segunda-feira, 28 de julho de 2008

Santa Tereza vira território pernambucano em agosto

De 19 a 31 de agosto, Pernambuco vai fincar sua bandeira nos altos de Santa Tereza, mais especificamente no Solar de Santa - Rua Aprazível, 39. O sobrado vai ser a sede da Embaixada Pernambuco, evento que vai trazer o sumo da cultura pernambucana ao Rio de Janeiro.

A música será a atração principal, com apresentações de Siba e a Fuloresta, Academia da Berlinda, Guardaloop e Zé Cafofionho -todos inéditos em palcos cariocas-, os velhos conhecidos Eddie e a cirandeira Lia de Itamaracá, e ainda Vitor Araújo, Coco de Umbigada e Mestre Salustiano. A programação ainda não foi divulgada oficialmente -o que deve acontecer nos próximos dias-, mas estas são algumas das atrações já confirmadas.

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A Academia da Berlinda toca nos dias 20, 22 e 28 e no dia 30 se apresenta junto com o Eddie no Circo Voador na 4ª edição do projeto O Som de Recife. Por sua vez, a banda de Fábio Trummer se apresenta na Embaixada Pernambuco nos dias 19, 21 e 28. O Guardaloop, projeto do baterista Hugo Carranca (Bonsucesso Samba Clube, ex-Sheik Tosado e Otto) baseado em samples guardados em seu computador, toca nos dias 23, 24 e 28.

Artes plásticas, cinema, fotografia, design, moda e performances também ocuparão os vastos salões, jardins e varandas do Solar. Enquanto agosto não vem, fiquem com um vídeo de Mestre Salustiano em sua passagem pelo Rio de Janeiro, em maio.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Lica: Winehouse à brasileira

Esta postagem é uma crônica bastante pessoal. Não é uma crítica, embora haja juízos de valor contidos nela. Dada a passagem do tempo, certos fatos dados como verdades absolutas não correspondem a um passado sobre o qual a história não foi escrita. Fica aqui a minha colaboração.

Chica Felina
A primeira vez que vi e ouvi Lica cantar foi em um show da Groove James em uma festa não oficial do Festival de Gramado. O ano não lembro exatamente, talvez 98, ou 99. Com uma blusa de lã cor de rosa com gola rolê, ela dividia os vocais com dois MC's de versos inflexíveis e nenhuma voz cujos nomes não me recordo nem me darei ao trabalho de pesquisar. Pois, daquela apresentação, guardo na memória as interpretações de Lica para "Soul Rebel"-ao mesmo tempo etérea e intensa- e "Imunização Racional (Que Beleza)" -cujos versos nunca tiveram uma tradução mais fiel do que na voz daquela cantora até então para mim desconhecida. Isso em uma época em que o culto à fase racional de Tim Maia estava para começar.

Estaria mentindo se não dissesse que o refrão "Não brinque comigo/ eu não sou seu tamagochi/ minha cabeça tá doendo/ não aguento mais deboche" me pegou ali também. Não pela poética, logicamente, mas pela voz.
Embora fosse uma banda de rock em sua configuração instrumental, o hip-hop dava o tom das canções autorais. Lica, talvez por ser uma cantora, mais do que apenas uma MC, tinha seu espaço restrito a momentos esporádicos para não ofuscar os sofríveis rimadores. Momentos estes que justificavam a existência da banda. Por nunca terem entendido -ou aceitado- que o diferencial da Groove James era Lica, eles nunca foram além do circuito regional. Coisa que a banda que se apresentou em seguida quase conseguiu.

Tudo ou Nada - Clipe dos tempos de Groove James

Coube à Bidê ou Balde fechar a noite com seu rock retrô irônico e piadista. Era a preferida do público presente, majoritariamente formado por colegas do curso de Comunicação Social da PUC-RS, como grande parte dos integrantes tanto da Groove quanto da Bidê. E se já colaborava para eu me sentir deslocado o fato de ser estudante da UFRGS, mais contribuiu minha incapacidade de ver qualquer valor musical ou humorístico na banda liderada pela lenda viva Carlinhos Carneiro. Havia também uma garota que fazia a segunda voz. Sua voz pouco se ouvia. Tinha uma função muito mais decorativa do que musical.

Depois daquela noite em Gramado assisti a muitos outros shows da Groove James, mas ali já ficara claro que ela era a responsável pelo interesse que a banda despertava. Lica chegou a participar do primeiro e único disco da banda até agora, mas logo saiu para seguir carreira solo. Na qual, diga-se, manteve-se no terreno do hip-hop, onde é, hoje, uma MC respeitada e reconhecida. Em 2006, ganhou o Prêmio Hutuz na categoria Melhor Demo Feminina, por Cada Dia; fez apresentações na Europa, onde gravou algumas músicas com nomes do hip-hop local; e arrancou aplausos espontâneos em apresentação em congresso da ONU contra a violência a mulher em Nova York.

