terça-feira, 27 de novembro de 2007

Academia da Berlinda: cumbias e guarachas ao estilo pernambucano

Texto publicado originalmente na 12ª edição da Revista O Dilúvio

Academia da Berlinda - a banda
Se a efervescência musical de Recife não reverbera como deveria nos palcos da cidade devido a uma suposta pasmaceira que, dizem, tomou conta dos produtores da cidade, os músicos se mobilizam para viabilizar os próprios shows. Foi assim que, em 2004, tendo como desculpa a inauguração da casa do produtor francês Marc Rennier, que amigos de diferentes bandas locais se reuniram para formar o coletivo que resultaria na Academia da Berlinda.

A proposta era botar a galera para dançar agarradinho, tipo gafieira, no quintal da casa. A festa começou sem um repertório pré-definido, as músicas iam surgindo no palco à medida que um ou outro integrante as puxava. "Rolou muito Aldo Sena e The Pops", relembra o baixista Yuri, guitarradas improvisadas e cumbias ancestrais. O espaço foi tomado de assalto por 350 pessoas – quando comportava no máximo 100 -, exceto o dono da casa, que ainda não havia chegado à cidade. Entretanto, ele não demoraria a conhecer a original mistura de ritmos latinos e caribenhos com a ciranda, o coco, o samba de matuto e a lambada, representantes da tradição popular brasileira. A festa acabou, mas a receptividade dos convidados – e também dos penetras – ao som foi um indicativo de que aquela era uma banda mais do que bem vinda. Era, de fato, necessária para agitar a cena pernambucana.

A partir do sucesso inicial, a banda continuou a produzir as próprias festas-show. Uma vez estabelecida, surgiu a necessidade de dar-lhe um nome. Entre as opções sugeridas pelo bateirista e percussionista Tom Rocha, chegou-se rapidamente a um consenso. É costume entre os integrantes da banda tirar onda um do outro no palco, nos ensaios, nos encontros, enfim, o tempo todo. Do centro das atenções à berlinda. Se essa prática é exercida com continuidade e intensidade, logo ela é uma academia. E assim ficou: Academia da Berlinda.

Nascida como um projeto paralelo de seus integrantes, uma vez que todos têm suas bandas oficiais, a Academia da Berlinda acabou tomando proporções maiores na carreira de seus integrantes. A ênfase nos ritmos latinos fez com que a banda fosse convidada para tocar em tradicionais redutos da “família cubana” em Recife, como o clube Bela Vista, normalmente frequentado por um pessoal que já gastou mais de uma centena de chinelas ao ritmo do arrasta-pé e não é muito dado a modernidades, digamos assim. Ao primeiro compasso, porém, tomaram seus pares e se misturaram aos jovens fãs de primeira hora da banda, promovendo um encontro de gerações raramente visto nas grandes metrópoles brasileiras. Assim foi também no Clube das Pás e a Academia da Berlinda se consolidou no circuito de bailes da cidade.

Academia da Berlinda - o disco
A partir deste convívio nos palcos da cidade surgiram composições próprias. “Academia da Berlinda” e “Envernizado” foram as primeiras a virem à luz, distribuidas por email aos mais antenados, que logo a espalharam pela rede. Um clipe de “Cúmbia do Lutador” gravado ao vivo e disponibilzado no Youtube reforçou as expectativas em relação ao disco de estréia da banda, auto-intitulado Academia da Berlinda, encartado na 12ª edição da revista O Dilúvio.

O disco foi uma conseqüência natural da acolhida que a banda teve em suas apresentações ao vivo. O público pediu e em fevereiro de 2007 a banda entrou em estúdio. As músicas vinham sendo trabalhadas e lapidadas ao longo de três anos de estrada. O vocalista Tiné tem participação em pelo menos metade das composições, com destaque para “Comandante”, cuja letra homenageia Pinduca, mestre paraense do catimbó; “Ciranda Enrustida”, em que a tradição melódica circular da ciranda é subvertida pelo diálogo entre o riff da guitarra e a sinuosidade do teclado; o clássico inaugural “Envernizado”, que conta com a participação de Jorge du Peixe, da Nação Zumbi, nos vocais; e o contagiante hino revolucionário “Cumbia do Lutador”.

O hino oficial, “Academia da Berlinda”, e “Naguê”, cantada em dialeto africano, são assinadas coletivamente. “Brega Francês”, de Yuri Rabid e Hugo Gila, apela a um micro korg encharcado pelas lágrimas de um homem abandonado para criar um clima de boate-cabaré de beira de estrada em que francês e português se misturam promiscuamente reforçando a dramaticidade do apelo: “estou cansado de te esperar, estou cansado de tentar te encontrar”. O emblemático Erasto Vasconcelos presenteou-os com “Mama me Queira” e Fred 04 injetou suíngue no samba torto “Se ela gostar”.

Felizes com a receptividade do disco apesar das dificuldades de distribui-lo e de divulgá-lo de forma totalmente independente, a banda revela ter planos de apresentar o show para além das fronteiras pernambucanas. Ainda sem datas confirmadas, o primeiro alvo é o Sudeste, e em um segundo momento os estados do Sul. A idéia é montar uma base em São Paulo e de lá fazer a ponte com outras cidades.

Enquanto isso, caso você não seja pernambucano ou não tenha tido o privilégio de assistir à Academia da Berlinda ao vivo, coloque o disco pra rodar e vá preparando a sola do sapato para cair na dança, agarradinho, ao som de cumbias, guarachas e merengues, um brega novo e original perfeito para ser ouvido num clima de brincadeira e fantasia como devem ser os momentos de maior diversão.

Obs: o disco está disponível para download no site de O Diluvio.

Um comentário:

Anônimo disse...

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