Está no blog do trio no Myspace: já foi gravada a primeira música que estará no sucessor de Na Confraria das Sedutoras. Tem Otto na poesia e Ana Cañas nos vocais sobre uma das tradicionais bases sacanas da turma. Ana, inclusive, comentou a sua participação, também no Myspace. Mais cedo ou mais tarde estará liberada para audição.
Conforme eles disseram há algum tempo atrás - acho que foi o Pupillo -, alguns letristas devem ser convocados novamente para a produção do disco novo. Porém, o time de cantoras será totalmente renovado. Entre as apostas certeiras, Marina de la Riva e Bárbara Eugênia, que têm participado de alguns shows da banda. No terreno das especulações, quem você gostaria de ouvir no aguardado volume 2? Luisa Maita? Cibelle? Tiê? Anelis Assumpção? quem sabe até Roberta Sá, por que não? Faça a sua lista e aguarde. Previsão de lançamento? Tá de brincadeira. Devagar é mais gostoso...
domingo, 29 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Amanhã, Romulo Fróes se apresenta no Rio com Kassin e Domenico
Daqui a pouco deve começar o primeiro e único ensaio da banda carioca que Romulo Fróes arregimentou para o show de lançamento de seu álbum duplo No Chão sem o Chão, no Rio, amanhã a noite no Cinemathèque. Nele Romulo estará acompanhado de Domenico na bateria, Kassin no baixo e Gabriel Bubu na guitarra.
Em uma breve entrevista por email, ele antecipa algumas coisas sobre a apresentação, fala abertamente sobre as dificuldades de manter uma carreira independente no Brasil dadas as atuais condições, revela uma aproximação com a turma do +2 e o começo de uma já prolífica parceria com Domenico.
Com a palavra, Romulo Fróes.
Pindzim: É quase sempre demorado para os músicos de fora do Rio chegarem à cidade para tocar e até mesmo bandas locais reclamam por falta de espaço e de convites. Você tem feito ensaios sobre a música brasileira atual, cujo centro nevralgico certamente se localiza em São Paulo. Nesse contexto, em que posição se encontra o Rio de Janeiro? Estaria a cidade em uma condição periférica dentro desta nova cena, com poucas novidades no que diz respeito a novos músicos e bandas, e um público desinteressado?
Romulo Fróes: Definitivamente não há no Rio de Janeiro falta de novos trabalhos relevantes para a música brasileira, muito pelo contrário, muitas das coisas que mais gosto hoje em dia, são produzidas aí. Agora, não só o Rio, mas a Bahia, Recife, Minas e todos os outros estão passando por um período de imensa dificuldade no negócio de música. O modo como se constituía o mercado acabou e ninguém sabe como será daqui pra frente. São Paulo, mesmo com seus problemas que não são poucos, ainda assim, é o melhor lugar pra se desenvolver um trabalho, o que não significa possibilitar a um artista independente viver de sua música. Sinceramente, eu considero a possibilidade de nunca conseguir viver de música.
Uma consideração sobre a pergunta que originou tal resposta. Quando me refiro a uma certa pasmaceira na cena carioca atual, faço alusão à falta do surgimento de novíssimos nomes. Há uma nova geração já estabelecida: parte dela gira em torno dos integrantes do Los Hermanos e da Orquestra Imperial, que são aqueles que Romulo diz admirar; do outro lado há os egressos do movimento de revitalização da Lapa, mas depois destes dois movimentos espontâneos quase nada de novo surgiu - o Manacá seria uma das poucas exceções, talvez. Enquanto isso, São Paulo não para de revelar novos nomes ou de atrair músicos de outros estados para lá desenvolverem os seus trabalhos.
Pindzim: Na esteira da pergunta anterior, por que a opção de formar uma banda carioca para tocar aqui, ao invés de trazer os músicos que participaram do disco e costumam acompanhá-lo em seus shows?
Romulo: Porque não há dinheiro, simples assim. Eu não sou uma banda, eu pago os caras que tocam comigo. Pouco, mas pago, e viajar pra outro estado, significa ainda pagar passagens, hospedagem, rango e tudo o mais. Isso tudo sairá do valor da metade da bilheteria arrecadada, que é o que a maioria das casas de show oferecem, por não terem também mais o que oferecer, a coisa está difícil pra todos. Faça as contas e verá o prejuízo na minha conta.
Pindzim: Numa conversa há tempos atrás, você falou que tocaria no Rio com o pessoal da banda Do Amor, depois falou em Alberto Continentino no baixo, mas eis que agora vem com Domenico e Kassin, a melhor cozinha da cidade. Como essa banda carioca se formou?
Romulo: Partindo pra essa coisa de se montar uma banda local, quando a gente conversou, eu era mais próximo dos caras do Do Amor por conta da minha proximidade com a Nina Becker, com quem já dei algumas canjas. Mas por mais que todos tenhamos admiração um pelo trabalho do outro, as prioridades existem e neste fim de semana haverá show de Caetano Veloso na cidade, o que significa que metade do Do Amor não poderia tocar comigo, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes. Passado algum tempo me aproximei mais do Domenico, acabamos por fazer um trabalho juntos no Sesc Pompéia, trabalho em que também estava o Bubu. Precisávamos então de um baixista. Pensamos no Alberto Continentino, que acabou não podendo por também tocar nesse dia com a Vanessa da Mata. Daí pintou a chance do Kassin fazer e eu fiquei felizaço, afinal é quase o +2, que eu sou fã, tocando comigo, além do Bubu, que eu acho um dos maiores músicos dessa cena. Contei essa história toda pra mostrar as dificuldades de se manter um trabalho da maneira mais digna possível.
Pindzim: Há intenção de levar adiante um possível trabalho com esses músicos?
Romulo: Sempre quero me relacionar com quem tenho admiração, esse show é muito por conta disso. Efetivamente, o que já rolou foi uma parceria de composição com o Domenico. Já fizemos três canções juntos e creio que muitas outras ainda virão. Quem sabe a gente não toque alguma neste show no Cinematheque...
Pindzim: Tendo pouco tempo para ensaiar, qual será o repertório do show? Imagino que baseado nas músicas de "No Chão sem o Chão", mas, sendo elas muitas, como foi feita a seleção?
Romulo: Vou fazer rigorasamente o show que costumo fazer com minha banda em São Paulo. Eu seleciono as canções, digamos, mais enérgicas do disco, pra não correr o risco de ser engolido pelo burburinho habitual de um show num boteco, as canções mais tristes e delicadas não funcionam nesse tipo de ambiente.
Pindzim: Você é um compositor prolífico. Alguma chance de apresentar alguma coisa nova por aqui?
Romulo: Se tiver tempo de ensaiar sim, sempre gosto de mostrar novas canções, é onde mais me divirto.
Pindzim: Da última vez em que conversamos, você falou sobre as encomendas que vinha recebendo para fazer músicas para algumas cantoras, citou a Thais Gulin, por exemplo. O que vem por aí de Romulo Fróes em outras vozes?
Romulo: Continuo minha constante paquera com todas as cantoras que conheço. De certo mesmo, no próximo ano terá canção minha no disco de estréia da Nina [Becker], um disco lindo que vai dar o que falar.
SERVIÇO
Cinemathéque
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo
Horário: 21h
Ingressos: a partir de R$ 15,00
Em uma breve entrevista por email, ele antecipa algumas coisas sobre a apresentação, fala abertamente sobre as dificuldades de manter uma carreira independente no Brasil dadas as atuais condições, revela uma aproximação com a turma do +2 e o começo de uma já prolífica parceria com Domenico.
Com a palavra, Romulo Fróes.
Pindzim: É quase sempre demorado para os músicos de fora do Rio chegarem à cidade para tocar e até mesmo bandas locais reclamam por falta de espaço e de convites. Você tem feito ensaios sobre a música brasileira atual, cujo centro nevralgico certamente se localiza em São Paulo. Nesse contexto, em que posição se encontra o Rio de Janeiro? Estaria a cidade em uma condição periférica dentro desta nova cena, com poucas novidades no que diz respeito a novos músicos e bandas, e um público desinteressado?