Peleia - ao vivo em Congresso da ONU

Por que me veio à lembrança aquela noite na serra há quase 10 anos atrás? Há pouco tempo, alguns integrantes das duas bandas que tocaram naquela noite reuniram-se com outros músicos da cena local para formar o Império da Lã, uma banda que, entre covers variados, se propõe a recriar na íntegra clássicos do pop internacional em apresentações ao vivo.

Lica Winehouse
Para reproduzir Back to Black, de Amy Winehouse, eles convidaram Lica para assumir os vocais, o penteado e a maquiagem. Drogas a parte, o resultado foi sensacional. E se alguns críticos musicais paulistanos choram, lamentam e reclamam que não temos cantoras como a inglesa, depois de assistir aos vídeos da apresentação no Youtube, é possível que eles enxerguem em Lica uma forte candidata. Potência vocal e presença de palco, ela tem.

You Know I'm No Good - Lica e Império da Lã

Que as comparações parem por aqui para que eu não seja levado a mal, mas deu vontade de ver Lica à frente de uma banda explorando todas as suas possibilidades como vocalista e performer para além das limitações que o ritmo e a poesia do hip-hop inevitavelmente impõem à sua musicalidade. O Império da Lã seria a banda perfeita. Nas mãos de um bom produtor, Lica poderia ser não a Winehouse brasileira, mas sim uma Winehouse à brasileira. Até pode-se enxergar uma certa semelhança física entre as duas.

Ídolos internacionais sempre levam vantagem quando comparados aos brasileiros. No pop, permanece vivo o complexo de vira-latas muito bem traduzido por Nelson Rodrigues. Se de antemão haverá de se ouvir que a inglesa é muito mais cantora do que a brasileira, será impossível negar que a nossa é mais linda, mais cheia de graça e também canta que é uma beleza.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Otto apresenta música nova em show no Studio SP

A julgar pelo show na madrugada de sexta para sábado do dia 21 de junho, em São Paulo, as noites do cantor e compositor Otto têm sido perturbadoras. Não pela falta de boas companhias. Com Fernando Catatau e Junior Boca nas guitarras, Curumin na bateria, Ganjaman no teclado e Marcos Axé na percussão, pode-se dizer que o pernambucano tem uma das melhores bandas do Brasil.

Os distúrbios que lhe fazem acordar, ou melhor, viver como personagem de sonhos intranqüilos parecem estar no seu inconsciente. Como conseqüência óbvia, notam-se alguns excessos que, no Studio SP, prejudicaram a sua voz, para ficar apenas no elemento mais importante para um cantor. Por exemplo, fumar cigarros enquanto canta.

Em shows anteriores, os exageros psicotrópicos do cantor faziam parte da festa e não chegavam a prejudicá-lo. Uma apresentação de Otto se vale principalmente pelo divertimento que ele -com suas músicas de poética peculiar e a sua banda- proporciona aos seus convidados. Mas já faz algum tempo que Otto vem sendo acometido por sonhos intranqüilos. Pelo menos desde 2005 já estava definido o nome de seu quarto disco cuja produção já foi finalizada, mas ainda não foi lançado. Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos é inspirado na frase inicial de A Metamorfose, livro de Franz Kafka em que o personagem principal acorda transformado no mais repulsivo dos insetos.

Para quem vem de um disco Sem Gravidade representa uma verdadeira mutação. Naquela madrugada no Studio SP, Otto se debatia no palco, mais do que pulava e dançava, o que também fazia, mas sempre com um certo travo. Desengonçado ele sempre foi, mas o sentimento era o de inadequação, tal qual um personagem kafkiano. Como quem aos poucos se acostuma a uma nova identidade, do meio para o fim Otto foi adquirindo a fluência de palco natural à sua performance.

Então, veio a primeira música do disco novo. A letra e a melodia de "Filha" revelam uma certa melancolia incomum às antigas canções de Otto. Aparentemente, é aí que se opera a metamorfose do cantor, mas é preciso esperar o disco na íntegra para saber até que ponto há realmente uma tranfosrmação. Ainda sobre a música, apesar do título, ela parece se referir antes à mãe do que à filha. Tirem vocês as próprias conclusões:

Otto - Filha - Studio SP, 21/06, 2:30 a.m.


Antes de apresentá-la, Otto abriu ao público suas dúvidas a respeito do lançamento de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos. Produzido de forma totalmente independente por ele e por Pupillo, sem gravadora, o disco não tem uma plataforma definida para o lançamento. Otto diz estar pensando em liberá-lo de graça nas redes da internet. Quando? Imprevisível, bem ao estilo Otto.