Por Leandro de Nardi, de Porto Alegre
Apoteótico. Mais parecia o fim de um grande show de uma consagrada banda. Mas não. Era a primeira vez que o Little Joy se apresentava no Brasil e mesmo assim se confirmou o que Rodrigo Amarante afirmou no palco do bar Opinião: “Sabia que tínhamos que começar por Porto Alegre”.
A sintonia é total entre Frabrizio Moretti (Strokes), Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Binki Shapiro, de voz fantasticamente macia e aveludada. Com o público delirando e ensurdecido, "Play the Part" foi a primeira de um set list ainda incipiente, conforme afirmou Rodrigo Amarante no palco. “Só temos 11 músicas ensaiadas”, disse. Justamente as onze músicas do disco de estréia da banda.
Não precisava mais. Ter no palco Los Hermanos e Strokes juntos, mesmo que só com um representante de cada banda, já basta. E quando começam a tocar "The Next Time Around" o Opinião vem abaixo. Todos a conhecem como se fosse uma música dos Hermanos, sabem entoar as letras sem se perder na melodia. Não era pra ser assim. Pelo menos o trio no palco não esperava tamanha comoção.
Mas foi. Um show onde as referências e sotaques, muitos e variados, foram sendo destilados com muita pegada. Com Fabrízio Moretti na guitarra e Binki Shapiro fazendo os backing vocals e a cama sonora, Amarante só precisou mesmo soltar sua voz roufenhamente envelhecida fazendo o inglês soar familiar como nunca aos presentes na platéia. Rock'n'roll, MPB, samba e até bossa nova. Tudo soa natural com o Little Joy, mesmo que seja só o começo.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Discos para 2009: Tiê, Sweet Jardim
A cantora e compositora Tiê acaba de disponibilizar em sua página no Myspace mais três faixas de "Sweet Jardim", seu primeiro disco. Com produção de Plínio Profeta, terá dez faixas e deve ser lançado em março.
Anteriormente, Tiê lançara um EP que conquistou elogios diversos, mas agora, com a prévia de "Sweet Jardim", ela demonstra ter encontrado o caminho próprio que vinha tateando. São músicas de curta duração que vão ao âmago da canção, com arranjos simples, eminentemente acústicos, valorizando a voz e as melodias. É como se a melancolia da chanson francesa encontrasse tradução na língua portuguesa, deixando-se contaminar pelas sutilezas da música brasileira passando ao largo de suas referências mais óbvias.
Música que dá nome ao disco, "Sweet Jardim" é pontuada por um bandolim que pinga como as primeiras gotas de chuva em um fim de tarde no campo. O cheiro de água e terra se misturam na trama dos violões, na umidade da interpretação, na densidade poética. Em contraste com o cinza das nuvens carregadas, o mato, a grama, as folhas das árvores brilham nos mais verdejantes tons de verde. O sentimento é difuso, compreende emoções variadas entre "mi maior e lá".
"Aula de Francês" é um folk levado em voz e violão sobre um orgão que soa discreto, criando uma ambiência etérea. A delicadeza da sonoridade de Tiê encontra correspondência na letra que flutua do francês ao português, flertando de verso em verso com a tradição da chanson francesa. Em "A Bailarina e o Astronauta" a amplitude melódica da voz da cantora, acompanhada apenas por piano e cordas, é um convite ao voo: o salto da bailarina em direção ao astronauta que vaga no espaço esquecido da lógica da gravidade.
"Te Vaolorizo" e "Assinado Eu" completam a prévia do futuro disco. Mais do que suficiente para saber que 2009 será lembrado por "Sweet Jardim". E que Tiê nunca mais será esquecida.
Depois de postado este texto, Tiê postou mais uma no Myspace. Cantada em inglês, "Stranger but Mine" está abaixo das demais, mas não compromete a beleza do trabalho.
Anteriormente, Tiê lançara um EP que conquistou elogios diversos, mas agora, com a prévia de "Sweet Jardim", ela demonstra ter encontrado o caminho próprio que vinha tateando. São músicas de curta duração que vão ao âmago da canção, com arranjos simples, eminentemente acústicos, valorizando a voz e as melodias. É como se a melancolia da chanson francesa encontrasse tradução na língua portuguesa, deixando-se contaminar pelas sutilezas da música brasileira passando ao largo de suas referências mais óbvias.