Romulo Fróes: Definitivamente não há no Rio de Janeiro falta de novos trabalhos relevantes para a música brasileira, muito pelo contrário, muitas das coisas que mais gosto hoje em dia, são produzidas aí. Agora, não só o Rio, mas a Bahia, Recife, Minas e todos os outros estão passando por um período de imensa dificuldade no negócio de música. O modo como se constituía o mercado acabou e ninguém sabe como será daqui pra frente. São Paulo, mesmo com seus problemas que não são poucos, ainda assim, é o melhor lugar pra se desenvolver um trabalho, o que não significa possibilitar a um artista independente viver de sua música. Sinceramente, eu considero a possibilidade de nunca conseguir viver de música.
Uma consideração sobre a pergunta que originou tal resposta. Quando me refiro a uma certa pasmaceira na cena carioca atual, faço alusão à falta do surgimento de novíssimos nomes. Há uma nova geração já estabelecida: parte dela gira em torno dos integrantes do Los Hermanos e da Orquestra Imperial, que são aqueles que Romulo diz admirar; do outro lado há os egressos do movimento de revitalização da Lapa, mas depois destes dois movimentos espontâneos quase nada de novo surgiu - o Manacá seria uma das poucas exceções, talvez. Enquanto isso, São Paulo não para de revelar novos nomes ou de atrair músicos de outros estados para lá desenvolverem os seus trabalhos.
Pindzim: Na esteira da pergunta anterior, por que a opção de formar uma banda carioca para tocar aqui, ao invés de trazer os músicos que participaram do disco e costumam acompanhá-lo em seus shows?
Romulo: Porque não há dinheiro, simples assim. Eu não sou uma banda, eu pago os caras que tocam comigo. Pouco, mas pago, e viajar pra outro estado, significa ainda pagar passagens, hospedagem, rango e tudo o mais. Isso tudo sairá do valor da metade da bilheteria arrecadada, que é o que a maioria das casas de show oferecem, por não terem também mais o que oferecer, a coisa está difícil pra todos. Faça as contas e verá o prejuízo na minha conta.
Pindzim: Numa conversa há tempos atrás, você falou que tocaria no Rio com o pessoal da banda Do Amor, depois falou em Alberto Continentino no baixo, mas eis que agora vem com Domenico e Kassin, a melhor cozinha da cidade. Como essa banda carioca se formou?
Romulo: Partindo pra essa coisa de se montar uma banda local, quando a gente conversou, eu era mais próximo dos caras do Do Amor por conta da minha proximidade com a Nina Becker, com quem já dei algumas canjas. Mas por mais que todos tenhamos admiração um pelo trabalho do outro, as prioridades existem e neste fim de semana haverá show de Caetano Veloso na cidade, o que significa que metade do Do Amor não poderia tocar comigo, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes. Passado algum tempo me aproximei mais do Domenico, acabamos por fazer um trabalho juntos no Sesc Pompéia, trabalho em que também estava o Bubu. Precisávamos então de um baixista. Pensamos no Alberto Continentino, que acabou não podendo por também tocar nesse dia com a Vanessa da Mata. Daí pintou a chance do Kassin fazer e eu fiquei felizaço, afinal é quase o +2, que eu sou fã, tocando comigo, além do Bubu, que eu acho um dos maiores músicos dessa cena. Contei essa história toda pra mostrar as dificuldades de se manter um trabalho da maneira mais digna possível.
Pindzim: Há intenção de levar adiante um possível trabalho com esses músicos?
Romulo: Sempre quero me relacionar com quem tenho admiração, esse show é muito por conta disso. Efetivamente, o que já rolou foi uma parceria de composição com o Domenico. Já fizemos três canções juntos e creio que muitas outras ainda virão. Quem sabe a gente não toque alguma neste show no Cinematheque...
Pindzim: Tendo pouco tempo para ensaiar, qual será o repertório do show? Imagino que baseado nas músicas de "No Chão sem o Chão", mas, sendo elas muitas, como foi feita a seleção?
Romulo: Vou fazer rigorasamente o show que costumo fazer com minha banda em São Paulo. Eu seleciono as canções, digamos, mais enérgicas do disco, pra não correr o risco de ser engolido pelo burburinho habitual de um show num boteco, as canções mais tristes e delicadas não funcionam nesse tipo de ambiente.
Pindzim: Você é um compositor prolífico. Alguma chance de apresentar alguma coisa nova por aqui?
Romulo: Se tiver tempo de ensaiar sim, sempre gosto de mostrar novas canções, é onde mais me divirto.
Pindzim: Da última vez em que conversamos, você falou sobre as encomendas que vinha recebendo para fazer músicas para algumas cantoras, citou a Thais Gulin, por exemplo. O que vem por aí de Romulo Fróes em outras vozes?
Romulo: Continuo minha constante paquera com todas as cantoras que conheço. De certo mesmo, no próximo ano terá canção minha no disco de estréia da Nina [Becker], um disco lindo que vai dar o que falar.
SERVIÇO
Cinemathéque
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo
Horário: 21h
Ingressos: a partir de R$ 15,00
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Siba e Roberto Corrêa na estrada com Violas de Bronze
Em entrevista via Skype ao Blog do Pindzim, os músicos falaram sobre a repercussão do disco lançado no começo do ano
Violas de Bronze é um dos grandes discos brasileiros da excelente safra 2009. Porém, guarda uma grande diferença de todos os outros lançamentos (podem ser citados também os novos de Otto, Cidadão Instigado, Céu, Lucas Santtana, +2 e a lista continua). Siba e Roberto Corrêa criaram um clássico atemporal. O arcaísmo dos arranjos baseados nas possíveis combinações de rabeca e das violas caipira, nordestina e de cocho chocam-se com as atualíssimas sacadas poéticas de Siba, atualizando a tradição dos cantadores nordestinos, o estilo virtuoso de pontilhar a viola de Roberto e as mais modernas técnicas de gravação e mixagem utilizadas durante as breves sessões de estúdio que deram forma às canções.
Veio à luz agora, mas poderia ter sido antes, em um passado imensurável, quanto depois, em um futuro próximo. Trata-se de um projeto paralelo às carreiras de ambos os envolvidos que foi viabilizado quando a conciliação das agendas permitiu. Por esse mesmo motivo, shows são pouco frequentes, mas nos próximos dias Siba e Roberto tocam em Goiânia e em São Paulo.
No momento em que fazem música juntos, todas as fronteiras, sejam elas culturais, comportamentais ou imaginárias, se diluem. "Eu acho que as fronteiras estão menos rígidas atualmente, o que é regional, pop, moderno, tradicional. A gente acaba se beneficiando de um processo de quebra da rigidez entre essas fronteiras para o qual a gente também colaborou desde a década de 90. O meu trabalho vem sendo inserido nesse meio, entre as fronteiras, quebrando um pouco com cada lado. Acaba que o que possibilita a gente de estar num festival como o Goiânia Noise, que até pouco tempo era muita mais restrito, é justamente esse contexto mais abrangente. Isso é de certa forma uma colheita do que a gente trabalhou a vida inteira", afirma Siba.
SERVIÇO
Goiânia Noise Festival - Palco Centro Cultural Goiânia Ouro
Endereço: Rua 03, esquina com Rua 09, nº 1016, Galeria Ouro, Centro
Dia: Quinta, 26 de Novembro de 2009
Horários: 22h
Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: Grátis (retirada de ingresso duas horas antes no local)
Classificação Indicativa: ?
