Ao anunciar o show do
Maquinado na noite de domingo, Bruno Levinson, idealizador do festival, apresentou Lucio Maia como um dos maiores guitarristas do Brasil. Com todo respeito a todos os demais, o integrante da
Nação Zumbi há tempos é "O" melhor. Se na banda, os riffs de sua guitarra são a espinha dorsal das canções, frases que determinam o ritmo e a intensidade da massa percussiva, e o encaixe dos versos de Jorge du Peixe, Lucio faz do
Maquinado um espaço recreativo. Com o chapéu enterrado na cabeça sob uma iluminação sombria, mal se vêem as expressões em seu rosto. Todas as luzes se concentram sobre a guitarra. Os beats e scratches do DJ PG e o gravíssimo baixo de Dengue compõem a base, ao mesmo tempo sólida e sútil, para os devaneios elétricos do Homem-binário. As canções se dissolvem ao serem recriadas ao sabor do passeio da mão esquerda de alto a baixo sobre o braço da guitarra e do manejo dos pedais, fazendo desvanecer qualquer conceito de autoria. O suíngue da mão direita é parente próximo do batuque de outro velho companheiro de Nação, o percussionista Toca Ogan. E o rock flui naturalmente, eminentemente elétrico com leve tempero acústico-eletrônico. Um convite à dança que as cadeiras da sala Baden Powell não deixaram se materializar, exceto pelo próprio Lucio e alguns poucos empolgados da platéia posicionados no fundo da sala.
É interessante observar que o show do
Maquinado, distancia-se totalmente do disco lançado no ano passado. Enquanto
Homem-binário pode ser enquadrado dentro do conceito de disco de produtor, em que Lucio Maia se propôs a explorar outras possibilidades formais como guitarrista e compositor, diferentes de seu trabalho com a Nação Zumbi. Os riffs poderosos continuam constituindo o núcleo celular das composições, mas as diversas texturas de guitarra que Lucio consegue extrair e combinar em uma mesma música, unidas a um teclado, ou a um trompete, como em "Alados", se destacam mais do que o virtuosismo de seus solos. Assim como grande parte do repertório do disco não foi incluído do show, em parte porque não seria fácil reunir o grande elenco de convidados que colaborou com os vocais em pelo menos metade das músicas, no palco, os solos, em que cada nota é mais importante do que a harmonia, são o show.
Há quem prefira ver no palco uma reprodução fiel da sonoridade obtida a partir do disco gravado em estúdio, mas provavelmente não é o caso daqueles que lá estavam. E também daqueles que ainda terão a oportunidade de assistir a futuras apresentações do
Maquinado. Lucio Maia, o homem-binário em seu projeto solo, não parece ser capaz de fazer uma apresentação igual a outra. Assim, que venham as próximas.
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