quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Céu: shows no Rio hoje e amanhã

Quase em segredo a cantora Céu se apresenta hoje e amanhã no Rio de Janeiro inaugurando o novo Mistura Fina - agora em Ipanema, na esquina da Rainha Elizabeth com a Vieira Souto. Serão quatro apresentações, duas em cada noite. A primeira marcada para às 20h e a segunda para às 22:30h. A informação foi divulgada ontem em sua comunidade no Orkut e não há grande divulgação, mas não poderia haver nome melhor para a reabertura do nobre espaço musical.

Depois de causar sensação em Salvador com uma apresentação que atraiu muito mais público do que o espaço comportava, deixando muitas pessoas de fora, e de mais uma bem-sucedida turnê pelos Estados Unidos, a cantora volta ao Rio de Janeiro, onde até agora havia feito poucas e pontuais apresentações: Humaitá pra Peixe, Tim Festival, Palco MPB e no Vivo Rio. Finalmente o Rio de Janeiro a recebe sozinha em um palco a altura. Imperdível.

Serviço:
Céu no Mistura Fina
Dias: 29/11 (qui) e 30/11 (sex)
Horário: 20h e 22h30 (2 showS nos 2 dias)
Preço: R$40,00
Endereço: r. Rainha Elizabeth, 769, Ipanema
Horário da bilheteria: de 14h às 20h antecipado e de 14h até o início do show nos dias dos shows.
Formas de pagamento: dinheiro ou cheque (por enquanto a casa ainda não aceita cartões)

Marcelo Camelo apresenta música nova

Téo e a Gaivota
Marcelo Camelo apresentou uma música nova em sua página no Myspace e no Youtube. Registrada em vídeo, tendo como pano de fundo uma bela paisagem praiana ao entardecer, "Teo e a gaivota" é instrumental, levada apenas no violão sobre o murmúrio das ondas que quebram ao fundo. De imediato, o cenário e o dedilhado intrincado nas cordas do violão evocam as canções praieiras de Dorival Caymmi:

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Academia da Berlinda: cumbias e guarachas ao estilo pernambucano

Texto publicado originalmente na 12ª edição da Revista O Dilúvio

Academia da Berlinda - a banda
Se a efervescência musical de Recife não reverbera como deveria nos palcos da cidade devido a uma suposta pasmaceira que, dizem, tomou conta dos produtores da cidade, os músicos se mobilizam para viabilizar os próprios shows. Foi assim que, em 2004, tendo como desculpa a inauguração da casa do produtor francês Marc Rennier, que amigos de diferentes bandas locais se reuniram para formar o coletivo que resultaria na Academia da Berlinda.

A proposta era botar a galera para dançar agarradinho, tipo gafieira, no quintal da casa. A festa começou sem um repertório pré-definido, as músicas iam surgindo no palco à medida que um ou outro integrante as puxava. "Rolou muito Aldo Sena e The Pops", relembra o baixista Yuri, guitarradas improvisadas e cumbias ancestrais. O espaço foi tomado de assalto por 350 pessoas – quando comportava no máximo 100 -, exceto o dono da casa, que ainda não havia chegado à cidade. Entretanto, ele não demoraria a conhecer a original mistura de ritmos latinos e caribenhos com a ciranda, o coco, o samba de matuto e a lambada, representantes da tradição popular brasileira. A festa acabou, mas a receptividade dos convidados – e também dos penetras – ao som foi um indicativo de que aquela era uma banda mais do que bem vinda. Era, de fato, necessária para agitar a cena pernambucana.

A partir do sucesso inicial, a banda continuou a produzir as próprias festas-show. Uma vez estabelecida, surgiu a necessidade de dar-lhe um nome. Entre as opções sugeridas pelo bateirista e percussionista Tom Rocha, chegou-se rapidamente a um consenso. É costume entre os integrantes da banda tirar onda um do outro no palco, nos ensaios, nos encontros, enfim, o tempo todo. Do centro das atenções à berlinda. Se essa prática é exercida com continuidade e intensidade, logo ela é uma academia. E assim ficou: Academia da Berlinda.

Nascida como um projeto paralelo de seus integrantes, uma vez que todos têm suas bandas oficiais, a Academia da Berlinda acabou tomando proporções maiores na carreira de seus integrantes. A ênfase nos ritmos latinos fez com que a banda fosse convidada para tocar em tradicionais redutos da “família cubana” em Recife, como o clube Bela Vista, normalmente frequentado por um pessoal que já gastou mais de uma centena de chinelas ao ritmo do arrasta-pé e não é muito dado a modernidades, digamos assim. Ao primeiro compasso, porém, tomaram seus pares e se misturaram aos jovens fãs de primeira hora da banda, promovendo um encontro de gerações raramente visto nas grandes metrópoles brasileiras. Assim foi também no Clube das Pás e a Academia da Berlinda se consolidou no circuito de bailes da cidade.

