Última morada
Recuperada do baque e da cirugia, Clara voltou à cena no desfile da Portela no carnaval de 1980. Em seguida, deu-se sua aproximação com Chico Buarque, que a convidou a participar de uma caravana de artistas que se apresentaria em Angola. Durante a viagem, os dois se tornaram amigos e Clara pediu uma música ao compositor para incluir no seu próximo disco. O repertório já estava praticamente fechado quando Chico entregou-lhe "Morena de Angola". A canção foi o grande sucesso de Brasil Mestiço e tornou-se, para sempre, mesmo depois que o próprio Chico a gravou, associada a Clara. No clipe da música gravado para o Fantástico a cantora apresentou seu novo visual, com um penteado de inspiração afro-brasileira idealizado pelo maquiador Guilherme Pereira. A participação de modelos caracterizados como nativos africanos dançando em meio a grandes plantações evoca a realidade do continente. A imagem de Clara dançando e cantando é uma das mais fortes lembranças que se mantêm no imaginário dos fãs da cantora.
Puxado pela canção que transformou o disco em mais um grande sucesso na carreira da cantora e rendeu-lhe o cobiçado Troféu Roquette-Pinto, Brasil Mestiço trazia mais uma vez composições de Candeia ("Dia a dia", em parceria com Jaime, e Regresso"), Nelson Cavaquinho ("Ninho Desfeito", em parceria com Wilson Canegal), quatro de Paulo César Pinheiro ("Meu castigo", "Sem companhia", com Ivor Lancellotti; "Brasil mestiço santuário da fé", com Mauro Duarte; e "Estrela Guia", com Sivuca). O disco foi levado aos palcos em um espetáculo intitulado Clara Mestiça, no qual a cantora foi acompanhada pelo Conjunto Nosso Samba acrescido de um naipe de metais. Pode-se sentir o clima do espetáculo neste vídeo de "Peixe com coco", um samba rasgado de Alberto Lonato, Josias e Maceió do Cavaco, que se converteu no outro grande destaque do disco.
Na esteira do sucesso do álbum e do show, a cantora entrou em estúdio novamente para gravar Clara. Ao lado de Nação, que seria o último da carreira da cantora, é um dos melhores representantes da riqueza e da diversidade de ritmos e gêneros musicais brasileiros interpretados pela cantora. As vendas, entretanto, já não repetiam os grandes êxitos do passado. Em 1978, Maria Bethania superou a marca de 1 milhão de discos vendidos com Álibi, número jamais alcançado até então por qualquer outra intérprete na história da música brasileira. A baiana consolidava-se como a cantora de maior sucesso comercial do país enquanto alguns veículos de mídia alardeavam o declínio nas vendas dos LP's de Clara. A cantora, como de costume, não se deixou abater. Reconheceu a queda, mas justificou: "prefiro vender 300 mil cópias a 600 mil, com uma proposta mais consistente do ponto de vista do repertório". E realmente, além do onipresente samba, os repertórios de Clara e Nação trazia afoxé, ijexá, congada e forró.
Alguns anos depois de ter se apresentado no Midem, em Cannes, Clara foi convidada a voltar à Europa. Agora, se apresentaria na Alemanha e seria novamente aclamada por público e crítica. "Portela na Avenida", grande sucesso de Clara levava os estrangeiros ao êxtase. Era o princípio de uma carreira internacional. Em agosto de 1982, Clara chegava ao Japão, onde, além de fazer shows, gravou um especial para a televisão japonesa.
Depois do Japão, Clara se apresentaria ainda em Cuba, integrando mais uma caravana organizada por Chico Buarque. De volta ao Brasil, gravou o clipe de "Nação" para o Fantástico e começou a se preparar para o carnaval, tendo programado uma cirugia plástica para a retirada de varizes para logo depois da folia. Embora já houvesse chegado aos 40 anos, Clara mantinha-se uma mulher exuberante, como se pode ver no clipe de "Ijexá", último gravado pela cantora, em Salvador. Mas as pequenas imperfeições estéticas em suas pernas feriam a sua vaidade. Em 5 de Março, Clara deu entrada na Clínica São Vicente para submeter-se à cirugia. Auto-suficinete, a cantora chegou sozinha dirigindo o próprio carro. Uma suposta reação alérgica causada pelo anestésico fez com que Clara sofresse uma parada cardíaca que redundou em um estado de coma e conseqüentemente em morte cerebral. A cantora ficou 28 dias nesse estado, causando uma comoção nacional. Os fãs faziam vigília na porta da clínica. Teses sensacionalistas, as mais estapafúrdias, eram levantadas pela imprensa até a sua morte em 2 de abril de 1983.
Como última homenagem do Blog do Pindzim, apresentamos esta colagem de clipes que terminam com a imagem emblemática de Clara, em vestes alvas, entoando versos de "Conto de Areia": "era um peito só, cheio de promessa, era só..."
Um comentário:
Grande jornalista da musica brasileira.
Blz de matéria sobre essa que é a maior. Muito bem escrita e com informações que valem a pena.
Valeu pelos videos, em especial o de P. C.Pinheiro.
Demorô p trazer a Cibelle a tona.
Vai lá pixinga....
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