertório do disco.

Até agora praticamente ignorado pela mídia brasileira, o disco dos Sonantes ainda não tem previsão de lançamento no Brasil, mas logo, logo deve chegar aos fãs mais antenados via mp3. Enquanto isso, "Quilombo te Espera" pode ser baixada aqui.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bordado é lançado no Japão com 2 faixas bônus

Um dos melhores discos brasileiros de 2007 acaba de ser lançado no Japão. Bordado, estréia solo de Rodrigo Maranhão, traz duas faixas bônus em sua edição japonesa. "Samba de Um Minuto", sucesso nos shows da cantora Roberta Sá, ganhou um registro na voz do seu próprio compositor em dueto com Zé Renato. A outra é "Mantra", parceria de Rodrigo e Pedro Luis, que é presença constante no repertório dos shows. Gravada por Maria Rita, a música foi incluída como faixa oculta de Segundo - o mesmo em que a cantora gravou "Caminho das Águas" e "Recado" - em uma versão que se mantém na obscuridade devido ao seu deslocamento em relação ao conjunto das canções 'oficiais' do disco. "Samba de Um Minuto" e "Mantra" serão incluídas na próxima tiragem da edição nacional de Bordado.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Hype em versão brasileira

Fenômenos espontâneos surgidos a partir da internet que tomem de assalto as velhas mídias ainda não fazem parte da realidade virtual da música brasileira, mas a necessidade - ou o desejo - de encontrar um(a) artista pioneiro é capaz de produzir eventos artificiais. Em inglês, o termo que descreve esse reconhecimento espontâneo e contagiante é o hype. Como na língua portuguesa não há expressão similar - a mais próxima seria a pejorativa "moda" -, nada mais natural que em terras brasileiras o hype se faça ouvir em músicas cantadas em um inglês irregular.

Mallu Magalhães, menina paulista de 15 anos, de jeito tímido, modos delicados, sorriso ingênuo e voz ainda instável, foi a escolhida. Preferiu debutar no Myspace ao tradicional baile embalado pela valsa de salão. Suas canções folk melancólicas de poética nonsense saíram diretamente da internet para as telas da televisão aberta e fechada, da Globo a MTV, passando pela Play TV do filho do presidente. Não foram às rádios porque estas ainda vivem do modelo falido herdado dos tempos de pujança das grandes gravadoras. O jeito sem jeito da pequena Mallu foi parar nos cadernos de cultura, até mesmo na capa da Ilustrada em foto posada para emular similaridades britânicas. Além, é claro, dos suplementos adolescentes, onde manifestações de fúria e rejeição em forma de cartas de leitores superaram em muito uma possível idolatria. E, surpreendentemente - ou não? -, nas páginas de revistas de perfis variados, das semanais às especializadas em música e cultura pop. O espaço cativo no perfil recomendado do Myspace Brasil veio a calhar para a empresa. Graças a Mallu, uma artista nascida e criada nas páginas do portal, a versão brasileira garantiu uma enorme quantidade de acessos ao site.

Não acredite no Hype!
Quando Lúcio Ribeiro, Álvaro Pereira Jr, Thiago Ney e Humberto Finatti concordam em avalizar e exaltar uma cantora brasileira de 15 anos de idade e pouco mais do que cinco músicas lançadas é de se desconfiar. Afinal, estamos acostumados aos comentários de um que diz que nada feito no Brasil presta. De outro, que as cantoras brasileiras ficam todas a dever as estrangeiras por causa das letras, abstendo-se de julgar a música. Do primeiro e do último até se entende. Um é o grande responsável pelo Hype, através de seu Poploaded baseado no IG. O outro está sempre pronto a embarcar em ônibus lotados e ir logo sentando na janela. Ao seu lado, sentou-se Serginho Groisman, a quem ele poderia ter dado algumas lições para que o apresentador da Rede Globo não demonstrasse um constrangedor desconhecimento a respeito do grande fenômeno cultural do momento. Seu despreparo era tamanho diante da pequena Mallu que teria sido melhor ter dado a palavra a Zeca Pagodinho, que a ouvia cantar com um enigmático sorriso no rosto, apesar da distância entre os universos da malandragem carioca e da modernidade paulistana. Jô Soares, então, deve ter ficado de fora. Obrigado a segui-la a bordo de seu carro particular blindado e com vidros totalmente escurecidos pelo insulfilm, nem por isso ficou menos a vontade para falar, como sempre sem o menor interesse em ouvir.

Mallu diante de mais um de seus descobridores: o "bem informado" Serginho Groisman


E alguém chega a ouvir? Claro que sim. Embora não haja justificativas musicais suficientes que façam de Mallu 'a escolhida', ao menos pelo que dela se ouviu até agora, não há qualquer vestígio de falsidade ou de auto-promoção em suas canções. Há uma ingenuidade sincera, quase infantil, embalada por melodias delicadas muitas vezes traídas pela afinação de uma voz em formação, especialmente em apresentações ao vivo. Ao folk, que vive um período fértil no Brasil especialmente graças ao Vanguart, esta sim uma banda renovadora, cujos integrantes desde cedo a acolheram por acreditarem em seu potencial, Mallu nada acrescentou. No máximo emprestou-lhe um frescor juvenil que pode ser igualmente encontrado nas canções de Stephanie Toth, a outra representante do folk-teen paulistano a quem não foi concedido o benefício do hype. Tal é a similaridade que uma teria de ser necessariamente 'a escolhida'.  

E foi Mallu. Uma artista tão jovem, sem pudores em desnudar seus sentimentos e fragilidades, especialmente enquanto cantora e compositora, é capaz de cativar aos seus iguais, jovens que como ela começam a experimentar a vida a partir de uma janela bidimensional, aberta ao impalpável, totalmente apartada daquilo que aqueles que a elevaram a fenômeno midiático teimam em tomar por real. Não, seus jornais, suas revistas e seus programas de TV só servem para aqueles que ainda precisam de um guia que lhes proteja das idiossincrasias da cultura livre. No caso de Mallu, sua música é o próprio guia. Quem sabe ela seja a primeira representante da segunda geração de uma cena nascida espontaneamente a partir do Vanguart? Sempre haverá quem diga: não vá dizer que eu não avisei. A questão é: eu quem?