Às 19h30, no Rival, Rodrigo Campos apresenta as canções de São Mateus Não é Um Lugar Assim Tão Longe, lançado há pouco pela Ambulante Discos. É mais uma das boas surpresas surgidas em São Paulo. É fácil associá-lo ao samba, pois de fato há músicas no disco que se enquadram no gênero. A leitura de Rodrigo, no entanto, é diversa, sintetiza o passado e o presente de uma forma incomum. Suas letras recuperam a tradição dos cronistas do samba, como Noel, Elton Medeiros, Nei Lopes e muitas vezes com Paulinho, com quem sua voz guarda semelhanças - pequena e contida - e ao mesmo tempo se aproximam de uma chave diversa, por exemplo, dos sambistas egressos da Lapa Carioca.
O olhar sobre a periferia não exclui a violência latente em suas quebradas dialogando com o rap. Pode ser de uma forma explícita ("California Azul") ou subjacente ("Mangue e Fogo"). Mas também é carregada de humanismo, com seus personagens, fictícios ou não, recorrentes em uma e outra canção. Na terceira pessoa, Rodrigo dá nome próprio a eles, narrando as paixões nutridas nos interstícios de um cotidiano distante do glamour, da felicidade e das facilidades da classe média alta. É no romance, no futebol, na música e na religião que esta população encontra o seu alento.
Mesmo em tal contexto, não há espaço para lamentação. No máximo, Rodrigo oferece um cântico religioso em que professa uma fé cega em um santo desconhecido em "Que Santo É Esse?", talvez, o momento mais bonito do disco, com Luisa Maita nos vocais. A cantora e parceira de Rodrigo faz participação logo mais no Teatro Rival.
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Portanto, não é preciso muito esforço para assistir a ambos. Da Cinelândia até Botafogo não chega a 15 minutos de metrô. Praticamente de porta a porta. Fica a dica.
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