Auditório do Ibirapuera
Endereço: Parque do Ibirapuera, entrada pela rua Pedro Álvares Cabral
Dia: Sexta, 27 de Novembro de 2009
Horários: 21h
Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)
Classificação Indicativa: Livre para todos os públicos
Violas de Bronze é um dos grandes discos brasileiros da excelente safra 2009. Porém, guarda uma grande diferença de todos os outros lançamentos (podem ser citados também os novos de Otto, Cidadão Instigado, Céu, Lucas Santtana, +2 e a lista continua). Siba e Roberto Corrêa criaram um clássico atemporal. O arcaísmo dos arranjos baseados nas possíveis combinações de rabeca e das violas caipira, nordestina e de cocho chocam-se com as atualíssimas sacadas poéticas de Siba, atualizando a tradição dos cantadores nordestinos, o estilo virtuoso de pontilhar a viola de Roberto e as mais modernas técnicas de gravação e mixagem utilizadas durante as breves sessões de estúdio que deram forma às canções.
Veio à luz agora, mas poderia ter sido antes, em um passado imensurável, quanto depois, em um futuro próximo. Trata-se de um projeto paralelo às carreiras de ambos os envolvidos que foi viabilizado quando a conciliação das agendas permitiu. Por esse mesmo motivo, shows são pouco frequentes, mas nos próximos dias Siba e Roberto tocam em Goiânia e em São Paulo.
Hoje, se apresentam na 15ª edição do Goiânia Noise Festival, que como o próprio nome sugere trata-se de um evento cujo foco principal é o rock e todo o barulho inerente ao gênero. Na sexta, ocuparão o palco do Auditório do Ibirapuera, local onde som e silêncio convivem em perfeita harmonia. Não há som sem o silêncio e no Ibirapuera, com sua acústica impecável, é possível ouvi-los ao mesmo tempo, um preenchendo o espaço do outro, sem conflitos, suas respectivas oscilações determinadas pelo ritmo das músicas. Todas as variáveis que tornam um espaço o exato oposto do outro dão a dimensão da universalidade de Violas de Bronze, reflexo das origens e trajetórias bastantes diferentes de Siba e Roberto Corrêa.
O pernambucano Siba partiu de um interesse adolescente pelo rock para formar o Mestre Ambrósio, banda pioneira na fusão de ritmos regionais nordestinos com a eletricidade e a urgência da música pop. Paralelamente, mergulhou de cabeça na Mata Norte a partir da descoberta do maracatu de baque solto, dedicou-se às suas práticas no convívio com os mestres da poesia oral e dos desafios até tornar-se ele próprio um mestre e junto com músicos locais formar a Fuloresta, banda que transpõe ao palco em uma linguagem própria uma versão condensada dos rituais tradicionais.
O pernambucano Siba partiu de um interesse adolescente pelo rock para formar o Mestre Ambrósio, banda pioneira na fusão de ritmos regionais nordestinos com a eletricidade e a urgência da música pop. Paralelamente, mergulhou de cabeça na Mata Norte a partir da descoberta do maracatu de baque solto, dedicou-se às suas práticas no convívio com os mestres da poesia oral e dos desafios até tornar-se ele próprio um mestre e junto com músicos locais formar a Fuloresta, banda que transpõe ao palco em uma linguagem própria uma versão condensada dos rituais tradicionais.
Nascido no extremo oeste de Minas Gerais, próximo a fronteira com Goiás, Roberto aprendeu a tocar violão em Campina Verde, sua cidade natal, até chegar em Brasília para cursar a faculdade e poder se dedicar ao violão clássico. Logo descobriu a viola e a adotou como instrumento e objeto de estudo. Escreveu o primeiro livro dedicado ao método da viola caipira em 1983. Sua obra autoral mistura o popular e o erudito em composições altamente originais. Além de músico, é pesquisador e professor.
No momento em que fazem música juntos, todas as fronteiras, sejam elas culturais, comportamentais ou imaginárias, se diluem. "Eu acho que as fronteiras estão menos rígidas atualmente, o que é regional, pop, moderno, tradicional. A gente acaba se beneficiando de um processo de quebra da rigidez entre essas fronteiras para o qual a gente também colaborou desde a década de 90. O meu trabalho vem sendo inserido nesse meio, entre as fronteiras, quebrando um pouco com cada lado. Acaba que o que possibilita a gente de estar num festival como o Goiânia Noise, que até pouco tempo era muita mais restrito, é justamente esse contexto mais abrangente. Isso é de certa forma uma colheita do que a gente trabalhou a vida inteira", afirma Siba.
"O rock é você fazer o novo, o inovador, isso é a essência do rock, é uma linguagem nova, uma linguagem livre. De certa forma, eu faço isso com o meu trabalho, o Siba faz com o dele. Nós somos criadores modernos e não estamos presos a nenhum tipo de raiz, nenhum tipo de coisa. A gente quer fazer o novo, o contemporâneo", completa Roberto ainda falando sobre a expectativa de tocar em um festival no qual à primeira vista o trabalho da dupla não se enquadra.
Nesse sentido, segundo Roberto, Violas de Bronze teria em sua essência o espírito do rock e deve ser bem recebido em Goiânia, assim como tem sido no resto do país. "A nossa grande conquista ao unir o meu trabalho com o do Siba foi fazer uma coisa diferente. Propor uma linguagem nova foi uma coisa que a gente encarou sem saber o que ia acontecer do outro lado. A gente quer dizer algo com a nossa música e a gente acha que isso aconteceu nesse trabalho", afirma.
No disco, Roberto alterna-se entre a viola caipira e a viola de cocho. Além da rabeca, Siba toca viola nordestina. Embora a tenha utilizado em poucas músicas do Mestre Ambrósio, a reaproximação de Siba com os instrumentos de cordas foi impulsionada pelo projeto. "Essa virada pra viola, pra tentar me aproximar e me tornar mais íntimo dela, tem muito a ver com a intenção de fazer esse disco, de trabalhar com Roberto. Tem muito da minha convivência com ele, do tanto que eu aprendi com ele sobre as formas de me relacionar com o instrumento, mas é um processo também muito recente essa identificação e marca pra mim um retorno, uma virada que eu já vinha tentando fazer há muito tempo, que era realmente focar um pouco mais nas cordas", afirma Siba, que também tocava guitarra nos tempos de Mestre Ambrósio. A partir do trabalho com a Fuloresta, ele praticamente abandonou os instrumentos de cordas, fosse no palco ou em estúdio.
Embora a rabeca e a viola tenham uma origem européia em comum e estejam juntas em manifestações populares brasileiras como a Folia de Reis, por exemplo, combinações como viola nordestina e viola de cocho, rabeca e viola de cocho, e viola caipira e viola nordestina são inéditas. O resultado estabelece uma ligação, e mais, uma fusão, entre duas tradições da cultura popular brasileira que normalmente não se comunicam entre si.
"Com certeza, eu acho que é um disco que dialoga muito com a tradição de viola do sudeste, do centro-oeste, está mais obviamente ligado a essa tradição por conta do peso do trabalho do Roberto. Mas ele se comunica também com o mundo da cantoria nordestina, da viola do nordeste, que é um mundo, e esse eu conheço, tradicionalmente mais fechado em si", afirma Siba, lamentando que, apesar da boa repercussão que o disco obteve na mídia impressa, dificilmente poderá contribuir para uma aproximação entre ambos os universos. "É um preço que se paga pela pouca democracia que a gente tem nos meios de comunicação. Quer dizer, a gente não tem espaço em rádio, não tem meios que promovam a produção independente do Brasil como um todo, de uma maneira mais igual, mais equilibrada, então acaba que trabalhos como esse, que poderiam dialogar de uma forma rica com vários mundos de música tradicional do país, demoram a chegar nesses lugares". Por vezes nem sequer chegam.