Academia da Berlinda - o disco
A partir deste convívio nos palcos da cidade surgiram composições próprias. “Academia da Berlinda” e “Envernizado” foram as primeiras a virem à luz, distribuidas por email aos mais antenados, que logo a espalharam pela rede. Um clipe de “Cúmbia do Lutador” gravado ao vivo e disponibilzado no Youtube reforçou as expectativas em relação ao disco de estréia da banda, auto-intitulado Academia da Berlinda, encartado na 12ª edição da revista O Dilúvio.

O disco foi uma conseqüência natural da acolhida que a banda teve em suas apresentações ao vivo. O público pediu e em fevereiro de 2007 a banda entrou em estúdio. As músicas vinham sendo trabalhadas e lapidadas ao longo de três anos de estrada. O vocalista Tiné tem participação em pelo menos metade das composições, com destaque para “Comandante”, cuja letra homenageia Pinduca, mestre paraense do catimbó; “Ciranda Enrustida”, em que a tradição melódica circular da ciranda é subvertida pelo diálogo entre o riff da guitarra e a sinuosidade do teclado; o clássico inaugural “Envernizado”, que conta com a participação de Jorge du Peixe, da Nação Zumbi, nos vocais; e o contagiante hino revolucionário “Cumbia do Lutador”.

O hino oficial, “Academia da Berlinda”, e “Naguê”, cantada em dialeto africano, são assinadas coletivamente. “Brega Francês”, de Yuri Rabid e Hugo Gila, apela a um micro korg encharcado pelas lágrimas de um homem abandonado para criar um clima de boate-cabaré de beira de estrada em que francês e português se misturam promiscuamente reforçando a dramaticidade do apelo: “estou cansado de te esperar, estou cansado de tentar te encontrar”. O emblemático Erasto Vasconcelos presenteou-os com “Mama me Queira” e Fred 04 injetou suíngue no samba torto “Se ela gostar”.

Felizes com a receptividade do disco apesar das dificuldades de distribui-lo e de divulgá-lo de forma totalmente independente, a banda revela ter planos de apresentar o show para além das fronteiras pernambucanas. Ainda sem datas confirmadas, o primeiro alvo é o Sudeste, e em um segundo momento os estados do Sul. A idéia é montar uma base em São Paulo e de lá fazer a ponte com outras cidades.

Enquanto isso, caso você não seja pernambucano ou não tenha tido o privilégio de assistir à Academia da Berlinda ao vivo, coloque o disco pra rodar e vá preparando a sola do sapato para cair na dança, agarradinho, ao som de cumbias, guarachas e merengues, um brega novo e original perfeito para ser ouvido num clima de brincadeira e fantasia como devem ser os momentos de maior diversão.

Obs: o disco está disponível para download no site de O Diluvio.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Rodrigo Amarante e Devendra Banhart: parceria frutífera

Já é mais do que sabido que o (ex-?)hermano Rodrigo Amarante participou ativamente do mais recente disco de Devendra Banhart, Smokey Rolls Down Thunder Canyon, tocando guitarra, violão, piano, tabla, uquelelê, fazendo vocais de apoio e até mesmo cantando uma música em dueto com o americano - "Rosa". Conforme Amarante declarou à Rolling Stone brasileira, o processo de produção do álbum, todo gravado em uma casa em Topanga Canyon, Califórnia, foi feito da forma como ele muitas vezes planejara fazer com o Los Hermanos, porém jamais conseguira de fato realizar: "alugar uma casa em um lugar isolado e ficar morando lá, fazendo as músicas e gravando".

No making of do disco disponibilizado no Youtube há imagens de Amarante interagindo com Devendra, embora não apareça tocando, pois a música que serve de trilha sonora e espinha dorsal para a edição das imagens é a extensa "Sea Horse", na qual, aparentemente, ele não colaborou. Também aparecem no vídeo imagens do ator Gael Garcia Bernal que participou do disco cantando "Cristobal". Sinta o clima em que transcorreram as gravações:



