Em duas semanas o público carioca teve a oportunidade de assistir a três shows do cantor, baixista e flautista Bebeto Castilho, ex-Tamba Trio. É muito, levando-se em conta que há tempos ele não se apresentava na cidade. Salvo engano, foram os primeiros shows desde o lançamento do seu segundo disco, Amendoeira, quando se apresentou na Modern Sound. Mas é pouco se pudermos mensurar o prazer de ouvi-lo ali tão próximo como nos shows no J. Club e no Cinematèque Jam Club. Sua voz suave entremeada pelas melodias flutuantes que ele carinhosamente extrai de suas flautas transversas desfiando um repertório divinal que passeia por diversos momentos de sua carreira.
O ambiente de ambas as casas combinado à sonoridade calcada na tríade baixo, piano e bateria evocam o passado romântico do Rio bossa-nova. A adição de um cavaquinho em "Ora ora", primeira música do show, dá o tom do samba-jazz de Bebeto e sua banda. O molejo matreiro do samba se mistura à riqueza harmônica do jazz sem ceder ao cerebralismo ou esgarçar-se em improvisos enfadonhos. Quando o cavaquinho é abandonado no fundo do palco para praticamente não mais voltar à cena, o piano cai no samba, enquanto o baixo flerta o tempo inteiro com o ritmo, tal qual um surdo de cordas, mantendo um diálogo permanente com a bateria do excelente Ivo Caldas.
No show do Cinematèque, na última sexta-feira, Bebeto recebeu o sobrinho-neto Marcelo Camelo para uma participação especial - no mesmo dia que Ancelmo Góis, em sua coluna no jornal O Globo, revelou que ele deve entrar em estúdio para gravar um disco solo. Era certo que ele cantaria "Porta de cinema", registrada em dueto pelos dois em Amendoeira. A surpresa ficou por conta da outra música escolhida, a primeira a ser cantada por Marcelo no show. Foi "Batuque", samba que abre o disco de estréia de Bebeto, gravado em 1976 quando ele sequer era nascido. Marcelo emprestou melancolia à canção em uma interpretação apaixonada deixando as reverências para o final quando aproveitou para fazer graça da dificuldade de se encontrar e, conseqüentemente, de se ouvir a este belo disco nos dias de hoje, do qual ele ainda cantaria, em um espanhol embriagado, "Deja-me ir".
Infelizmente, esta foi a única música registrada pela Tuba do Pindzim, ainda assim incompleta, pois a bateria da câmera acabou durante a execução. Mesmo tendo perdido o coro final, resolvi disponibilizá-la pelo ineditismo e a nobreza do encontro e da interpretação. Aí está:
Marcelo ainda voltaria no bis para cantar "Isaura" e "A vizinha do lado", na qual chegou a empunhar o cavaquinho mas não chegou a arriscar nenhum acorde. Perfeita despedida, feita a ressalva de que não é justo esperar tanto tempo para assistir a um show de Bebeto Castilho.
Um comentário:
ae ae ae
grande bebeto e sua levada jazz de voz aveludada.
Além de frisar o majestoso ritmo de Ivo Caldas na bateria quero salientar tbm, o contra baixo e o piano que na levada, contagiaram a todos os presentes.
Blz de show, viva bebeto e grande participação de Camelo que como a matéria bem diz, deu um toque mais do que especial, principalmente, ao cantar um samba do primeiro disco de Bebeto (1976).
Salve Pindzim... acompanhando de perto a batucada brasileira.
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