Justamente por aproximar dois universos distantes, não se trata de um disco fácil, daqueles que conquista o ouvinte logo à primeira audição. Violas de Bronze conduz o público a um território desconhecido, uma região imaginária. Estranho é o adjetivo que Siba costuma usar para defini-lo. "O público tem recebido o disco com a surpresa de quanto esse disco é diferente tanto para mim quanto para o Roberto. Mas, ao mesmo tempo em que as pessoas reconhecem aquilo que de alguma forma elas gostavam de ver no trabalho de cada um, o público do Roberto me descobre e o meu público descobre o Roberto também", diz Siba.
Violas de Bronze é o resultado de um convívio musical que vinha sendo frequente nos últimos três anos. Vem daí a intimidade e a dinâmica que Siba e Roberto mostram no palco, a ponto de dispensarem ensaios. "Como é somente uma dupla, acaba que a gente vai criando caminhos de comunicação que não dependem do formato do disco. A gente demora um pouco pra se ver, mas quando se vê já tem um jeito de processar a coisa no palco" explica Siba.
O show é estruturado a partir das canções do disco, mas, uma vez no palco, a intenção não é reproduzi-las fielmente. "As músicas ao vivo não estão exatamente como no disco, sempre tem um errinho que vira acerto, sempre tem um improviso qualquer na hora", revela Siba. Completam o repertório uma ou outra canção dos repertórios particulares de cada um, como "Vale do Jucá" e "Siriema" (no vídeo abaixo).
Como se trata de um trabalho recente cujas apresentações são programadas entre os intervalos de seus compromissos prioritários, Siba e Roberto fazem de cada encontro uma celebração musical. "A gente definitivamente não está cansado disso, ao contrário, cada música que a gente faz no show é uma experiência nova, como se a gente entrasse pela primeira vez naquele universo. A gente sabe exatamente o que fazer, mas em cada música pode acontecer qualquer coisa", finaliza Roberto.
Goiânia Noise Festival - Palco Centro Cultural Goiânia Ouro
Endereço: Rua 03, esquina com Rua 09, nº 1016, Galeria Ouro, Centro
Dia: Quinta, 26 de Novembro de 2009
Horários: 22h
Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: Grátis (retirada de ingresso duas horas antes no local)
Classificação Indicativa: ?
Auditório do Ibirapuera
Endereço: Parque do Ibirapuera, entrada pela rua Pedro Álvares Cabral
Dia: Sexta, 27 de Novembro de 2009
Horários: 21h
Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)
Classificação Indicativa: Livre para todos os públicos
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Besouro: quando a trilha sonora é melhor que o filme
Atualmente em cartaz em um cinema perto de você, morador das capitais brasileiras, Besouro não é aquele tipo de filme cujo desgostar pode ser camuflado com elogios à fotografia, ao elenco, à direção de arte, à edição ou mesmo aos efeitos especiais, dignos de nota em se tratando de cinema brasileiro. Talvez os belos cenários do Recôncavo Baiano e da Chapada Diamantina sirvam como ponto de fuga, mas nada é capaz de maquiar a fragilidade do roteiro da estreia em longa-metragens do diretor de publicidade João Daniel Tikhomiroff.
Embora o mito de Besouro e a capoeira constituam temas próprios a uma boa história, a narrativa se estabelece num vácuo entre a fábula e uma suposta realidade histórica sem convencer nem numa chave nem noutra. Os personagens arquetípicos - mocinhos(as) e vilões planos planos, sem nuances, com exceção de Quero-quero (Anderson Santos de Jesus) - transitam em situações óbvias.
No que se pretende "real", os negros recém-alforriados submetidos a condições de trabalho degradantes e privados de se manifestarem livremente, com proibições à prática da capoeira e, embora não seja mencionado no filme, também de exercerem seus rituais religiosos, depositam toda confiança numa possível redenção através do capoeirista Besouro (Ailton Carmo). Um triângulo amoroso entre o personagem principal, Quero-quero e Dinorá (Jéssica Barbosa) adiciona o elemento romance à trama, que não poderia faltar no repertório de clichês da roteirista Patricia Andrade (de "Dois Filhos de Francisco").
Besouro e sua amada
Pior é a representação das entidades do candomblé que compõem o terreno fabular. Além de nada acrescentarem à história com seus visuais estilizados - são meros guardiões de Besouro que, no entanto, não conseguem evitar o final trágico do capoeirista em sua luta do bem contra o mal -, banalizam as tradições religiosas afro-brasileiras, simplificando-as rasteiramente.
Exu estilizado
Os jogos de capoeira são poucos, mas muito bem coreografados por Hiuen Chiu Ku, o mesmo coordenador de cenas de ação dos hollywoodianos Matrix e Kill Bill. O desfecho em loop primeiro oferece uma versão com final feliz, mas em seguida opta pela tragédia seguida de esperança. Esperança esta de que o possível sucesso do filme resulte em uma continuação. A cena final, totalmente desprovida de sentido e fora de contexto, se presta única e exclusivamente para tal fim. O filho de Besouro assume a alcunha de seu pai e encara o temporariamente vitorioso coronel. As chances de um Besouro 2 são palpáveis. Em duas semanas de exibição, foi visto por 240 mil pessoas, de acordo com o blog da produção, um número bom para produções nacionais.
Mas por que razão um filme de qualidade estética duvidosa mereceria menção em um blog musical? Por causa da trilha sonora, obviamente. Besouro tem direção musical de Rica Amabis, membro do coletivo paulista Instituto. Se o filme não vai ficar na história, a sua trilha sonora já pode ser considerada clássica. Se coloca ao lado das de Baile Perfumado, Amarelo Manga, O Invasor, Árido Movie e Deserto Feliz. Exceto a do filme Beto Brant, assinada pelo Instituto, todas as outras vêm da cena cinematográfico-musical de Recife, reunindo bandas como Mestre Ambrósio, mundo livre s/a, Nação Zumbi - com e sem Chico Science - Eddie e os cantores e compositores Otto e Junio Barreto.
A trilha de Besouro reúne quase todos eles. Já no começo do filme, os cânticos das rodas de capoeira são entoados ora por Junio, ora por Otto. A trilha incidental tem temas compostos pelo próprio Rica em parceria com Pupillo e Tejo Damasceno, outros por Naná Vasconcelos e a canção tema do personagem principal, "Besouro - Cordão de Ouro", é da Nação Zumbi.
Não bastasse isso, "Besouro", a música tema do filme, promoveu o reencontro da Nação com Gilberto Gil treze anos depois de o músico baiano juntar-se à banda durante as gravações de Afrociberdelia para colocar voz em "Macô". Novamente ele canta sobre a base sonora da Nação dando mostras de que lhe caberia muito bem uma renovação nos moldes daquela engendrada pelo seu parceiro tropicalista de primeira hora, juntando-se a músicos mais jovens para renovar se não a sua música, a sua sonoridade. Porém, somente aqueles que permanecem no cinema quando os créditos finais já correm avançados por sobre a tela negra são brindados com o verdadeiro climax de Besouro. O melhor momento do filme dispensa imagens.
Abaixo, Gil coloca a voz na faixa em seu estúdio no Rio. Pena que o áudio esteja saturado.
Embora o mito de Besouro e a capoeira constituam temas próprios a uma boa história, a narrativa se estabelece num vácuo entre a fábula e uma suposta realidade histórica sem convencer nem numa chave nem noutra. Os personagens arquetípicos - mocinhos(as) e vilões planos planos, sem nuances, com exceção de Quero-quero (Anderson Santos de Jesus) - transitam em situações óbvias.
No que se pretende "real", os negros recém-alforriados submetidos a condições de trabalho degradantes e privados de se manifestarem livremente, com proibições à prática da capoeira e, embora não seja mencionado no filme, também de exercerem seus rituais religiosos, depositam toda confiança numa possível redenção através do capoeirista Besouro (Ailton Carmo). Um triângulo amoroso entre o personagem principal, Quero-quero e Dinorá (Jéssica Barbosa) adiciona o elemento romance à trama, que não poderia faltar no repertório de clichês da roteirista Patricia Andrade (de "Dois Filhos de Francisco").
