Daqui a pouco deve começar o primeiro e único ensaio da banda carioca que Romulo Fróes arregimentou para o show de lançamento de seu álbum duplo No Chão sem o Chão, no Rio, amanhã a noite no Cinemathèque. Nele Romulo estará acompanhado de Domenico na bateria, Kassin no baixo e Gabriel Bubu na guitarra.
Em uma breve entrevista por email, ele antecipa algumas coisas sobre a apresentação, fala abertamente sobre as dificuldades de manter uma carreira independente no Brasil dadas as atuais condições, revela uma aproximação com a turma do +2 e o começo de uma já prolífica parceria com Domenico.
Com a palavra, Romulo Fróes.
Pindzim: É quase sempre demorado para os músicos de fora do Rio chegarem à cidade para tocar e até mesmo bandas locais reclamam por falta de espaço e de convites. Você tem feito ensaios sobre a música brasileira atual, cujo centro nevralgico certamente se localiza em São Paulo. Nesse contexto, em que posição se encontra o Rio de Janeiro? Estaria a cidade em uma condição periférica dentro desta nova cena, com poucas novidades no que diz respeito a novos músicos e bandas, e um público desinteressado?
Romulo Fróes: Definitivamente não há no Rio de Janeiro falta de novos trabalhos relevantes para a música brasileira, muito pelo contrário, muitas das coisas que mais gosto hoje em dia, são produzidas aí. Agora, não só o Rio, mas a Bahia, Recife, Minas e todos os outros estão passando por um período de imensa dificuldade no negócio de música. O modo como se constituía o mercado acabou e ninguém sabe como será daqui pra frente. São Paulo, mesmo com seus problemas que não são poucos, ainda assim, é o melhor lugar pra se desenvolver um trabalho, o que não significa possibilitar a um artista independente viver de sua música. Sinceramente, eu considero a possibilidade de nunca conseguir viver de música.
Uma consideração sobre a pergunta que originou tal resposta. Quando me refiro a uma certa pasmaceira na cena carioca atual, faço alusão à falta do surgimento de novíssimos nomes. Há uma nova geração já estabelecida: parte dela gira em torno dos integrantes do Los Hermanos e da Orquestra Imperial, que são aqueles que Romulo diz admirar; do outro lado há os egressos do movimento de revitalização da Lapa, mas depois destes dois movimentos espontâneos quase nada de novo surgiu - o Manacá seria uma das poucas exceções, talvez. Enquanto isso, São Paulo não para de revelar novos nomes ou de atrair músicos de outros estados para lá desenvolverem os seus trabalhos.
Pindzim: Na esteira da pergunta anterior, por que a opção de formar uma banda carioca para tocar aqui, ao invés de trazer os músicos que participaram do disco e costumam acompanhá-lo em seus shows?
Romulo: Porque não há dinheiro, simples assim. Eu não sou uma banda, eu pago os caras que tocam comigo. Pouco, mas pago, e viajar pra outro estado, significa ainda pagar passagens, hospedagem, rango e tudo o mais. Isso tudo sairá do valor da metade da bilheteria arrecadada, que é o que a maioria das casas de show oferecem, por não terem também mais o que oferecer, a coisa está difícil pra todos. Faça as contas e verá o prejuízo na minha conta.
Pindzim: Numa conversa há tempos atrás, você falou que tocaria no Rio com o pessoal da banda Do Amor, depois falou em Alberto Continentino no baixo, mas eis que agora vem com Domenico e Kassin, a melhor cozinha da cidade. Como essa banda carioca se formou?
Romulo: Partindo pra essa coisa de se montar uma banda local, quando a gente conversou, eu era mais próximo dos caras do Do Amor por conta da minha proximidade com a Nina Becker, com quem já dei algumas canjas. Mas por mais que todos tenhamos admiração um pelo trabalho do outro, as prioridades existem e neste fim de semana haverá show de Caetano Veloso na cidade, o que significa que metade do Do Amor não poderia tocar comigo, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes. Passado algum tempo me aproximei mais do Domenico, acabamos por fazer um trabalho juntos no Sesc Pompéia, trabalho em que também estava o Bubu. Precisávamos então de um baixista. Pensamos no Alberto Continentino, que acabou não podendo por também tocar nesse dia com a Vanessa da Mata. Daí pintou a chance do Kassin fazer e eu fiquei felizaço, afinal é quase o +2, que eu sou fã, tocando comigo, além do Bubu, que eu acho um dos maiores músicos dessa cena. Contei essa história toda pra mostrar as dificuldades de se manter um trabalho da maneira mais digna possível.
Pindzim: Há intenção de levar adiante um possível trabalho com esses músicos?
Romulo: Sempre quero me relacionar com quem tenho admiração, esse show é muito por conta disso. Efetivamente, o que já rolou foi uma parceria de composição com o Domenico. Já fizemos três canções juntos e creio que muitas outras ainda virão. Quem sabe a gente não toque alguma neste show no Cinematheque...
Pindzim: Tendo pouco tempo para ensaiar, qual será o repertório do show? Imagino que baseado nas músicas de "No Chão sem o Chão", mas, sendo elas muitas, como foi feita a seleção?
Romulo: Vou fazer rigorasamente o show que costumo fazer com minha banda em São Paulo. Eu seleciono as canções, digamos, mais enérgicas do disco, pra não correr o risco de ser engolido pelo burburinho habitual de um show num boteco, as canções mais tristes e delicadas não funcionam nesse tipo de ambiente.
Pindzim: Você é um compositor prolífico. Alguma chance de apresentar alguma coisa nova por aqui?
Romulo: Se tiver tempo de ensaiar sim, sempre gosto de mostrar novas canções, é onde mais me divirto.
Pindzim: Da última vez em que conversamos, você falou sobre as encomendas que vinha recebendo para fazer músicas para algumas cantoras, citou a Thais Gulin, por exemplo. O que vem por aí de Romulo Fróes em outras vozes?
Romulo: Continuo minha constante paquera com todas as cantoras que conheço. De certo mesmo, no próximo ano terá canção minha no disco de estréia da Nina [Becker], um disco lindo que vai dar o que falar.
SERVIÇO
Cinemathéque
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo
Horário: 21h
Ingressos: a partir de R$ 15,00
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