É cada vez mais comum que discos de artistas brasileiros sejam lançados no exterior antes de saírem aqui. Não faz grande diferença, pois, praticamente ao mesmo tempo, acabam chegando via mp3, muitas vezes disponiblizados pelos próprios músicos, e só depois são lançados em seu formato físico, sem prejuízo, mas também sem lucro.
Assim será com Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, quarto disco de Otto. Com lançamento previsto para 1º de setembro, nos Estados Unidos, pelo selo Nublu, ainda não há distribuição garantida por aqui. Conforme contou em conversa na palteia do show do Los Sebozos Postizos na última sexta, no Rio, o disco deverá ser lançado no Brasil pela Rob Digital. Como o acordo ainda não está fechado, a data é incerta. Em previsão otimista, acredita que saia em outubro.
Ano passado, com o disco finalizado, mas sem a estrutura de uma gravadora ou de um selo de distribuição por trás, Otto chegou a anunciar que utilizaria uma plataforma digital para distribuí-lo. Acabou desistindo, em parte por falta de uma alternativa eficaz, capaz de alavancar sua divulgação, mas também por ter surgido a proposta da Nublu. O cd é o última ponta de toda uma cadeia que se desmanchou e da qual alguns nem chegaram a fazer parte, mas ainda faz sentido para a geração atual, que, com lançamentos sensacionais, vem fazendo de 2009 um ano histórico para a música brasileira (assunto para ser tratado a fundo em outro texto).
Otto em apresentação no Studio SP no ano passado adiantando uma canção do novo disco
Poucos conseguem explicar esse paradoxo: por que ainda há a necessidade do lançamento físico do cd? A resposta deve vir das demandas do público, essa entidade híbrida e cada vez mais abstrata. Lucas Santtana acaba de lançar Sem Nostalgia em duas frentes. Primeiramente, disponibizou o cd completo para download, com capa, encarte e boa qualidade sonora (320 kbps), que agora chega às lojas.
Lucas já assinou o atestado de óbito do cd, falta apenas preencher a data. E vai além: não é apenas a mídia que está migrando do formato físico para o virtual. Mas também o público. A lógica é a seguinte. Se a música pode estar acessível em qualquer lugar, através de um computador e um mp3 player, parte do público de um artista é também "imaterial". Existem fãs que jamais comprarão o cd ou irão a um show, seja por falta de interesse ou impossibilidade, embora possam ter a obra completa, faixas remixadas, participações especiais em discos de outros músicos, tudo organizado em arquivos digitais de som e imagem no próprio computador ou ao alcance de um clique em sites e blogs na internet. Paradoxalmente, esses mesmos fãs imateriais podem estar mais próximos dos músicos que admiram, fazendo contato via Myspace, blogs, sites oficiais, etc, do que aqueles que vão até o camarim depois do show para uma foto e um autógrafo. São eles que vêm aí.
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