Besouro e sua amada
Pior é a representação das entidades do candomblé que compõem o terreno fabular. Além de nada acrescentarem à história com seus visuais estilizados - são meros guardiões de Besouro que, no entanto, não conseguem evitar o final trágico do capoeirista em sua luta do bem contra o mal -, banalizam as tradições religiosas afro-brasileiras, simplificando-as rasteiramente.
Exu estilizado
Os jogos de capoeira são poucos, mas muito bem coreografados por Hiuen Chiu Ku, o mesmo coordenador de cenas de ação dos hollywoodianos Matrix e Kill Bill. O desfecho em loop primeiro oferece uma versão com final feliz, mas em seguida opta pela tragédia seguida de esperança. Esperança esta de que o possível sucesso do filme resulte em uma continuação. A cena final, totalmente desprovida de sentido e fora de contexto, se presta única e exclusivamente para tal fim. O filho de Besouro assume a alcunha de seu pai e encara o temporariamente vitorioso coronel. As chances de um Besouro 2 são palpáveis. Em duas semanas de exibição, foi visto por 240 mil pessoas, de acordo com o blog da produção, um número bom para produções nacionais.
Mas por que razão um filme de qualidade estética duvidosa mereceria menção em um blog musical? Por causa da trilha sonora, obviamente. Besouro tem direção musical de Rica Amabis, membro do coletivo paulista Instituto. Se o filme não vai ficar na história, a sua trilha sonora já pode ser considerada clássica. Se coloca ao lado das de Baile Perfumado, Amarelo Manga, O Invasor, Árido Movie e Deserto Feliz. Exceto a do filme Beto Brant, assinada pelo Instituto, todas as outras vêm da cena cinematográfico-musical de Recife, reunindo bandas como Mestre Ambrósio, mundo livre s/a, Nação Zumbi - com e sem Chico Science - Eddie e os cantores e compositores Otto e Junio Barreto.
A trilha de Besouro reúne quase todos eles. Já no começo do filme, os cânticos das rodas de capoeira são entoados ora por Junio, ora por Otto. A trilha incidental tem temas compostos pelo próprio Rica em parceria com Pupillo e Tejo Damasceno, outros por Naná Vasconcelos e a canção tema do personagem principal, "Besouro - Cordão de Ouro", é da Nação Zumbi.
Não bastasse isso, "Besouro", a música tema do filme, promoveu o reencontro da Nação com Gilberto Gil treze anos depois de o músico baiano juntar-se à banda durante as gravações de Afrociberdelia para colocar voz em "Macô". Novamente ele canta sobre a base sonora da Nação dando mostras de que lhe caberia muito bem uma renovação nos moldes daquela engendrada pelo seu parceiro tropicalista de primeira hora, juntando-se a músicos mais jovens para renovar se não a sua música, a sua sonoridade. Porém, somente aqueles que permanecem no cinema quando os créditos finais já correm avançados por sobre a tela negra são brindados com o verdadeiro climax de Besouro. O melhor momento do filme dispensa imagens.
Abaixo, Gil coloca a voz na faixa em seu estúdio no Rio. Pena que o áudio esteja saturado.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Rodrigo Amarante faz a América na banda de Devendra Banhart
Com suas duas bandas em recesso - o Los Hermanos por tempo indeterminado e o Little Joy por força das circunstâncias que obrigam Fabrizio Moretti a se dedicar aos Strokes -, o ruivo segue sua carreira internacional, agora como membro da banda de Devendra Banhart, tocando guitarra. O músico que lhe abriu as portas da América, ao convidá-lo a participar das gravações de Smokey Rolls Down Thunder Canyon, em 2007, acaba de lançar What Will We Be e está com a agenda de shows cheia.
Em abril, Devendra e banda tocaram em um dos palcos alternativos do festival de Coachella, na California, e desde então vêm se apresentando no Estados Unidos, onde permanecem divulgando o novo disco até o fim de novembro. Em seguida, seguem para a Europa.
What Will We Be, cuja capa é esta aí em cima, também conta com a colaboração de Amarante. São claros os ecos do Little Joy, com seus temas ensolarados e saudosistas, já o Los Hermanos parece estar mesmo relegado ao limbo.
Abaixo, alguns momentos de Devendra e Amarante juntos no palco.
No Coachella, Amarante e sua camiseta estampada com o rosto do poeta Paulo Leminski.
Tocando "Baby", do disco novo (nada a ver com a canção de Caetano Veloso, referência fundamental de Devendra, como o próprio já declarou várias vezes).
Amarante ataca de percussionista lembrando dos tempos de Orquestra Imperial.
Nas ruas de San Diego.
Em abril, Devendra e banda tocaram em um dos palcos alternativos do festival de Coachella, na California, e desde então vêm se apresentando no Estados Unidos, onde permanecem divulgando o novo disco até o fim de novembro. Em seguida, seguem para a Europa.
What Will We Be, cuja capa é esta aí em cima, também conta com a colaboração de Amarante. São claros os ecos do Little Joy, com seus temas ensolarados e saudosistas, já o Los Hermanos parece estar mesmo relegado ao limbo.
Abaixo, alguns momentos de Devendra e Amarante juntos no palco.
No Coachella, Amarante e sua camiseta estampada com o rosto do poeta Paulo Leminski.
Tocando "Baby", do disco novo (nada a ver com a canção de Caetano Veloso, referência fundamental de Devendra, como o próprio já declarou várias vezes).
Amarante ataca de percussionista lembrando dos tempos de Orquestra Imperial.
Nas ruas de San Diego.
sábado, 14 de novembro de 2009
Kassin e o presente pós-Futurismo
Leandro de Nardi, correspondente eventual aqui do blog na capital gaúcha, foi conferir a estreia portoalegrense de Kassin, agora sem o aposto +2. Abaixo, as suas considerações em texto e o registro em imagens.
Kassins
Estreia em Porto Alegre a nova banda de Kassin
por Leandro de Nardi (com edição e colaboração de Pindzim)
Vídeo: Lucieli Galho
Kassin+3 ou seria Kassinx3? A equação matemática pouco importa. Kassin nunca é um só. É múltiplo. Há aquele do Futurismo, o do Game Boy, o produtor e o Alexandre, nome de batismo que poucos conhecem, eterno e legítimo.
De Futurismo, tocaram "Tranquilo", "Esquecido", "Quando Nara ri", "Simbiótico", "Mensagem" (dedicada ao inseparável parceiro Domênico), "Homem ao Mar", "Pra Lembrar", "Ponto Final", "O Seu Lugar" e"Água", a melhor de todas, que Caetano Veloso pegou emprestada para os shows da turnê do disco Zii e Zie.
Entre suspiros, freqüentes nas novas músicas, talvez decorrentes do prazer provocado pelos novos horizontes e consequente sensação de liberdade, Kassin aparenta estar em seu melhor momento. Compensa sua timidez com uma fina ironia nas manifestações à plateia e nas letras de suas músicas. Misturadas aos acordes da banda e à sutileza de seu timbre vocal por vezes desafinado, são diversão garantida. O deleite musical vem intercalado com gargalhadas do público ligado em suas composições, digamos, inteligentes. Este é o adjetivo que vem à cabeça vendo-o no palco com seus óculos de lentes grossas e sua aparência estranha, próprias antes a um cientista maluco, o que ele não deixa de ser, do que propriamente a um músico.
Para um publico talvez um pouco surpreso, desacostumado que está às novidades da cena independente que vem de fora (de suas fronteiras regionais) e de dentro (do Brasil grande) - olha que este ano Little Joy, Céu e agora Kassin, fizeram a estréia nacional de seus novos trabalhos na capital gaúcha -, além de um tanto resistente a elas, a cidade até que não está tão mal.
