Está em todos os principais veículos de mídia online: Otto tem matéria elogiosa publicada no New York Times, onde é definido como um "Moby das terras de dentro". Sobre o disco novo que está para sair e ainda não tem distribuição garantida no Brasil, poucas ou nenhuma palavra. Provavelmente, porém, ganhará a devida atenção depois de ter recebido a chancela do diário americano quando for lançado no Brasil.
Otto faz pose para as lentes do New York Times
Pautado pelo imediatismo descartável da torrente informativa, nossa grande mídia online deixou passar em branco as duas músicas de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos que podem ser ouvidas na página onde se lê a matéria de Larry Rother, ex-correspondente do jornal do Brasil que entrou em polêmica com Lula ao noticiar seu gosto por tomar umas e outras. Aliás, é certo que os jornalistas virtuais que assinam seus textos pela corporação como se fossem programados por código binário, uma nova classe profissional a que a denominação perfeita seria a de reprodutores da informação, mostra que não passou do primeiro parágrafo da reportagem, gênero ao qual eles não estão habituados a exercitar.
Mas estão lá "Janaína" e "Saudade". A primeira versa sobre orixás do candomblé em cima de uma base de guitarra rítmica que acompanha a marcação da bateria de Pupilo, coprodutor do álbum. Um saxofone pontual preenche o arranjo fazendo contrapontos melódicos ao vocal de Otto e as vezes abre espaço para elegantes solos de guitarra.
A segunda é mais tranquila, com percussão discreta e uma guitarra chorosa, e é representativa da "melancolia eperançosa" da qual Otto fala em uma video-reportagem no Facebook . Enquanto o anterior "Sem Gravidade" fora feito sob a égide da descoberta do amor Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos capta o momento turbulento da separação - há menções veladas, algumas mais outras menos explícitas ao fim do casamento com a atriz Alessandra Negrini - e versa sobre a dor e a delícia de se estar só. "Na vida tudo pode acontecer / partir e nunca mais voltar. / Como um bom barco no mar, eu vou, eu vou", canta Otto.
Só, mas nem tanto. No disco novo, Otto tem a companhia da mexicana Julieta Venegas em duas faixas e a de CéU em uma. Aliás, por estas duas faixas disponibilizadas pelo NYT, o novo trabalho apresenta-se como um primo de Vagarosa: caprichosamente produzido, sem pressa, com letras simples, que tratam do amor, da natureza e de entidades da cultura popular brasileira. Além disso, ambos saíram antes nos Eua e tiveram a participação de músicos em comum, como Fernando Catatau e do supracitado Pupilo.
A própria CéU reconhece o fenômeno magistralmente definido por Nelson Rodrigues como complexo de vira-lata. Se o trabalho repercute antes lá fora, ganha ressonância muito maior aqui. "Uhhhh, vira-lata / não me importa / quem tu és..."
Não se pode, porém, culpar os reprodutores da informação. No infinito universo da web o que lhes sobra de notícias instantâneas, falta-lhes de referências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário