segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Disco do 3 na Massa será lançado pela Deckdisc

Em março, finalmente, deve chegar às lojas físicas e virtuais o esperado disco do 3 na Massa, projeto de Pupillo e Dengue, baterista e baixista da Nação Zumbi e Rica Amabis, do Instituto em um lançamento da gravadora Deckdisc. Na Confraria das Sedutoras é aguardado desde o fim de 2006, quando as primeiras músicas do trio apareceram no Myspace. O álbum reúne 13 composições do trio, assinadas em parceria com compositores como Jorge du Peixe e Fernando Catatau, na voz de intérpretes do sexo feminino. Não apenas cantoras, como Thalma de Freitas, Lurdes da Luz e Cyz, mas também atrizes. Entre elas, Leandra Leal e Alice Braga. "Doce Guia", de Júnio Barreto, com Céu no vocal, "Tatuí", de Rodrigo Amarante, na voz de Karine Carvalho, e "Estrondo", de Rodrigo Brandão, interpretada por Geanine Marques estão rolando há tempos no Myspace e circulando em mp3 no mundo virtual. Recentemente foram adicionadas "Objeto" com Nina Becker e "Vinheta Pecadora" com Simone Spoladore.

Além das músicas disponíveis no Myspace, a Deckdisc liberou, hoje, a faixa "Lágrimas Pretas", música de Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, com Pitty nos vocais. Ouça aqui enquanto o disco não chega:


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Show: Ana Cañas no Estrela da Lapa

Ana Cañas despontou na cena paulistana cantando standards de jazz no Baretto. Quando montou sua página no Myspace e disponibilizou a primeira música de sua autoria, "Devolve Moço", uma peça primorosa jazz-pop-mpb que combina o scat-singing com um trompete sinuoso sobre uma base de balanço swingado, criou boas expectativas. Despertou o interesse das outroras grandes gravadoras e acabou se tornando a primeira contratada da Day 1 (leia-se Sony BMG). Amor e Caos foi lançado, recebeu ampla cobertura midiática e as críticas foram uniformes: sem dúvida uma grande cantora, de voz firme e potente, mas uma compositora ainda imatura. Esta equação resultou em um disco irregular, com arranjos pop-rock bastante convencionais. Não empolga ou emociona o ouvinte, embora o primeiro single, "A Ana", venha tocando bastante em algumas rádios. A inventividade dos metais e das programações eletrônicas parecem restritas a "Devolve Moço", que na verdade foi gravada sem a participação do produtor Alexandre Fontanetti, antes das sessões de Amor e Caos.

O show de lançamento de Amor e Caos no Rio de Janeiro ofereceu uma perspectiva realista do que Ana Cañas virá a enfrentar antes de se consolidar como cantora e compositora e de formar um público fora dos domínios paulistanos. A grande maioria dos presentes no Estrela da Lapa estava lá para conhecê-la mais a fundo e não poporcionou uma recepção das mais calorosas. O burburinho de vozes no fundo da casa rivalizava com a potência vocal da cantora. Exagerada nos maneirismos em sua performance de palco, por vezes Ana chama mais atenção por sua movimentação corporal, saltos, caras e bocas, o balançar da cabeleira esvoaçante do que pela música. Talvez fosse um artifício para vencer o nervosismo aparente de sua estréia oficial em terras cariocas, embora ela já houvesse se apresentado no palco palco paralelo do Morro da Urca na mesma noite que a colega de gravadora Bebel Gilberto, em janeiro.

No palco fica ainda mais evidente a base roqueira latente no disco. Sua banda é formada por dois guitarristas, baixista, baterista e tecladista. Os covers que ela escolheu para ampliar o repertório do show também: na suave interpretação de "The Wind Cries Mary", de Jimi Hendrix, a melodia vocal ganha uma amplitude que a voz do guitarrista não era capaz de alcançar; "Eu e meu gato" é antes um tributo à Rita Lee do que uma releitura renovada da canção.

A versão estendida de "Coração Vagabundo", com longa introdução em voz e violão, foi a deixa para que Ana tentasse estabelecer uma conexão direta com o público. Com gestos, pediu para que os presentes cantassem junto com ela. A participação começou tímida. Quando deixados a sós na tarefa de cantar, apenas uma ou outra voz se sobrepunha ao dedilhado do violão. No fim, houve mais interação. De sua própria lavra, os pontos altos foram a supra-citada "Devolve Moço", que estabelece uma ponte com o público mais familiarizado às suas canções, e "Mandinga Não", que abriu o show e reapareceu no bis. Uma terceira canção que se destaca em Amor e Caos é a versão de "Super Mulher", de Jorge Mautner. Se no show ela perde a sutileza do arranjo percussivo de Naná Vasconcellos, ganha em energia e intensidade irradiadas pela voz de Ana. Veja:



Entre a instantaneidade do Myspace e o imobilismo da velha indústria cultural, há múltiplas possibilidades. Inclusive, não se deve descartar a associação entre ambos os extremos. Mas o certo é que o céu não está para poucas estrelas solitárias e sim para diversas constelações. A música depende de processos associativos. Ana Cañas conquistou o seu espaço, tem predicados artísticos, mas ainda há uma trilha a ser percorrida até que encontre o seu lugar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sonantes: trilha sonora para o cotidiano

Quatro músicas apareceram no Myspace de uma banda denominada Sonantes. Quando exatamente, não se sabe, mas as ondas sonoras logo reverberaram do espaço virtual para o cotidiano tomando de assalto as vias auditivas conectadas ao que de melhor se produz na música brasileira atual. Uma ponte erguida nas Perdizes paulistanas unindo o Recife da Nação Zumbi, de Pupilo e Dengue, e a São Paulo do Instituto, de Rica Amabis. Entre estes dois pólos de criatividade, a cantora CéU e o produtor e compositor Gui Amabis. Desdobramento concreto da experiência sônica do 3 na Massa. Inesperado é que ambos venham a luz juntos, tão próximos em sua filiação, mas diversos em seus propósitos. Pois Sonantes não se trata de um projeto, mas de uma banda batizada e abençoada por Jorge du Peixe, e que acolhe convidados tais quais Lucio Maia, Siba, Beto Villares, Toca Ogan, Fernando Catatau, Gustavo Da Lua, Pepe Cisneros, Sergio Machado, B-Negão e Apollo 9. Até então, a melhor novidade do ano de 2008, que promete uma safra excelente de novos discos, potencializada pelo fator surpresa. O texto que apresenta a banda no myspace leva a crer que o disco está pronto e será lançado em parceria entre o Selo Instituto e a Candeeiro. Vá agora à página dos Sonantes para ouvir as músias, ou baixe o EP compilado por um fã de primeira hora, sinta o baque e acione o repeat enquanto espera pela íntegra do possível e desejado álbum.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A genealogia musical de Moreno Veloso

Se os talk-shows foram a melhor novidade do Humaitá pra Peixe 2008, o novo evento teve seu ponto alto no dia 14 de janeiro, quando o trio +2 + Pedro Sá foram os convidados de Bruno Levinson no Cinematèque Jam Club. Vamos evitar aqui o jornalismo requentado, pois a noite foi relatada com minúcia no site do festival. Esta postagem é dedicada exclusivamente a um de seus integrantes. Histórias e piadas a parte, as melhores músicas da noite saíram de sua voz e seu violão.

Moreno-show
A formação musical de Moreno Veloso precede o seu nascimento. Na barriga de sua mãe, ele já se fazia presente na sala da música, aquele espaço da casa reservado a ouvir e a tocar canções, onde muito provavelmente foram criados alguns clássicos da música brasileira. Se pela memória Moreno não consegue chegar à raiz, se vale do primeiro registro musical a ele dedicado. A canção de ninar "Tudo tudo tudo", gravada à capela, com o ritmo marcado na palma da mão, pelo pai no disco Jóia, de 1975, cuja capa foi censurada por trazer o pai Caetano, a mãe Dedé e o filho Moreno ao natural, despidos de quaisquer pudores em uma época de valores morais ditados por um regime que pregava a liberdade de reprimir em nome de Deus, da pátria e da família. "Tudo comer / tudo dormir / tudo no fundo do mar", "é só isso", cantou Moreno, justificando-se diante da insistência de Bruno.

Ainda no remoto terreno da infância, "Só vendo que beleza" foi lembrada como a primeira música que caiu no gosto do menino Moreno. Acompanhado pelo pai ao violão - como mais tarde ele viria a registrar em Máquina de Escrever Música, estréia fonográfica do trio -, Moreno costumava cantar a primeira parte da canção. Ao cantá-la naquela noite, ele se esquece da progressão harmônica que conduz à segunda parte. É imediatamente socorrido pela voz de Kassin, cantando levemente fora do tom. A ironia é que logo antes, Moreno havia brincado dizendo que Kassin não gostava de música brasileira, dando início a uma breve e carinhosa discussão. Terminado o número, sob aplausos do público presente, constrangido, Moreno sussura: "eu errei". Bem, não se tratou de um erro, mas sim um regresso aos tempos de criança.

Só Vendo que Beleza



Pendores musicais, Moreno tinha, sem dúvida. Mas foi na casa de Gilberto Gil que ele se aproximou do violão. Um dia, ao chegar lá, encontrou os "primos" tropicalistas Pedro e Preta tomando aulas de violão com um professor e disse a Caetano que gostaria de aprender a tocar o instrumento. Mais do que um, ele teve vários professores, entre eles o próprio Gil, que lhe ensinou a tocar "Cores Vivas", "uma música que meu pai e todos lá em casa gostavam muito".

Cores Vivas



Daí a se tornar músico e compositor muito tempo se passou, mesmo com a música sempre presente em sua vida. Em 1997, no disco Livro, Caetano gravou uma canção assinada por Moreno, "How beautiful could a being be". O acento baiano, o tom maior, o flerte com o pop são algumas características do Moreno compositor que já estão presentes ali. Talvez faltasse encontrar as pessoas certas para assumir a carreira. Elas eram Kassin e Domênico Lancelotti e em 2001 foi lançado o primeiro disco da trilogia +2, justamente com Moreno a frente da banda. A partir daí, não só Moreno, mas o trio tornou-se referência obrigatória no meio independente brasileiro, especialmente na cena carioca, até alcançar projeção internacional no Japão, na Europa e nos Estados Unidos.

Neste ínterim, Moreno teve composições gravadas por sua madrinha Gal Costa, mas foi só em 2007 que, como compositor, ele emplacou um sucesso radiofônico e, por que não, popular. A irresistível "Um passo à frente", parceria com Quito Ribeiro, chamou atenção da jovem sensação Roberta Sá que pediu autorização para gravá-la em seu segundo disco. A música, no entanto, era uma das que havia sido gravada por Gal, então Moreno perguntou se a cantora gostaria de gravar uma música do repertório de Gal Costa. Ambos concordaram que não seria uma boa, mas Moreno prometeu uma música inédita a Roberta. Por não ser um compositor dos mais prolíficos, a tal música não existia. As sessões de gravação de Roberta já estavam sendo finalizadas quando Moreno a encontrou na aula de pilates. Amanhã é o último dia, ela teria dito. Ao sair da aula, Moreno ligou para o parceiro Quito e o intimou: precisamos fazer uma canção para a Roberta Sá esta noite. Quito, também fã da cantora, concordou e o resultado foi a bossa-de-roda pop-malemolente "Mais Alguém". Moreno a interpretou pela primeira vez em público no talk-show do Humaitá pra Peixe.

Mais Alguém



Noite inesquecível. Faltou apenas uma pergunta. Fechada a trilogia, o que eles pretendem fazer a seguir? Futurismo em aberto.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Humaitá pra Peixe 2008: Balanço Final

O Humaitá pra Peixe despediu-se do público ontem, no Oi Futuro, com o concorridíssimo show de Quito Ribeiro. Mesmo tímido como intérprete, pouco a vontade no palco, especialmente no começo da apresentação, Quito mostrou-se um excelente compositor. O baixo de Pedro Sá é o núcleo central de onde partem graves vibrações Sua música esgarça os limites do samba-reggae de sua Bahia natal. O samba é de roda, com seus acordes maiores e o ritmo marcado na palma da mão, originário da tradição popular que por muito tempo esteve soterrado sob a vulgaridade do axé, mas agora parece voltar à luz em frentes diversas. O reggae se apresenta em vertente dub, processado organicamente, sem remix, dj ou programações. O núcleo central é o baixo de Pedro Sá com sua gravidade densa. As duas baterias, a cargo de Marcello Calado e Stéphane San Juan, ora se dobram em eco, ora se quebram em desafio, completadas pela percussão de Leo Monteiro. Benjão, entre a guitarra e o violão, faz a base harmônica para a típica marcação rítmica e suja da guitarra de Gabriel Bubu e seus pedais de efeitos. Por outro lado, fica óbvio que a voz de Quito não está a altura da riqueza melódica de suas composições. Muitas vezes ele tem dificuldade para alcançar algumas notas mais altas, mas as boas vibrações que emanavam da platéia fizeram com que ele ficasse mais solto e, também, a festa mais bonita. Pelo visto o espaço Oi Futuro tornar-se-á um palco obrigatório nas próximas edições do festival.

Belo final para a vitaminada edição 2008, que além dos shows no palco principal, nos fins de semana, na sala Baden Powell, incluiu em sua programação atividades diversas: talk shows às segundas no Cinematèque Jam Club, debates às terças no Bar Mofo, workshops instrumentais e de produção musical às quartas e lançamentos de discos no Oi Futuro às quintas. Ou seja, pescaria ininterrupta ao longo de 28 dias, pela primeira vez desde a primeira edição, 14 anos atrás.

Como sempre acontece, os artistas escalados para o palco principal compuseram um painel desigual. Musicalmente, isso não é ruim. Diversos gêneros e estilos foram contemplados e essa é uma das características que faz do Humaitá pra Peixe um dos mais interessantes festivais independentes do país. O efeito colateral desta mistura é que alguns artistas acabam ficando deslocados, por uma razão ou outra, e o show não funciona. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Z'África Brasil. Acompanhados por baixo, guitarra e bateria, além dos três MC's e o DJ, O único representante da cena hip-hop no festival fez um show competente, mas, talvez pela chuva que caiu na cidade, não encontrou seu público. No extremo oposto, há o caso de Roberta Sá. Cantora afirmada entre crítica e público desde o lançamento de seu primeiro cd, Roberta lotou a Baden Powell com os seus fãs, algo que não faz parte do propósito do festival. Não se tratam propriamente de equívocos da escalação de 2008, pelo contrário. No primeiro caso, foi válida a aposta em uma das melhores bandas de rap do Brasil, mas parece que no Rio não há correspondência à linguagem e aos elementos do rap paulista. E, o segundo, parece ter sido uma tentativa de ampliar o público do festival através de um nome de alta potência para além do circuito independente. Nem vamos falar daqueles que não justificaram, pela música, sua presença no festival. Vale o registro de que foram poucos, pelo menos aqueles aos quais assisti.

O ponto alto na Baden Powell deu-se logo na primeira semana. Apesar de ter feito apresentações no Teatro Odisséia e no Cinematèque, o Vanguart ainda não havia recebido a devida atenção do público carioca. Bruno Levinson e sua turma fizeram o que lhes era devido: jogar luz sobre o fenômeno. Se eles realmente vão emplacar por aqui só o futuro irá dizer. Entre muitos bons shows, apenas um, este ano, creio eu, deverá entrar para história do Humaitá: foi a estréia do Maquinado de Lucio Maia em palcos cariocas, devidamente registrada aqui.

Da segunda semana em diante, houve alguns momentos dignos de nota: Manacá e Frank Jorge juntos fizeram a melhor noite do festival (Leia e veja aqui). A banda carioca, prestes a lançar agora em março o seu primeiro disco oficial, pela EMI, com produção de Mario Caldato Jr, fez um belo show, embora tenha enfrentado uma platéia um tanto acomodada nas poltronas da Baden Powell. Por sua vez, Frank reacendeu paixões gaudérias nos gaúchos radicados no Rio, e até mesmo em alguns que vieram especialmente para ver o show, e contagiou seus fãs cariocas com seu energético baile-rock-sessentista.

Os também gaúchos da Superguidis com suas guitarras em fúria justificaram o hype virtual que os garantiu no festival. Coube a eles também o maior sucesso da cobertura conjunta da Tuba do Pindzim e O Dilúvio: em um dia, houve 1300 acessos à nossa reportagem especial. Veja aqui.

Em menor escala, o Songoro Cosongo apresentou sua inusitada e criativa sonoridade latino-carioca-americana para uma sala praticamente vazia. Presença constante nos palcos da Lapa, talvez a banda não tenha conseguido atrair seus fãs boemios a uma apresentação cujo início se deu ainda à luz do dia sob uma chuva que parou diversos pontos da cidade. Poderia ter sido muito mais animado, tal qual a música que se viu no palco. Outra banda de presença constante na noite carioca, o Fino Coletivo levou bastante gente à sua apresentação, porém, só conseguiram mesmo fazer a galera tirar a bunda da cadeira para dançar nos últimos números do show. Por fim, o show surpresa foi o que se esperava do encontro entre Canastra e Brasov: uma grande celebração com muito bom humor e descontração. Um final bem carioca, digamos, embora não tenha se configurado em surpresa alguma.

A melhor novidade do Humaitá pra Peixe 2008 foram os talk-shows. Às segundas, no Cinematèque, talvez tenham acontecido os melhores momentos do festival. O evento configurou-se em um sarau biográfico com roda de violão. Bruno Levinson conseguiu reunir artistas altamente relevantes na atual cena carioca, extraiu deles boas histórias e, o melhor, muitas músicas inéditas. Veja Rodrigo Maranhão e Pedro Luís interpretando "Rap do Real" e "Rosa que me encanta" clicando nos links. E após o carnaval o Blog do Pindzim vai produzir uma reportagem em texto e vídeo acerca do tals-show do +2.

Bem, aqui termina a cobertura conjunta da Tuba do Pindzim e do Dilúvio sobre o Festival Humaitá pra Peixe. Já com saudades da prolífica pescaria de verão nos despedimos desejando um carnaval com muita música boa.

Agô Pindzim!