A carreira internacional de Amarante deve continuar, de acordo com o próprio Devendra. Em entrevista recente citada no blog Ilustrada no Pop, ele sugeriu que em breve o brasileiro deve realizar algum trabalho com os Strokes, ou pelo menos com alugns de seus integrantes. Além disso, Devendra trouxe à luz a primeira composição em inglês de Amarante. "Diamond Eyes" integra "Acid Folk", uma coletânea compilada pelo americano para a revista Uncut. E as novidades não param por aí. Assim como Marcelo Camelo, Amarante criou sua própria página no Myspace, onde disponibilizou uma versão em voz e violão de "Evaporar" diferente daquela registrada no disco "Duos", do guitarrista Lanny Gordin. Bonito.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Show: Bebeto Castilho no Cinematèque Jam Club

Em duas semanas o público carioca teve a oportunidade de assistir a três shows do cantor, baixista e flautista Bebeto Castilho, ex-Tamba Trio. É muito, levando-se em conta que há tempos ele não se apresentava na cidade. Salvo engano, foram os primeiros shows desde o lançamento do seu segundo disco, Amendoeira, quando se apresentou na Modern Sound. Mas é pouco se pudermos mensurar o prazer de ouvi-lo ali tão próximo como nos shows no J. Club e no Cinematèque Jam Club. Sua voz suave entremeada pelas melodias flutuantes que ele carinhosamente extrai de suas flautas transversas desfiando um repertório divinal que passeia por diversos momentos de sua carreira.

O ambiente de ambas as casas combinado à sonoridade calcada na tríade baixo, piano e bateria evocam o passado romântico do Rio bossa-nova. A adição de um cavaquinho em "Ora ora", primeira música do show, dá o tom do samba-jazz de Bebeto e sua banda. O molejo matreiro do samba se mistura à riqueza harmônica do jazz sem ceder ao cerebralismo ou esgarçar-se em improvisos enfadonhos. Quando o cavaquinho é abandonado no fundo do palco para praticamente não mais voltar à cena, o piano cai no samba, enquanto o baixo flerta o tempo inteiro com o ritmo, tal qual um surdo de cordas, mantendo um diálogo permanente com a bateria do excelente Ivo Caldas.

No show do Cinematèque, na última sexta-feira, Bebeto recebeu o sobrinho-neto Marcelo Camelo para uma participação especial - no mesmo dia que Ancelmo Góis, em sua coluna no jornal O Globo, revelou que ele deve entrar em estúdio para gravar um disco solo. Era certo que ele cantaria "Porta de cinema", registrada em dueto pelos dois em Amendoeira. A surpresa ficou por conta da outra música escolhida, a primeira a ser cantada por Marcelo no show. Foi "Batuque", samba que abre o disco de estréia de Bebeto, gravado em 1976 quando ele sequer era nascido. Marcelo emprestou melancolia à canção em uma interpretação apaixonada deixando as reverências para o final quando aproveitou para fazer graça da dificuldade de se encontrar e, conseqüentemente, de se ouvir a este belo disco nos dias de hoje, do qual ele ainda cantaria, em um espanhol embriagado, "Deja-me ir".

Infelizmente, esta foi a única música registrada pela Tuba do Pindzim, ainda assim incompleta, pois a bateria da câmera acabou durante a execução. Mesmo tendo perdido o coro final, resolvi disponibilizá-la pelo ineditismo e a nobreza do encontro e da interpretação. Aí está:



Marcelo ainda voltaria no bis para cantar "Isaura" e "A vizinha do lado", na qual chegou a empunhar o cavaquinho mas não chegou a arriscar nenhum acorde. Perfeita despedida, feita a ressalva de que não é justo esperar tanto tempo para assistir a um show de Bebeto Castilho.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Especial Clara Nunes - Parte 5 (Final)

Última morada


Recuperada do baque e da cirugia, Clara voltou à cena no desfile da Portela no carnaval de 1980. Em seguida, deu-se sua aproximação com Chico Buarque, que a convidou a participar de uma caravana de artistas que se apresentaria em Angola. Durante a viagem, os dois se tornaram amigos e Clara pediu uma música ao compositor para incluir no seu próximo disco. O repertório já estava praticamente fechado quando Chico entregou-lhe "Morena de Angola". A canção foi o grande sucesso de Brasil Mestiço e tornou-se, para sempre, mesmo depois que o próprio Chico a gravou, associada a Clara. No clipe da música gravado para o Fantástico a cantora apresentou seu novo visual, com um penteado de inspiração afro-brasileira idealizado pelo maquiador Guilherme Pereira. A participação de modelos caracterizados como nativos africanos dançando em meio a grandes plantações evoca a realidade do continente. A imagem de Clara dançando e cantando é uma das mais fortes lembranças que se mantêm no imaginário dos fãs da cantora.