Kassins
Estreia em Porto Alegre a nova banda de Kassin
por Leandro de Nardi (com edição e colaboração de Pindzim)
Vídeo: Lucieli Galho
Kassin+3 ou seria Kassinx3? A equação matemática pouco importa. Kassin nunca é um só. É múltiplo. Há aquele do Futurismo, o do Game Boy, o produtor e o Alexandre, nome de batismo que poucos conhecem, eterno e legítimo.
O show apresentado em Porto Alegre, no projeto Unimúsica, da UFRGS, deu provas de sua capacidade musical. Numa apresentação consistente apesar de se tratar de uma estreia, com mais de hora de duração, o multi-homem, instrumentista, compositor e produtor promove uma simbiose sonora, não só dos vários Kassins que coabitam dentro de si, mas também dos integrantes de sua nem tão nova, mas sempre competente banda. Domenico contribui com seus ritmos contagiantes; Donatinho evoca a elegância do pai João Donato ao teclado; e Alberto Continentino toca um baixo que só o próprio Kassin poderia tocar, caso não estivesse divertidamente ocupado com a sua guitarra.
O show visita o passado de Futurismo e desenha o futuro em tempo real. Já na abertura, "Azul", em tom celeste intimista, sente-se a densidade rítmica da guitarra de Kassin conduz um passeio pela poesia caótica da zona sul carioca.
De Futurismo, tocaram "Tranquilo", "Esquecido", "Quando Nara ri", "Simbiótico", "Mensagem" (dedicada ao inseparável parceiro Domênico), "Homem ao Mar", "Pra Lembrar", "Ponto Final", "O Seu Lugar" e"Água", a melhor de todas, que Caetano Veloso pegou emprestada para os shows da turnê do disco Zii e Zie.
Entre suspiros, freqüentes nas novas músicas, talvez decorrentes do prazer provocado pelos novos horizontes e consequente sensação de liberdade, Kassin aparenta estar em seu melhor momento. Compensa sua timidez com uma fina ironia nas manifestações à plateia e nas letras de suas músicas. Misturadas aos acordes da banda e à sutileza de seu timbre vocal por vezes desafinado, são diversão garantida. O deleite musical vem intercalado com gargalhadas do público ligado em suas composições, digamos, inteligentes. Este é o adjetivo que vem à cabeça vendo-o no palco com seus óculos de lentes grossas e sua aparência estranha, próprias antes a um cientista maluco, o que ele não deixa de ser, do que propriamente a um músico.
Em "Lua do Sol", música nova composta com Jon Fell, baixista da banda inglesa The High Llamas, Kassin questiona em forma de verso: “…será que somos um satélite ou uma lua no sol?” A resposta depende do Kassin que há em cada um de nós. Foram incluídas no repertório as antigas "Stricnina" e "O Que Você Quiser", ambas gravadas por Toni Platão no álbum Calígula Freejack (2000). Entre as novíssimas, as bem humoradas "Calça de Ginástica" e "Potássio", em que exalta as propriedades nutritivas de bananas e tomates. Se "Futurismo" tinha um sotaque caribenho, com climas etéreos e sabores tropicais, as novas composições apontam para uma sonoridade oitentista, com bateria e teclados impondo um ritmo mais acelerado, e letras que evocam paisagens urbanas.
Para um publico talvez um pouco surpreso, desacostumado que está às novidades da cena independente que vem de fora (de suas fronteiras regionais) e de dentro (do Brasil grande) - olha que este ano Little Joy, Céu e agora Kassin, fizeram a estréia nacional de seus novos trabalhos na capital gaúcha -, além de um tanto resistente a elas, a cidade até que não está tão mal.
E já que a frase anterior remete a Chico Science, vale continuar com ele: "a cidade não pára, a cidade só cresce" e nós, gaúchos, argüimos que a nova música brasileira só cresce, não dando o menor sinal de parada. Se abrindo aos poucos, Porto Alegre tem o privilégio de acompanhar e ir compreendendo este movimento. Não é difícil de se acostumar ao que é bom.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Blecaute frustra Blind Date de Dolores e Naná
Há sete anos atrás, DJ Dolores (na foto ao lado) lançou o disco Contraditório e criou um novo significado para a expressão 'disc jockey' no âmbito da música brasileira. Não foi uma empreitada solitária. O resultado daquela que pode ser considerada a sua obra prima foi alcançado com o apoio da Orquestra Santa Massa, um conjunto de instrumentistas também compositores que vêm inscrevendo seu nome na história a partir do movimento mangue-bit. Entre eles, havia um percussionista à época intitulado Mr Jam, hoje conhecido por Jam da Silva.
Lembro disso, porque na última terça-feira, no Rio, DJ Dolores subiu ao palco com "O" monstro sagrado da percussão brasileira - Naná Vasconcelos (na foto ao lado) - em um show-espetáculo intitulado Blind Date, em edição especial do Multiplicidade, evento em que Jam da Silva se apresentara há duas semanas atrás. A proposta da dupla era fazer um som improvisado a partir dos beats disparados pelo DJ. O seguiam na jam uma banda com quatro músicos, tocando sax, trombone, baixo e percussão e Naná.
A sessão mal começara e ia se arrastando monotonamente, apesar da altura absurda do som, cujos graves faziam reverberar a estrutura do teatro. À repetição da batida, os músicos iam reproduzindo as mesmas frases instrumentais enquanto, no canto do palco, Naná, inexplicavelmente, reduzia sua participação a gritos guturais reprocessados por um pedal e a toques esporádicos em sua árvore de tamborins - uma estrutura vertical em que duas sequências de cinco tamborins podem ser tocadas sincronicamente a partir de um único movimento.
Menos de meia-hora havia se passado quando o encontro às cegas virou um encontro às escuras. Mas não só, pois a queda de energia emudeceu instrumentos e o computador de Dolores, sua central de beats e programações. No aguardo da restauração da luz, Naná se beneficiou de sua fama e exercitou sua porção 'entertainer', que, hoje em dia, parece mais afiada do que a sua porção musical. E a plateia que tinha ido lá para vê-lo tocar, tornou-se o instrumento de Naná. Regendo a multidão, iludiu a todos induzindo-os a pensar que estavam fazendo música. Mas não importava, a grande maioria parecia finalmente se divertir, o que não tinha acontecido durante o espetáculo propriamente dito.
Encerrada a pantomima, se recolheu, mas foi incitado a continuar. Resmungou, mas acabou cedendo quando lhe entregaram um berimbau. Sem muita inspiração, aceitou a condição de salvar a noite. Quando o enfado novamente tomava conta do público, a esta altura já ciente da extensão e da gravidade do apagão, convocou os músicos da banda a se juntarem a ele. Puxou um frevo e todos voltaram a se animar. Dolores atacou de agogô, mas ficou claro que sua intimidade com instrumentos orgânicos não chega nem perto de sua habilidade em manipulá-los eletronicamente. "Cidade Maravilhosa" veio em seguida, mas aí a ironia ultrapassou todos os limites do bom senso e da minha paciência. Não fiquei para ver o resto.
Do encontro de dois grandes nomes da música brasileira, de gerações diferentes, o saldo é quase vexatório. O pouco que se viu já permitiu um vislumbre do todo. Dolores retrocedeu ao passado de Contraditório, apesar dos eflúvios eletrônico-jazzísticos evocados pela combinação de seus ritmos com a banda ao seu redor. Sua proposta para a Blind Date caberia muito bem em uma pista de dança, onde Naná seria totalmente dispensável, mas no palco de um teatro soa apenas maçante.
E é aí que cabe a lembrança do primeiro parágrafo. No universo da percussão brasileira que extrapola as fronteiras do convencional deve-se ouvir Jam da Silva (na foto acima). Nas suas mãos, o berimbau soa como guitarra, é harmônico e melódico a um só tempo; os ritmos guiam as melodias; a voz é instrumento delicado e a percussão não tem um fim em si mesma, não prescinde dos demais instrumentos. Jam faz música.
