Faz pouco Alessandra Leão liberou as primeiras músicas de seu segundo disco, intitulado Dois Cordões (capa ao lado). Sai praticamente junto com Copo de Espuma, o segundo de Isaar, sua ex-companheira de Comadre Fulozinha, assim como acontecera em suas estreias solo depois de abandonarem a banda.
As semelhanças não param por aí. A obra autoral das duas compositoras arranca as raízes das tradições nordestinas e, embora nem uma nem outra abandone as bases percussivas como alicerce fundamental a sustentar as estruturas de suas canções, procura ir além do campo folclórico sobre o qual se debruçavam na banda, adicionando instrumentos de cordas, criando linhas melódicas elaboradas nos vocais, e, por vezes, experimentando uma poética mais atual e urbana.
Mas há uma diferença fundamental. Enquanto na música de Isaar o norte parece ser a busca de uma vertente própria no universo do pop pernambucano, com uma modernidade filtrada pela tradição, com a eletricidade em primeiro plano, talvez por influência de sua experiência com DJ Dolores na Orquestra Santa Massa, a de Alessandra faz o percurso inverso. Parte da tradição, adicionando experimentações e elementos estranhos aos cânones da música nordestina para que desta evocação surja alguma novidade. Possivelmente devido à sua parceria criativa com Caçapa.
Tomem-se como exemplo duas músicas novas inevitavelmente associadas a outros nomes da cena pernambucana. Em "Atirei", o riff grave da guitarra tem uma função rítmica, de acompanhamento à percussão. Alessandra canta em dueto com Jorge du Peixe: "Atirei, mas não vi / a bala rasgou o ar / não era bala morteiro / não era para matar", ela canta, ao que Jorge responde: "Eu não atirarei / não venha apontar / o peso do disparo / quem foi disparar / Não posso estancar / o sangue que jorrei / se vai não voltarei / parou pra atirar / A bala rasgou / o corpo tombou."
Alessandra Leão e a sua rede
O que imediatamente vem a cabeça è o "Maracatu de Tiro Certeiro", parceria do atual vocalista da Nação Zumbi com Chico Science. E é uma pena não saber se neste caso se trata de uma parceria entre Jorge e Alessandra. O disparo inicial partiu de Chico e era mesmo para matar os cadáveres insepultos, "como bala que já cheira a sangue", abrindo caminho para toda uma geração. O Comadre Fulozinha foi uma das bandas do primeira geração do mangue-bit. O diálogo permanece e faz todo sentido.
Isaar foi buscar no repertório do Cordel do Fogo Encantado "O Circo do Palhaço sem Futuro", da qual sua interpretação exclui todo o drama e o peso da poesia original resultando em uma versão anódina cujo arranjo transita entre o reggae, o tango e a marcha-rancho - um exercício de hibridismo pop que, negando a letra, não faz o circo pegar fogo.
Pelas prévias oferecidas no Myspace, Alessandra parece dar um passo adiante com Dois Cordões. Copo de Espuma mantém Isaar no mesmo lugar. Como nos discos de estreia, a música de Alessandra é mais abrangente e variada. A de Isaar mais uniforme e monótona, ainda que seja inegável a beleza pungente de sua voz e haja acertos em algumas composições - na faixa-título do novo álbum, por exemplo.
Comparações assim, entre ex-integrantes de uma mesma banda, são sempre desnecessárias e arbitrárias, afinal todo juízo de valor é uma questão de gosto, além de indelicadas. Enfim, uma não exclui a outra e deve haver quem faça julgamento oposto. No fim, eu diria que as duas estão exatamente onde gostariam de estar e isto é o que interessa a um artista.
Isaar e a sua praia
A propósito, o terceiro vértice do triângulo original do Comadre Fulozinha é Karina Buhr, cuja carreira solo ainda não resultou no lançamento de um álbum, embora, ao que parece, sua estreia esteja a caminho. Radicada em São Paulo, mantém-se vinculada às tradições pernambucnas dando prosseguimento ao Comadre e, sozinha, experimenta uma miríade de possibilidades transitando na cena local.
Um comentário:
Opa...blog muito bom.
tava procurando noticias do novo trampo da Céu, mas achei muito mais.
Ate mais...ganho um leitor assiduo.
abçss.
Faça um comentário e deixei um blogueiro feliz!!
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