Música que dá nome ao disco, "Sweet Jardim" é pontuada por um bandolim que pinga como as primeiras gotas de chuva em um fim de tarde no campo. O cheiro de água e terra se misturam na trama dos violões, na umidade da interpretação, na densidade poética. Em contraste com o cinza das nuvens carregadas, o mato, a grama, as folhas das árvores brilham nos mais verdejantes tons de verde. O sentimento é difuso, compreende emoções variadas entre "mi maior e lá".
"Aula de Francês" é um folk levado em voz e violão sobre um orgão que soa discreto, criando uma ambiência etérea. A delicadeza da sonoridade de Tiê encontra correspondência na letra que flutua do francês ao português, flertando de verso em verso com a tradição da chanson francesa. Em "A Bailarina e o Astronauta" a amplitude melódica da voz da cantora, acompanhada apenas por piano e cordas, é um convite ao voo: o salto da bailarina em direção ao astronauta que vaga no espaço esquecido da lógica da gravidade.
"Te Vaolorizo" e "Assinado Eu" completam a prévia do futuro disco. Mais do que suficiente para saber que 2009 será lembrado por "Sweet Jardim". E que Tiê nunca mais será esquecida.
Depois de postado este texto, Tiê postou mais uma no Myspace. Cantada em inglês, "Stranger but Mine" está abaixo das demais, mas não compromete a beleza do trabalho.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Humaitá pra Peixe 2009 começa com 3namassa
Pode não ter sido o melhor dos começos, mas a sala Baden Powell lotada para o show do 3namassa, que deu a partida à 15ª edição do Humaitá pra Peixe, não deixou dúvida de que a escalação do projeto de Dengue, Pupillo, Rica Amabis e suas musas foi um acerto da seleção.
Até então o 3namassa tinha se apresentado uma única vez no Rio, em agosto, na Embaixada Pernambuco em um local que não era exatamente apropriado, especialmente no que dizia respeito à acústica. Pois na Baden Powell, o som esteve à altura. Já as musas mantiveram-se inconstantes, como na apresentação anterior.
Duas não haviam participado do show de 2008: Thalma de Freitas e Geanine Marques. Apesar do fator novidade, nenhuma teve voz e atitude no palco que se igualassem às da então ausente Marina de la Riva. Se não tinha participado do disco Na Confraria das Sedutoras, um suposto erro na escalação foi contornado com o convite para que se apresentasse ao vivo com o trio mais o guitarrista Junior Boca. A cantora de origens mezzo brasileira mezzo cubana parece talhada para o papel, como comprova sua interpretação de "O Seu Lugar" no CD/DVD MTV Sintonizando Recife.
E foi justamente com "O Seu Lugar" na voz de Thalma de Freitas, intéprete original da canção, que começou apresentação da última sexta. Depois veio "Doce Guia", cujos vocais cabem a Céu no disco e que até então coubera a Marina nos shows. A última foi "O Objeto", antes de Nina Becker, fosse ao vivo ou em estúdio.
Thalma buscou uma postura sensual para adicionar aos arranjos libidinosos. O problema era sua voz, cuja emissão transmitia uma frieza capaz de resfriar o calor do verão carioca. Veio então Geanine Marques e da loira de postura fria e movimentos comedidos, a voz soou quente, impositiva, dando credibilidade ao verso "estrago eu sei que causei", de "Estrondo". Engatou direto "Lágrimas Pretas", talvez sem a mesma desenvoltura de Pitty, mas ainda assim com personalidade. Foi pena que tenha se limitado a esses dois números.
3namassa e Geanine Marques - Lágrimas Pretas
Em seguida foi a vez de Lourdes da Luz. Rimando os versos de "Sem Folêgo", de sua autoria - ela foi a única mulher a assinar a letra de uma música de Na Confraria das Sedutoras - a noite continuou num crescendo. "Certa Noite" ficou bem com suas voz e postura agressivas.
Karine Carvalho entrou no palco tendo um grande desafio pela frente. Manter o pique de um show até então menos intenso do que o prometido. Ter escolhido "Quente como o Asfalto", certamente uma das músicas mais fracas do disco, não a ajudou. Depois, quando cantou "Morada Boa", todos já aguardavam ansiosamente por "Tatuí", possivelmente o hit de Na Confraria das Sedutoras, cuja letra é de Rodrigo Amarante. É a única canção em que sua voz soa adequada à letra e ao arranjo, mas nem a melodia sinuosamente safada da canção foi suficiente para reacender um público que em momento algum chegara a entrar em combustão.
