domingo, 31 de janeiro de 2010

Roque Ferreira por Roberta Sá e Trio Madeira Brasil

Quando o canto é reza, o santo é Roque Ferreira. Nas terças-feiras de janeiro do Centro Cultural Carioca, a cantora Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil têm sido seus súditos fiéis - no dia 2, acontece a última apresentação da temporada. E desta combinação - as músicas de Roque, com interpretação de Roberta e arranjos de Zé Paulo Becker e Marcello Gonçalves - resulta o primeiro grande espetáculo musical do ano de 2010. E trata-se apenas de um ensaio aberto utilizado para a preparação do repertório que será registrado em disco até o final deste ano, com direito a eventuais erros, mas o que sobressai são primordialmente os acertos.

No palco, o conjunto desfia os primeiros acordes e silencia para, do fundo da casa, surgir Roberta Sá entoando versos de devoção religiosa em que toda fé se deposita não em deuses inatingíveis ou em entidades da cultura afro-brasileira, mas sim no vasto repertório inédito do baiano Roque Ferreira. Lembrado recentemente pelas músicas gravadas por Maria Bethânia em seus dois últimos discos, o compositor lançado por Clara Nunes no fim dos anos 70 - com a música "Apenas um Adeus", no disco Esperança (1979) - parece finalmente receber a merecida atenção, tendo um disco dedicado exclusivamente à sua obra. Muito embora tenha lançado um excelente, porém pouco conhecido, disco solo, Tem Samba no Mar, em 2005.

Seus sambas - de roda, de capoeira, cariocas -, chulas, ijexás, cocos, toadas e galopes fazem um inventário da musicalidade popular da Bahia ofuscada pela força mercadológica do axé com suas cantoras turbinadas. E é, ainda, como Roberta fez questão de ressaltar, uma obra em progresso - "Roque está sempre mandando músicas novas pra gente", contou -, fonte abundante de clássicos latentes, pedindo vozes que os façam vicejar.

Samba Novo
Esta história começa em 2006, quando Roberta Sá foi convidada por Rodrigo Maranhão para participar de uma coletânea de samba que ele produzia para a Som Livre. A procura de uma música para gravar, Roberta entrou em contato com o universo de Roque e escolheu "Afefé". Para registrá-la, uniu-se ao Trio Madeira Brasil. Daquela experiência, surgiu a vontade de fazer um trabalho dedicado ao repertório de Roque.

Em seu segundo disco, Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria (2007), Roberta gravou "Laranjeira", mas foi em outubro daquele ano que o projeto começou a tomar forma. Convidados a participar do Circuito Original, Roberta e o Trio Madeira Brasil fizeram um show no Trapiche da Gamboa, zona portuária do Rio, em que músicas dos dois discos da cantora, clássicos do samba e algumas canções de Roque se misturaram dando início ao projeto que agora se realiza. "Zumbiapungo", parceria do baiano com Zé Paulo Becker, um dos integrantes do trio, que encerra a atual apresentação antes da volta para o bis, foi uma das canções apresentadas na ocasião.



Naquela oportunidade, Roberta cantou "Afefé", que no show da última terça foi pedida pela platéia no bis, sugestão rejeitada por Roberta, sob a justificativa de que não estava ensaiada. Na época, registrei a canção em um vídeo que ficou tecnicamente imperfeito - eram minhas primeiras experiências com uma nova câmera e tive dificuldades com o foco. Optei por mantê-lo inédito até agora. Aí está para a posteridade:



Sobre o futuro disco, não há dúvida de que representará o salto definitivo de Roberta Sá, de mais uma em meio a um conjunto de boas cantoras em busca de identidade, para a afirmação como uma das divas de sua geração, posto que lhe cai bem, dada uma certa afetação que demonstra no palco e o público fiel que vem conquistando desde que se lançou como cantora após uma tímida participação no extinto programa "Fama", suposta fábrica de talentos musicais da Globo, do qual, por vias completamente tortas, tornou-se a única a realmente vingar.

10 comentários:

Anônimo disse...

Esse disco do Roque "Tem Samba no Mar" é ótimo mesmo.
Quanto a Roberta Sá, acho-a uma Marisa Monte piorada e vinte anos atrasada.

PS: Gosto muito da Marisa Monte.

José Henrique

Anônimo disse...

Clécia Queiroz lançou ano passado o CD "Samba de Roque", só com músicas [inéditas, feitas para o CD] de Roque Ferreira.

Leiam em: http://noitepontosom.blogspot.com/2009/11/entrevista-uma-entusiasta-do-samba.html

Priscilla Oliveira disse...