Lembro disso, porque na última terça-feira, no Rio, DJ Dolores subiu ao palco com "O" monstro sagrado da percussão brasileira - Naná Vasconcelos (na foto ao lado) - em um show-espetáculo intitulado Blind Date, em edição especial do Multiplicidade, evento em que Jam da Silva se apresentara há duas semanas atrás. A proposta da dupla era fazer um som improvisado a partir dos beats disparados pelo DJ. O seguiam na jam uma banda com quatro músicos, tocando sax, trombone, baixo e percussão e Naná.
A sessão mal começara e ia se arrastando monotonamente, apesar da altura absurda do som, cujos graves faziam reverberar a estrutura do teatro. À repetição da batida, os músicos iam reproduzindo as mesmas frases instrumentais enquanto, no canto do palco, Naná, inexplicavelmente, reduzia sua participação a gritos guturais reprocessados por um pedal e a toques esporádicos em sua árvore de tamborins - uma estrutura vertical em que duas sequências de cinco tamborins podem ser tocadas sincronicamente a partir de um único movimento.
Menos de meia-hora havia se passado quando o encontro às cegas virou um encontro às escuras. Mas não só, pois a queda de energia emudeceu instrumentos e o computador de Dolores, sua central de beats e programações. No aguardo da restauração da luz, Naná se beneficiou de sua fama e exercitou sua porção 'entertainer', que, hoje em dia, parece mais afiada do que a sua porção musical. E a plateia que tinha ido lá para vê-lo tocar, tornou-se o instrumento de Naná. Regendo a multidão, iludiu a todos induzindo-os a pensar que estavam fazendo música. Mas não importava, a grande maioria parecia finalmente se divertir, o que não tinha acontecido durante o espetáculo propriamente dito.
Encerrada a pantomima, se recolheu, mas foi incitado a continuar. Resmungou, mas acabou cedendo quando lhe entregaram um berimbau. Sem muita inspiração, aceitou a condição de salvar a noite. Quando o enfado novamente tomava conta do público, a esta altura já ciente da extensão e da gravidade do apagão, convocou os músicos da banda a se juntarem a ele. Puxou um frevo e todos voltaram a se animar. Dolores atacou de agogô, mas ficou claro que sua intimidade com instrumentos orgânicos não chega nem perto de sua habilidade em manipulá-los eletronicamente. "Cidade Maravilhosa" veio em seguida, mas aí a ironia ultrapassou todos os limites do bom senso e da minha paciência. Não fiquei para ver o resto.
Do encontro de dois grandes nomes da música brasileira, de gerações diferentes, o saldo é quase vexatório. O pouco que se viu já permitiu um vislumbre do todo. Dolores retrocedeu ao passado de Contraditório, apesar dos eflúvios eletrônico-jazzísticos evocados pela combinação de seus ritmos com a banda ao seu redor. Sua proposta para a Blind Date caberia muito bem em uma pista de dança, onde Naná seria totalmente dispensável, mas no palco de um teatro soa apenas maçante.
Naná, por sua vez, há tempos assume-se como simulacro do gênio que um dia foi e em algum momento se acomodou e adormeceu. Hoje, seu som é apenas barulho, muitas vezes desagradável.
E é aí que cabe a lembrança do primeiro parágrafo. No universo da percussão brasileira que extrapola as fronteiras do convencional deve-se ouvir Jam da Silva (na foto acima). Nas suas mãos, o berimbau soa como guitarra, é harmônico e melódico a um só tempo; os ritmos guiam as melodias; a voz é instrumento delicado e a percussão não tem um fim em si mesma, não prescinde dos demais instrumentos. Jam faz música.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Da Lama ao Caos: reprodução literal 15 anos depois
"Modernizar o passado é uma evolução musical" cantava discursando Chico Science, em 1994, nos primeiros versos do hoje clássico Da Lama ao Caos, cujos 15 anos de lançamento têm sido comemorados com shows em que o álbum é reproduzido de cabo a rabo, quase sempre com a participação de convidados especiais. Porém, no palco, o ditame de Chico é ignorado. Reproduzir não é mordenizar.
Talvez porque a modernização já tenha sido levada à cabo nas comemorações de 10 anos do movimento, quando todos os integrantes da Nação e do mundo livre s/a, a outra banda seminal do movimento, se reuniram para fazer algumas apresentações sob a alcunha de Orquestra Manguefônica. Na ocasião, fizeram releituras inspiradas e nada reverentes de músicas de Da Lama ao Caos e de Samba Esquema Noise. Com certeza, um dos melhores shows já vistos em palcos brasileiros.
Na última sexta no Rio, com as memórias da Orquestra Manguefônica reverberando na mente, fui ao Circo Voador conferir o show da atual efeméride, ainda mais que o convidado era Fred Zeroquatro. Adicionou seu cavaquinho e fez duetos com Jorge du Peixe em algumas músicas, a bateria de Pupillo, que não fazia parte da banda na época, inseriu mais agressividade e intensidade às versões, mas nada que se possa chamar de novidade, afinal, muitas daquelas músicas fazem parte do repertório usual da Nação. Tratou-se de apenas mais um show, o que, em se tratando de Nação Zumbi, nunca é pouco, mas o show de lançamento de Fome de Tudo, no mesmo Circo, há pouco tempo atrás, foi muito melhor.
Talvez porque a modernização já tenha sido levada à cabo nas comemorações de 10 anos do movimento, quando todos os integrantes da Nação e do mundo livre s/a, a outra banda seminal do movimento, se reuniram para fazer algumas apresentações sob a alcunha de Orquestra Manguefônica. Na ocasião, fizeram releituras inspiradas e nada reverentes de músicas de Da Lama ao Caos e de Samba Esquema Noise. Com certeza, um dos melhores shows já vistos em palcos brasileiros.
Na última sexta no Rio, com as memórias da Orquestra Manguefônica reverberando na mente, fui ao Circo Voador conferir o show da atual efeméride, ainda mais que o convidado era Fred Zeroquatro. Adicionou seu cavaquinho e fez duetos com Jorge du Peixe em algumas músicas, a bateria de Pupillo, que não fazia parte da banda na época, inseriu mais agressividade e intensidade às versões, mas nada que se possa chamar de novidade, afinal, muitas daquelas músicas fazem parte do repertório usual da Nação. Tratou-se de apenas mais um show, o que, em se tratando de Nação Zumbi, nunca é pouco, mas o show de lançamento de Fome de Tudo, no mesmo Circo, há pouco tempo atrás, foi muito melhor.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Mariana Aydar e os caminhos a seguir
Pensara em ir ao Canecão assistir à estreia carioca do show de Peixes Pássaros Pessoas no início de outubro. Tinha curiosidade de ouvir as novas canções ao vivo, mas a imponência da casa acabou por me afastar. Preferi esperar por uma outra apresentação em local mais apropriado, condizente com o clima e com o 'tamanho' da cantora - nos palcos do Rio Mariana Aydar ainda dá seus primeiros passos.
Aconteceu ontem. Assisti à segunda sessão de Mariana no projeto Pode Apostar, do Centro Cultural Banco do Brasil, série de shows que está sendo realizada também em São Paulo e Brasília. E a mesma notória evolução alcançada no segundo disco em relação ao primeiro se repete, agora, no palco. Aquela cantora que se apresentou pela primeira vez no Rio no Centro Cultural Carioca, em março de 2007, tinha um repertório baseado em clássicos do passado, eminentemente sambas e alguns forrós, e uma banda arregimentada para reproduzi-los respeitosamente.
A escolha de "Minha Missão" - eterna na voz de Clara Nunes - para começar o show, com cavaquinho e violão de 7 cordas, em uma interpretação correta, porém fria, transmitia uma sensação de deja vu. Revelou-se apenas uma escolha equivocada. A única da noite, pois logo em seguida, na execução de "Tá?", uma das melhores do novo disco, o cavaquinho é trocado pela guitarra, o 7 cordas pelo baixo e o teclado de Lucas Vargas faz ribombar seus graves distorcidos, abrindo caminho para uma outra Mariana tomar a cena. Mais segura e incisiva, apesar de alguns altos e baixos. E baixos aqui não devem ser entendidos como maus momentos, mas sim como sintomas de uma certa instabilidade, variando entre a catarse e a retração.