Prova disso foi que a banda se retirou e os pedidos pelo bis foram poucos e desanimados. Mas eles e elas voltaram. No rearranjo final, formaram-se duplas de cantoras. Ao lado da tímida Karine, Thalma soltou a voz e deixou no ar aquilo que é, mas eventualmente, na noite de sexta, não foi; Geanine deixou-se levar pela intensidade de Lourdes num dueto de igual para igual.
Foi bom, mas poderia ter sido melhor, talvez, se ao invés do 3namassa, a abertura do Humaitá pra Peixe 2009 tivesse ficado a cargo dos Sonantes - banda derivada do 3namassa. Com a diferença de ter única e exclusivamente Céu nos vocais.
Até então o 3namassa tinha se apresentado uma única vez no Rio, em agosto, na Embaixada Pernambuco em um local que não era exatamente apropriado, especialmente no que dizia respeito à acústica. Pois na Baden Powell, o som esteve à altura. Já as musas mantiveram-se inconstantes, como na apresentação anterior.
Duas não haviam participado do show de 2008: Thalma de Freitas e Geanine Marques. Apesar do fator novidade, nenhuma teve voz e atitude no palco que se igualassem às da então ausente Marina de la Riva. Se não tinha participado do disco Na Confraria das Sedutoras, um suposto erro na escalação foi contornado com o convite para que se apresentasse ao vivo com o trio mais o guitarrista Junior Boca. A cantora de origens mezzo brasileira mezzo cubana parece talhada para o papel, como comprova sua interpretação de "O Seu Lugar" no CD/DVD MTV Sintonizando Recife.
E foi justamente com "O Seu Lugar" na voz de Thalma de Freitas, intéprete original da canção, que começou apresentação da última sexta. Depois veio "Doce Guia", cujos vocais cabem a Céu no disco e que até então coubera a Marina nos shows. A última foi "O Objeto", antes de Nina Becker, fosse ao vivo ou em estúdio.
Thalma buscou uma postura sensual para adicionar aos arranjos libidinosos. O problema era sua voz, cuja emissão transmitia uma frieza capaz de resfriar o calor do verão carioca. Veio então Geanine Marques e da loira de postura fria e movimentos comedidos, a voz soou quente, impositiva, dando credibilidade ao verso "estrago eu sei que causei", de "Estrondo". Engatou direto "Lágrimas Pretas", talvez sem a mesma desenvoltura de Pitty, mas ainda assim com personalidade. Foi pena que tenha se limitado a esses dois números.
3namassa e Geanine Marques - Lágrimas Pretas
Em seguida foi a vez de Lourdes da Luz. Rimando os versos de "Sem Folêgo", de sua autoria - ela foi a única mulher a assinar a letra de uma música de Na Confraria das Sedutoras - a noite continuou num crescendo. "Certa Noite" ficou bem com suas voz e postura agressivas.
Karine Carvalho entrou no palco tendo um grande desafio pela frente. Manter o pique de um show até então menos intenso do que o prometido. Ter escolhido "Quente como o Asfalto", certamente uma das músicas mais fracas do disco, não a ajudou. Depois, quando cantou "Morada Boa", todos já aguardavam ansiosamente por "Tatuí", possivelmente o hit de Na Confraria das Sedutoras, cuja letra é de Rodrigo Amarante. É a única canção em que sua voz soa adequada à letra e ao arranjo, mas nem a melodia sinuosamente safada da canção foi suficiente para reacender um público que em momento algum chegara a entrar em combustão.
Prova disso foi que a banda se retirou e os pedidos pelo bis foram poucos e desanimados. Mas eles e elas voltaram. No rearranjo final, formaram-se duplas de cantoras. Ao lado da tímida Karine, Thalma soltou a voz e deixou no ar aquilo que é, mas eventualmente, na noite de sexta, não foi; Geanine deixou-se levar pela intensidade de Lourdes num dueto de igual para igual.
Foi bom, mas poderia ter sido melhor, talvez, se ao invés do 3namassa, a abertura do Humaitá pra Peixe 2009 tivesse ficado a cargo dos Sonantes - banda derivada do 3namassa. Com a diferença de ter única e exclusivamente Céu nos vocais.
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