Puxado pela canção que transformou o disco em mais um grande sucesso na carreira da cantora e rendeu-lhe o cobiçado Troféu Roquette-Pinto, Brasil Mestiço trazia mais uma vez composições de Candeia ("Dia a dia", em parceria com Jaime, e Regresso"), Nelson Cavaquinho ("Ninho Desfeito", em parceria com Wilson Canegal), quatro de Paulo César Pinheiro ("Meu castigo", "Sem companhia", com Ivor Lancellotti; "Brasil mestiço santuário da fé", com Mauro Duarte; e "Estrela Guia", com Sivuca). O disco foi levado aos palcos em um espetáculo intitulado Clara Mestiça, no qual a cantora foi acompanhada pelo Conjunto Nosso Samba acrescido de um naipe de metais. Pode-se sentir o clima do espetáculo neste vídeo de "Peixe com coco", um samba rasgado de Alberto Lonato, Josias e Maceió do Cavaco, que se converteu no outro grande destaque do disco.



Na esteira do sucesso do álbum e do show, a cantora entrou em estúdio novamente para gravar Clara. Ao lado de Nação, que seria o último da carreira da cantora, é um dos melhores representantes da riqueza e da diversidade de ritmos e gêneros musicais brasileiros interpretados pela cantora. As vendas, entretanto, já não repetiam os grandes êxitos do passado. Em 1978, Maria Bethania superou a marca de 1 milhão de discos vendidos com Álibi, número jamais alcançado até então por qualquer outra intérprete na história da música brasileira. A baiana consolidava-se como a cantora de maior sucesso comercial do país enquanto alguns veículos de mídia alardeavam o declínio nas vendas dos LP's de Clara. A cantora, como de costume, não se deixou abater. Reconheceu a queda, mas justificou: "prefiro vender 300 mil cópias a 600 mil, com uma proposta mais consistente do ponto de vista do repertório". E realmente, além do onipresente samba, os repertórios de Clara e Nação trazia afoxé, ijexá, congada e forró.

Alguns anos depois de ter se apresentado no Midem, em Cannes, Clara foi convidada a voltar à Europa. Agora, se apresentaria na Alemanha e seria novamente aclamada por público e crítica. "Portela na Avenida", grande sucesso de Clara levava os estrangeiros ao êxtase. Era o princípio de uma carreira internacional. Em agosto de 1982, Clara chegava ao Japão, onde, além de fazer shows, gravou um especial para a televisão japonesa.



Depois do Japão, Clara se apresentaria ainda em Cuba, integrando mais uma caravana organizada por Chico Buarque. De volta ao Brasil, gravou o clipe de "Nação" para o Fantástico e começou a se preparar para o carnaval, tendo programado uma cirugia plástica para a retirada de varizes para logo depois da folia. Embora já houvesse chegado aos 40 anos, Clara mantinha-se uma mulher exuberante, como se pode ver no clipe de "Ijexá", último gravado pela cantora, em Salvador. Mas as pequenas imperfeições estéticas em suas pernas feriam a sua vaidade. Em 5 de Março, Clara deu entrada na Clínica São Vicente para submeter-se à cirugia. Auto-suficinete, a cantora chegou sozinha dirigindo o próprio carro. Uma suposta reação alérgica causada pelo anestésico fez com que Clara sofresse uma parada cardíaca que redundou em um estado de coma e conseqüentemente em morte cerebral. A cantora ficou 28 dias nesse estado, causando uma comoção nacional. Os fãs faziam vigília na porta da clínica. Teses sensacionalistas, as mais estapafúrdias, eram levantadas pela imprensa até a sua morte em 2 de abril de 1983.

Como última homenagem do Blog do Pindzim, apresentamos esta colagem de clipes que terminam com a imagem emblemática de Clara, em vestes alvas, entoando versos de "Conto de Areia": "era um peito só, cheio de promessa, era só..."

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Especial Clara Nunes - Parte 4

Guerreira da esperança


Em 1977, o disco Canto das Três Raças foi levado aos palcos em um espetáculo homônimo no recém inaugurado Teatro Clara Nunes, um empreendimento bancado pela própria cantora em parceria com o marido Paulo César Pinheiro, até hoje em funcionamento no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro. Além das canções presentes no disco, Clara apresentava no show músicas de Caetano Veloso, Chico Buarque, Mauricio Tapajós, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola que havia gravado ao longo de sua carreira. A partir do repertório, Clara procurava se afastar do rótulo de "cantora de samba" para consolidar-se como uma cantora de música popular brasileira sem restrições de gênero e estilo. Embora o espetáculo tenha sido mais um grande acerto da cantora em sua carreira, os mesmos críticos da Veja e do Jornal do Brasil encontraram motivos para criticá-la.