Confesso que tenho um certo preconceito com a Roberta Sá e com essa nova geração de cantoras intérpretes. Não que elas não sejam boas...
A Marisa é massa,demais...ela e a Céu são minhas preferidas...

Anônimo disse...

As duas tb são as minhas preferidas, Priscilla.
Gosto de quem faz, nem que seja um pouco, diferente. De quem marca território, como gato.
No caso gatas. :>)

José Henrique

PINDZIM disse...

Interessante ouvir essas vozes dissonantes sobre a Roberta, que já há algum tempo vem sendo incensada pela crítica e por fãs ardorosos. No palco, ainda falta naturalidade, mas a voz está cada vez melhor. Acho que esse próximo disco vai ser um passo à frente, mesmo não tendo sido ela a primeira a dedicar um cd só às músicas do Roque. Por um bom tempo, Marisa será uma sombra, não só para ela. Uma sombra difícil de evitar. Concordo que a Céu surgiu logo ocupando seu próprio lugar ao sol, mas qual outra cantora brasileira tem um som verdadeiramente contemporâneo? Todas aquelas que se arriscam invocando a tradição do samba, dificilmente conseguem. Conseguirão? Difícil, mas podem achar algo que as diferencie. Roberta, Mariana, Mariene, Maria, Veronica são boas cantoras, mas ainda estão tentando. O grande público, porém, prefere o reconhecível do que aquilo que não sabe de imediato como catalogar. Compreender e aceitar o novo leva tempo. Os filhos dos jovens que vaiaram Caetano em 1968 são aqueles que agora idolatram o baiano e consideram que hoje a música brasileira está em decadência.

Estamos aqui para quebrar essa corrente.

Abraço

Anônimo disse...

Então Pindzim, a baiana Márcia Castro não reza na cartilha da Marisa.
Hoje ouvi o primeiro e ótimo cd solo da Karina Buhr(ex Comadre Florzinha)e o som dela(nada a ver com sua antiga banda) é verdadeiramente contemporâneo, como o da Céu.
O Guizado toca no disco inteiro, que tem participações do onipresente Catatau e do Edgar Scandurra.
O nome do bicho é: Eu Menti Pra Vc.
Confiram!

José Henrique

Priscilla Oliveira disse...

Acho que tem boas cantoras que se atrevem a compor e que fazem um som bem contemporâneo,o que, nas palavras da própria Céu, não é nem um bicho de sete cabeças. Acredito que basta ter um pouco de ousadia. Lendo a Rolling Stones desse mÊs tem uma pequena matéria que fala justamente sobre isso: "Não basta cantar". E cita 4 cantoras (Juliana Kehl, Dani Gurgel, Vanessa Bumagny e Andrea Ferrer), duas delas lançando o 1º álbum, que se atravem a compor buscando parceria com nomes já consagrados.
Eu sei que no mundo da música as coisas não são muito fáceis, vocÊ realmente tem que ser boa/bom. Mas pra mim compor é isso: é ter coragem e ousadia e é realmente um super diferencial.
Aproveitando,deixa a dica: a cantora Ellen Oléria, daqui de Brasília,muito boa e quem tem tocado muito por aí a fora.
www.myspace.com/ellenoleria
Pra quem não conhece, vale a pena dar uma conferida.
Abraços

falsobrilhante disse...

Tenho Marisa Monte com um grande engano. A sua veia compositora é chatíssima, morna, quase fria, como parece ser a sua performance no palco, que, justiça seja feita, conheço apenas de DVD´s. Acho até que esse espelho, da suposta cantora contemporânea que canta suas próprias composições, uma verdadeira armadilha. Gostei da Marisa Monte no primeiro disco e um pouco no segundo, do terceiro em diante, prá mim, desandou. Roberta Sá vem do Fama, mas não deve nada ao famigerado programa, enfim ela acabou saindo-se muito bem da armadura que enlatados do tipo colocam nos artistas, a prova disso são os trabalhos que desenvolveu depois e agora esse disco que vem vindo, saudando a obra de Roque Ferreira. Ela tem se revelado uma ótima intérprete e tomara que não caia na roda de ter que ser a compositora também. E nem acho que Marisa Monte seja assim a grande referência para as novas cantoras que vão aparecendo. E só para fazer coro, Mariene de Castro não reza na cartilha de Marisa Monte de jeito nenhum. E quanto ao público ter dificuldade de "digerir" o novo, é preciso considerar o efeito da grande mídia sobre o que é servido.

Anônimo disse...

Como posso conseguir o contato de e-mail do Roque ferreira ou produçção dele ?
Grata,

Mara Vieira

Anônimo disse...

Meu contato: mara_mao@hotmail.com