Para os fãs que lotavam o teatro, talvez a oscilação da intérprete no palco tenha passado desapercebida, mas durante "Zé do Caroço" e o número que se seguiu, ela acabou se evidenciando. Depois de cantadas as primeiras estrofes, surge a voz de Leci Brandão. Seria uma base pré-gravada? Não, era uma surpresa guardada na coxia, de onde surgiu a sambista vestindo um traje de azul esfuziante, entoando os versos políticos de sua canção com extensa potência vocal. Tantas vezes apresentado, o dueto fluiu bonito e harmonioso. Seguiu-se um discurso de agradecimento, Leci tecendo loas à sua afilhada por tê-la feito tocar nas rádios do Rio pela primeira vez em mais de trinta anos de carreira. Até então, jamais tivera espaço, afirmou a madrinha, há tempo radicada em São Paulo.
A canção seguinte, "Deixa, Deixa" - não confundir com "Deixa", de Ivan Lins, redescoberta a partir do sample de Marcelo D2 na sua "Desabafo" -, outra do repertório de Leci, não saiu tão redonda. Leci brilhou, atraindo as atenções para si no centro do palco, enquanto Mariana, reverente e também tímida, fazia o contracanto do hino liberal, que há trinta anos atrás já advogava a liberdade como antídoto contra a violência. Qualquer um pode beber, fumar, discursar, enfim, fazer o que bem quiser, defende, até a seguinte conclusão: "é melhor do que ele sacar de uma arma para nos matar". Nesse momento, nota-se que, para Mariana, assim como para a maioria de suas contemporâneas, o palco ainda não é um espaço no qual elas se sintam totalmente confortáveis.
No caso de Mariana é também uma questão de repertório. Ela se sai melhor quando investe nas canções de Peixes Pássaros Pessoas, e ganha ainda mais quando o samba fica um pouco de lado, o que, conscientemente ou não, aconteceu no CCBB. "Beleza", "Peixes", "Nada Disso é pra Você" e "Aqui em Casa", além de "Tá?", foram as melhores da noite.
Porém, como ela revelou ao público, o samba a persegue desde os tempos da escola primária, quando ela e outros colegas eram obrigadas pelo motorista da kombi escolar a ouvir diariamente um programa dedicado aos bambas, ao invés das rádios jovens com seus sucessos efêmeros. Mariana faz bem em entregar-se a essa perseguição quando canta os sambas contemporâneos de Duani - "Florindo", por exemplo, embora "Manhã Azul", aquele que considero o mais belo do disco tenha sobrado, apesar de pedidos da plateia. Nem tanto quando resgata canções da memória do seus tempos de menina, como "Te Gosto", do Fundo de Quintal.
Depois que Leci vai embora, abre-se um vazio em cena. Por isso mesmo, o público praticamente exige a volta de Leci para o bis e o que poderia se tornar uma perseguição um tanto exagerada do samba, revelou-se a deixa para uma vingança divertida. "Zé do Caroço" caiu no funk e virou um batidão comandado pelas MC's Leci e Mariana, com adornos de guitarra e cavaquinho, apontando para outros possíveis - e por que não inusitados? - caminhos a serem seguidos.
Aconteceu ontem. Assisti à segunda sessão de Mariana no projeto Pode Apostar, do Centro Cultural Banco do Brasil, série de shows que está sendo realizada também em São Paulo e Brasília. E a mesma notória evolução alcançada no segundo disco em relação ao primeiro se repete, agora, no palco. Aquela cantora que se apresentou pela primeira vez no Rio no Centro Cultural Carioca, em março de 2007, tinha um repertório baseado em clássicos do passado, eminentemente sambas e alguns forrós, e uma banda arregimentada para reproduzi-los respeitosamente.
A escolha de "Minha Missão" - eterna na voz de Clara Nunes - para começar o show, com cavaquinho e violão de 7 cordas, em uma interpretação correta, porém fria, transmitia uma sensação de deja vu. Revelou-se apenas uma escolha equivocada. A única da noite, pois logo em seguida, na execução de "Tá?", uma das melhores do novo disco, o cavaquinho é trocado pela guitarra, o 7 cordas pelo baixo e o teclado de Lucas Vargas faz ribombar seus graves distorcidos, abrindo caminho para uma outra Mariana tomar a cena. Mais segura e incisiva, apesar de alguns altos e baixos. E baixos aqui não devem ser entendidos como maus momentos, mas sim como sintomas de uma certa instabilidade, variando entre a catarse e a retração.
Para os fãs que lotavam o teatro, talvez a oscilação da intérprete no palco tenha passado desapercebida, mas durante "Zé do Caroço" e o número que se seguiu, ela acabou se evidenciando. Depois de cantadas as primeiras estrofes, surge a voz de Leci Brandão. Seria uma base pré-gravada? Não, era uma surpresa guardada na coxia, de onde surgiu a sambista vestindo um traje de azul esfuziante, entoando os versos políticos de sua canção com extensa potência vocal. Tantas vezes apresentado, o dueto fluiu bonito e harmonioso. Seguiu-se um discurso de agradecimento, Leci tecendo loas à sua afilhada por tê-la feito tocar nas rádios do Rio pela primeira vez em mais de trinta anos de carreira. Até então, jamais tivera espaço, afirmou a madrinha, há tempo radicada em São Paulo.
A canção seguinte, "Deixa, Deixa" - não confundir com "Deixa", de Ivan Lins, redescoberta a partir do sample de Marcelo D2 na sua "Desabafo" -, outra do repertório de Leci, não saiu tão redonda. Leci brilhou, atraindo as atenções para si no centro do palco, enquanto Mariana, reverente e também tímida, fazia o contracanto do hino liberal, que há trinta anos atrás já advogava a liberdade como antídoto contra a violência. Qualquer um pode beber, fumar, discursar, enfim, fazer o que bem quiser, defende, até a seguinte conclusão: "é melhor do que ele sacar de uma arma para nos matar". Nesse momento, nota-se que, para Mariana, assim como para a maioria de suas contemporâneas, o palco ainda não é um espaço no qual elas se sintam totalmente confortáveis.
No caso de Mariana é também uma questão de repertório. Ela se sai melhor quando investe nas canções de Peixes Pássaros Pessoas, e ganha ainda mais quando o samba fica um pouco de lado, o que, conscientemente ou não, aconteceu no CCBB. "Beleza", "Peixes", "Nada Disso é pra Você" e "Aqui em Casa", além de "Tá?", foram as melhores da noite.
Porém, como ela revelou ao público, o samba a persegue desde os tempos da escola primária, quando ela e outros colegas eram obrigadas pelo motorista da kombi escolar a ouvir diariamente um programa dedicado aos bambas, ao invés das rádios jovens com seus sucessos efêmeros. Mariana faz bem em entregar-se a essa perseguição quando canta os sambas contemporâneos de Duani - "Florindo", por exemplo, embora "Manhã Azul", aquele que considero o mais belo do disco tenha sobrado, apesar de pedidos da plateia. Nem tanto quando resgata canções da memória do seus tempos de menina, como "Te Gosto", do Fundo de Quintal.
Depois que Leci vai embora, abre-se um vazio em cena. Por isso mesmo, o público praticamente exige a volta de Leci para o bis e o que poderia se tornar uma perseguição um tanto exagerada do samba, revelou-se a deixa para uma vingança divertida. "Zé do Caroço" caiu no funk e virou um batidão comandado pelas MC's Leci e Mariana, com adornos de guitarra e cavaquinho, apontando para outros possíveis - e por que não inusitados? - caminhos a serem seguidos.
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