No final do ano, foi lançado As Forças da Natureza, disco repleto de músicas que se tornaram clássicas, com destaque para os sambas "As forças da natureza", de Paulo César Pinheiro e João Nogueira, "P.C.J. (Partido Clementina de Jesus)", de Candeia, "Coisa da Antiga", de Wilson Moreira e Nei Lopes, "Coração Leviano", de Paulinho da Viola, e "Palhaço", de Nelson Cavaquinho. Em "Senhora das Candeias", dos onipresentes Romildo e Toninho, "Sagarana", de Paulo César Pinheiro e João Aquino, e "Fado Tropical", de Chico Buarque e Ruy Guerra, Clara segue por veredas outras que não o samba e em "À flor da pele" apresenta sua primeira música como compositora, em parceria com Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, na qual ela criou a melodia.

Com mais um sucesso nas ruas, Clara foi convocada pela EMI para recepcionar o Príncipe Charles nos novos estúdios da gravadora localizados na rua Mena Barreto, em Botafogo, no Rio de Janeiro. O detalhe é que ela não falava inglês. Problema nenhum, o que importava era que Clara era a mais popular cantora do casting da EMI Brasil. Em seguida, integrou o show coletivo Sabor bem Brasil que cruzou o Brasil de Norte a Sul, ao lado de Luiz Gonzaga, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo e João Bosco, entre outros.

A notícia de uma nova gravidez obrigou-a a abandonar o espetáculo, mas não a impediu de entrar em estúdio para gravar Guerreira, cuja faixa-título composta por João Nogueira e Paulo César Pinheiro apresenta traços da personalidade combativa e lutadora de Clara. O disco ainda não estava na rua quando pela segunda vez a gravidez foi interrompida prematuramente. Apesar do enorme baque, o show tinha que continuar. Em outubro, a cantora gravou um clipe de Guerreira nas Cataratas do Iguaçu para divulgar o disco no Fantástico.



O fim de 1978 trouxe mais uma má notícia para Clara: a morte de Candeia. O compositor portelense fora um dos primeiros a acolher a cantora no seio do samba e teve suas músicas gravadas por Clara em muitos discos. Guerreira trazia "Outro recado", parceria entre o compositor e Casquinha, e o disco seguinte, Esperança, traria outras duas em parceria com Jaime: "Minha Gente do Morro" e "Ê favela". Antes de entrar em estúdio para gravar seu novo disco, Clara fez uma participação em Marçal interpreta Bide e Marçal, homenagem à dupla de compositores que participou da fundação da escola de samba Estacio de Sá, uma das mais tradicionais instituições do samba carioca, idealizada pelo filho do segundo, o Mestre Marçal. Veja abaixo depoimento da cantora falando sobre sua participação no disco



O ano de 1979 começou com uma viagem à África onde a cantora se apresentou ao lado de João Nogueira que a impediu de desfilar pela Portela. De volta ao Brasil, ela se empenhou em participar da fundação do Clube do Samba, um movimento pela valorização e o reconhecimento da música brasileira, uma vez que o país vivia a febre das discotecas e da disco music impulsionada pelo grande sucesso da novela Dancin Days, exibida na TV Globo.

Foi com esse espírito de representante da música popular brasileira na grande mídia e sob influência da triste realidade africana que Clara gravou Esperança. Na capa, a cantora aparece de mãos dadas com duas crianças humildes moradoras de uma favela no bairro da Saúde, localizado na região portuária do Rio de Janeiro, transmitindo uma mensagem de fé na renovação que emana do povo em sua luta pela sobrevivência, em suas manifestações culturais, mesmo quando condenado a viver em condições de pobreza degradante. Calcado em uma sonoridade marcadamente afro-brasileira, muitas músicas de Esperança retratam o viver das pessoas mais pobres e humildes. Porém, a primeira música a estourar e que levou ao delírio a multidão que compareceu ao show de lançamento do disco no Pavilhão de São Cristovão, quando Clara a executou acompanhada de um de seus compositores, foi "Feira de Mangaio", de Sivuca e Glória Gadelha.



Na ocasião do lançamento de Esperança, Clara estava em período de gestação pela terceira vez e acreditava que daquela vez a gravidez finalmente iria vingar. Mas o mioma em seu útero havia crescido, provocando mais um aborto espontâneo. Para enterrar de vez seus anseios maternais, o crescimento do mioma obrigou-a a se submeter a um cirugia para retirada do útero. O disco repetiu o sucesso dos anteriores emplacando outros sucessos, como "Banho de Manjericão", de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, e "Na linha do mar", de Paulinho da Viola, mas, emocionalmente, Clara passava por um momento delicado.