Kassins
Estreia em Porto Alegre a nova banda de Kassin
por Leandro de Nardi (com edição e colaboração de Pindzim)
Vídeo: Lucieli Galho
Kassin+3 ou seria Kassinx3? A equação matemática pouco importa. Kassin nunca é um só. É múltiplo. Há aquele do Futurismo, o do Game Boy, o produtor e o Alexandre, nome de batismo que poucos conhecem, eterno e legítimo.
O show apresentado em Porto Alegre, no projeto Unimúsica, da UFRGS, deu provas de sua capacidade musical. Numa apresentação consistente apesar de se tratar de uma estreia, com mais de hora de duração, o multi-homem, instrumentista, compositor e produtor promove uma simbiose sonora, não só dos vários Kassins que coabitam dentro de si, mas também dos integrantes de sua nem tão nova, mas sempre competente banda. Domenico contribui com seus ritmos contagiantes; Donatinho evoca a elegância do pai João Donato ao teclado; e Alberto Continentino toca um baixo que só o próprio Kassin poderia tocar, caso não estivesse divertidamente ocupado com a sua guitarra.
O show visita o passado de Futurismo e desenha o futuro em tempo real. Já na abertura, "Azul", em tom celeste intimista, sente-se a densidade rítmica da guitarra de Kassin conduz um passeio pela poesia caótica da zona sul carioca.
De Futurismo, tocaram "Tranquilo", "Esquecido", "Quando Nara ri", "Simbiótico", "Mensagem" (dedicada ao inseparável parceiro Domênico), "Homem ao Mar", "Pra Lembrar", "Ponto Final", "O Seu Lugar" e"Água", a melhor de todas, que Caetano Veloso pegou emprestada para os shows da turnê do disco Zii e Zie.
Entre suspiros, freqüentes nas novas músicas, talvez decorrentes do prazer provocado pelos novos horizontes e consequente sensação de liberdade, Kassin aparenta estar em seu melhor momento. Compensa sua timidez com uma fina ironia nas manifestações à plateia e nas letras de suas músicas. Misturadas aos acordes da banda e à sutileza de seu timbre vocal por vezes desafinado, são diversão garantida. O deleite musical vem intercalado com gargalhadas do público ligado em suas composições, digamos, inteligentes. Este é o adjetivo que vem à cabeça vendo-o no palco com seus óculos de lentes grossas e sua aparência estranha, próprias antes a um cientista maluco, o que ele não deixa de ser, do que propriamente a um músico.
Em "Lua do Sol", música nova composta com Jon Fell, baixista da banda inglesa The High Llamas, Kassin questiona em forma de verso: “…será que somos um satélite ou uma lua no sol?” A resposta depende do Kassin que há em cada um de nós. Foram incluídas no repertório as antigas "Stricnina" e "O Que Você Quiser", ambas gravadas por Toni Platão no álbum Calígula Freejack (2000). Entre as novíssimas, as bem humoradas "Calça de Ginástica" e "Potássio", em que exalta as propriedades nutritivas de bananas e tomates. Se "Futurismo" tinha um sotaque caribenho, com climas etéreos e sabores tropicais, as novas composições apontam para uma sonoridade oitentista, com bateria e teclados impondo um ritmo mais acelerado, e letras que evocam paisagens urbanas.
Para um publico talvez um pouco surpreso, desacostumado que está às novidades da cena independente que vem de fora (de suas fronteiras regionais) e de dentro (do Brasil grande) - olha que este ano Little Joy, Céu e agora Kassin, fizeram a estréia nacional de seus novos trabalhos na capital gaúcha -, além de um tanto resistente a elas, a cidade até que não está tão mal.
E já que a frase anterior remete a Chico Science, vale continuar com ele: "a cidade não pára, a cidade só cresce" e nós, gaúchos, argüimos que a nova música brasileira só cresce, não dando o menor sinal de parada. Se abrindo aos poucos, Porto Alegre tem o privilégio de acompanhar e ir compreendendo este movimento. Não é difícil de se acostumar ao que é bom.
2 comentários:
Gostei do texto,Leandro!Pelo jeito,kassin é uma grande promessa para a MPB.
Ass:Andréa
Melhor show do ano... kassin é uma equação sofisticada elevada a enésima potência! Pena que mais uma vez o volume do Anfiteatro da Ufrgs estrapolou um pouco o limite da boa audição.
Abração!
Postar um comentário